Eleito seis vezes o melhor jogador do mundo pela FIFA, dono de quatro títulos da Champions League e com mais de 750 gols em 18 anos de carreira, Lionel Messi é celebrado por muitos como o melhor jogador da história. Ao menos o craque argentino já garantiu lugar no panteão que conta com nomes como Pelé e Maradona.
No entanto, o craque que emerge da biografia “Messi: o gênio completo”, do argentino Ariel Senosiain (Editora Hábito), é muito mais frágil e humano. Um jogador frustrado por expulsões injustas, reclamações contra a arbitragem, acusações contra dirigentes e treinadores, e pênaltis decisivos perdidos.
Sobretudo é a história de um argentino que recebeu o imenso peso nas costas de levar sua seleção de novo a uma conquista. E que esbarra em inúmeros fracassos ao longo dessa trajetória: a perda da Copa América de 2007 diante do Brasil, a derrota na final da Copa do Mundo de 2014 para a Alemanha, as derrotas seguidas em finais da Copa América (2015 e 2016) para o Chile, que nunca havia vencido a competição anteriormente, a eliminação para a futura campeã França no Mundial de 2018, e a queda diante do Brasil na semifinal da Copa América, no ano seguinte.
Havia entre a torcida argentina a desconfiança em relação ao craque, que desenvolveu seu futebol na Espanha, mas nunca negou sua pátria de origem. O desejo de defender a seleção argentina já era manifestado pelo garoto que dava os primeiros passos no Barcelona, ainda longe de adquirir o status de estrela global.
Já são quatro finais que perdi, três seguidas. É uma lástima. Não dá. A seleção acabou para mim.
O peso de ter que ser o líder da seleção e as comparações inevitáveis com Maradona, muitas vezes foram pesados demais para os ombros do jogador que se acostumou a enfrentar grandes desafios semanais com a camisa do Barcelona. Por isso, os contínuos fracassos do craque defendendo a seleção atingiram tão fortemente a alma do homem. Messi chegou a desistir do amor não correspondido entre ele e a camisa alviceleste.
“Já são quatro finais que perdi, três seguidas. É uma lástima. Não dá. É difícil, muito duro de analisar. O pensamento no vestiário é que já deu. A seleção acabou para mim. São quatro finais. Não é para mim. Lamentavelmente, tentei. Era o que eu mais desejava. Não deu para mim. Creio que acabou”, desabafou, após perder um pênalti na decisão da Copa América de 2016, nos Estados Unidos.
Busca pela redenção
Por isso, havia entre dirigentes da Federação Argentina de Futebol (AFA), torcida e companheiros de campo a busca por convencê-lo a voltar à seleção e o desejo de finalmente proporcionar a ele a conquista de um título.
A redenção ocorre na Copa América de 2021, disputada no Brasil, em um ambiente inóspito, ainda convalescente pelos milhares de mortos pela pandemia de Covid-19. Um torneio que originalmente era para acontecer em solo argentino, mas o governo de lá decidiu que ainda não era momento para celebrações.
Parecia que os deuses do futebol haviam escrito: a libertação seria no Estádio do Maracanã, principal palco do futebol sul-americano, diante da seleção brasileira, maior rival da Argentina, com o craque vendo os companheiros fazerem a jogada decisiva. O lançamento de De Paul encontrou Di María, companheiro de tantos anos na seleção e rosarino como Messi, que encobriu Ederson. 1 a 0. O suficiente para a conquista do título. Pela segunda vez, a seleção brasileira perdia uma final em casa, no Maracanã.
Do lado de lá do campo, um peso enorme havia sido tirado das costas de Messi. Até então, ele só havia ganhado títulos pelas categorias menores (o Mundial Sub-20 de 2005 e o ouro olímpico em Pequim 2008). Aos 34 anos, finalmente pôde erguer um troféu pela seleção adulta. Para o autor, Messi atingiu um novo status com a conquista:
O reconhecimento no Brasil como reflexo do reconhecimento em qualquer canto do mundo. Sua mente fixada na vitória. Sua constância para conseguir. O gênio se completou. Não conseguir ser o melhor jogador somente atingiu o que mais queria. A canção agora tem letra e música. O título escorregadio. Aquele que faltava a Messi. Aquele que faltava ao futebol.