Morte de Silvio Berlusconi marca fim definitivo de uma era no futebol mundial

Silvio Berlusconi foi o dirigente mais vitorioso da história do Milan - Reprodução / Twitter (@acmilan)

Ex-primeiro-ministro da Itália por três períodos que totalizaram nove anos e meio (sendo, assim, a pessoa que mais tempo permaneceu no cargo desde o fim da Segunda Guerra Mundial) e ex-dono do Milan, o empresário Silvio Berlusconi morreu, nesta segunda-feira (12), em Milão, aos 86 anos de idade, vítima de infecção pulmonar associada a uma leucemia mielomonocítica crônica.

Atualmente, ele era proprietário do Monza. Quando o adquiriu, em 2018, o clube estava na terceira divisão italiana. Nesta temporada, a primeira da equipe de volta à Serie A em 110 anos, o time da Lombardia terminou em 11º lugar na classificação geral. Nesse período, Berlusconi investiu cerca de € 50 milhões na contratação de jogadores.

A compra do Monza ocorreu dois anos depois de Berlusconi haver vendido o Milan ao grupo chinês Rossoneri Sport Investment Lux, por € 740 milhões. O magnata já não estava mais no antigo clube, mas era impossível dissociar sua imagem da equipe de Milão.

Mais do que qualquer jogador ou técnico, Berlusconi foi a personificação daquela que talvez seja a era mais vitoriosa da história do Milan. Durante os mais de 30 anos em que esteve à frente do clube, os Rossoneri chegaram a ser considerados o clube mais vencedor do mundo. Foram 29 troféus conquistados sob o comando do bilionário, sendo oito da Serie A, cinco da Champions League, três do Mundial de Clubes e sete da Supercopa da Itália.

Sua morte, justamente na época em que grandes clubes ao redor do mundo são adquiridos por empresas de investimentos, marca o fim definitivo de uma era no futebol, em que os donos de times agiam mais como mecenas e tinham nome e rosto. A tendência atual é marcada pelo predomínio de grupos internacionais, cujos investidores, em geral, não são conhecidos dos torcedores.

Mecenas

O Milan já tinha uma história de glórias antes da chegada de Berlusconi. Mas em 1986, ano em que foi vendido ao bilionário, o clube era um gigante adormecido, que amargava uma fila de sete anos sem vencer o Campeonato Italiano e que havia sofrido dois rebaixamentos à segunda divisão.

Na temporada 1986/1987, veio o título da Serie A, primeira grande conquista sob o comando de Berlusconi. Nos anos seguintes, o Milan engataria vários outros troféus, arrebanhando uma legião imensa de fãs ao redor do planeta.

Se, nos dias atuais, os investidores por trás dos grandes grupos que atuam no futebol optam pela condição de quase anonimato (salvo raras exceções), Berlusconi sempre teve o perfil de buscar os holofotes.

Nascido em Milão, em 1936, Berlusconi era formado em Direito. Na juventude, chegou a trabalhar como cantor e animador de cruzeiros e cabarés, guia turístico e vendedor ambulante de aspiradores de pó.

Nos anos 1960, com a ajuda de um empréstimo obtido junto ao banco onde o próprio pai trabalhava, criou uma empresa no ramo imobiliário, que construiu diversas cidades nos arredores de Milão. No fim da década seguinte, sua holding Fininvest já era um dos maiores grupos empresariais da Itália. Em 1978, Berlusconi criou a Mediaset, que se tornou o principal conglomerado de mídia da Itália, com atuação também na Espanha.

Controvérsias

A trajetória de Berlusconi, seja como empresário ou cartola, sempre esteve envolta em muitas controvérsias. E elas se acentuaram a partir dos anos 1990, quando, aproveitando-se do cenário de terra arrasada deixado pela “Operação Mãos Limpas” (que investigou denúncias de corrupção que acabaram atingindo os principais partidos e lideranças da época) e do discurso de antipolítica (reforçado pela imagem de empresário de sucesso), o bilionário conseguiu se eleger primeiro-ministro da Itália pelo curto período de maio de 1994 a janeiro de 1995.

Depois disso, viriam outros dois mandatos mais duradouros. Seu primeiro partido foi batizado como Forza Italia, em uma referência a um grito de guerra típico entre os torcedores de futebol do país: “Forza, Milan”, “Forza, Juve” e “Forza, Inter”.

As vitórias do Milan nos gramados ajudavam a pavimentar os êxitos de Berlusconi na política. E, não por acaso, sua derrocada nos jogos do poder, em meio a denúncias de corrupção e fraude (que culminaram com sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro, em 2011, e ao Parlamento Italiano, em 2013), coincidiram também com o fim da fase áurea do clube.

A taça da Serie A na temporada 2010/2011 veio justamente no ano em que Berlusconi deixou de ser premiê da Itália. Depois disso, o Milan só voltaria a ser campeão em dezembro de 2016, ao derrotar a Juventus na disputa pela Supercopa Italiana. Este seria o último troféu sob o comando do bilionário. Em abril do ano seguinte, o clube foi vendido ao grupo chinês.

Em 2018, houve uma nova venda, desta vez para o Elliott Management, como pagamento por uma dívida de € 415 milhões da Rossoneri Sport Investment Lux. O último capítulo dessa história veio em 2022. Desde o ano passado, o Milan é propriedade da RedBird Capital Partners, dos Estados Unidos, que pagou € 1,2 bilhão pela equipe italiana.

Nesta segunda-feira (12), o Milan publicou nas redes sociais diversos conteúdos homenageando seu antigo dono e lamentando sua morte.

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