Mulheres Líderes da Indústria Esportiva: Júlia Vergueiro, sócia-fundadora da Nossa Arena

Júlia Vergueiro é a empreendedora à frente do projeto da Nossa Arena - Reprodução

Projeto feito para garantir um local seguro e acolhedor para as mulheres jogarem futebol, a Nossa Arena, localizada na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, comemora o sucesso da opção de ceder seu espaço exclusivamente para o público feminino praticar esporte. Hoje, a Nossa Arena é frequentada por mais de 700 mulheres todas as semanas.

“Talvez a Nossa Arena ainda seja a primeira e única quadra dedicada ao feminino. Mas acho que é questão de tempo para ter outros espaços assim”, afirmou Júlia Vergueiro, sócia-fundadora da Nossa Arena, que também vislumbra a possibilidade de que as mulheres ocupem mais espaços no esporte.

“A gente pode evoluir para que esses espaços sejam cada vez menos necessários porque a gente vai conseguir ter essa ocupação em qualquer lugar sem ter que ser uma briga. Ou sem que esse lugar não seja seguro o suficiente para que as meninas realmente queiram estar ali”, acrescentou.

A iniciativa de Júlia começou em 2011, quando um grupo de mulheres se organizou para treinar e jogar futebol. Surgiu, então, o Pelado Real. À época, o grupo alugava quadras para jogar, dividindo espaço com os homens entre olhares de surpresa e estranhamento.

“Antes, o Pelado Real jogava em quadras alugadas e sempre só tinha homem jogando. A gente era a atração: ‘Nossa, que diferente. Tem um grupo de mulheres jogando’”, recordou Júlia.

Nossa Arena

Com a inauguração do espaço próprio de prática esportiva exclusivamente para as mulheres, a situação melhorou bastante.

“Hoje, com a Nossa Arena, existem vários grupos de meninas e mulheres jogando. A ponto de termos todos os nossos horários nobres, contando os dias de semana à noite e os finais de semana, ocupados”, comparou.

Apenas parte da Nossa Arena, que engloba quadras de beach tennis e vôlei de praia, é frequentada por homens, que jogam em parceria com esposas e namoradas.

No futebol, nos momentos de menor movimento, as quadras são ocupadas por um projeto social que treina das 14h às 18h. Há trabalho de formação de atletas, mas o foco principal é que a Nossa Arena seja um local para lazer.

Barcelona Academy

O sucesso da Nossa Arena chamou a atenção do Barcelona, que procurou Júlia propondo a montagem de uma unidade da Barça Academy na Nossa Arena, voltada exclusivamente para as meninas.

“Hoje, as nossas turmas infantis são da Barça Academy e é um projeto único. Não existe nenhuma outra Barça Academy voltada só para meninas. Nem na Espanha”, revelou Júlia.

A parceria com o clube da Catalunha, que atende meninas de 7 a 18 anos, conta hoje com cerca de 200 alunas. O objetivo da iniciativa é dar formação, não revelar atletas. No entanto, alguma aluna que se destaque nos treinos acaba sendo encaminhada para algum clube.

“O Barça Academy é uma escolinha. Não é um centro de alta performance, um clube de alto rendimento. É como o Chute Inicial do Corinthians, por exemplo. Temos a marca e a metodologia do Barcelona. O diretor técnico é de lá, traz a metodologia do Barcelona e aplica isso para as meninas”, explicou a sócia-fundadora da Nossa Arena.

Vestiário não binário na Nossa Arena – Divulgação

Equipe trans

Espaço que nasceu com o propósito da inclusão, a Nossa Arena realizou uma ação, no ano passado, para tornar o ambiente ainda mais empático.

Há cerca de seis meses, as quadras da empresa passaram a receber uma equipe formada por atletas trans, com jogadores em vários estágios de transição. O grupo, com cerca de 20 atletas, treina junto e, esporadicamente, realiza amistosos contra equipes femininas que já jogam na Nossa Arena.

“É um espaço seguro para os meninos trans. Tem muita gente ali que está no começo da transição e outros que estão há mais tempo. Eles fazem vários bate-papos pós-treino. Sempre tem o lado do acolhimento e da conversa para quem está passando por isso”, contou Júlia.

Para recepcionar com empatia esse novo público, a Nossa Arena decidiu fazer, em parceria com o Sportv, um vestiário para pessoas não binárias. O local foi inaugurado em setembro.

“Foi o momento em que percebemos que o que estamos fazendo na Nossa Arena extrapolava o futebol feminino. A questão é dar espaço para quem precisa. Hoje, a Nossa Arena é um espaço de inclusão e acolhimento de grupos que não se sentem representados em outros espaços”

Júlia Vergueiro, sócia-fundadora da Nossa Arena

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