Nesta semana, o Cerro Porteño, segundo maior vencedor do Campeonato Paraguaio na história, com 34 títulos, e um dos clubes de futebol mais populares do país platino, comprovou, na prática, o ditado popular que diz que “o perigo mora nos detalhes”.
Um post “inocente” feito pelo clube de Assunção nas redes sociais, relacionado à Copa Libertadores, gerou algo próximo a uma “crise” diplomática, com direito até à participação da Embaixada do Reino Unido no Paraguai.
Tudo começou na última terça-feira (19), quando a conta oficial do Cerro Porteño no Instagram publicou uma imagem com um mapa da América do Sul, destacando os adversários que o time enfrentará na fase de grupos da competição. A chave conta com Fluminense, do Brasil; Colo-Colo, do Chile; e Alianza Lima, do Peru.
Apesar de não mencionar qualquer equipe argentina, o post chamou a atenção dos hermanos por conta de um detalhe: o mapa utiliza a denominação “Ilhas Falkland” para se referir ao arquipélago das Malvinas. A imagem ainda traz a inscrição “UK”, em uma referência ao fato de que o território pertence ao Reino Unido.
A devolução das Malvinas é reivindicada pela Argentina desde 1840, tendo inclusive motivado uma guerra ocorrida em 1982, que resultou em 900 mortes, mais de 2 mil feridos e acabou vencida pelo país europeu.
A questão das Malvinas continua a ser uma ferida que mexe com o orgulho nacional dos argentinos. Tanto que o post do Cerro Porteño foi invadido por milhares de comentários de moradores do país vizinho, demonstrando seu descontentamento com o mapa utilizado.
Entre os que foram reclamar na publicação do Cerro Porteño está Pablo Carrozza, jornalista esportivo muito popular na Argentina. O profissional tentou argumentar que o território de aproximadamente 12 mil quilômetros quadrados (pouco mais da metade do tamanho de Sergipe, menor estado brasileiro) e que abriga cerca de 3 mil moradores (que, em sua imensa maioria, consideram-se súditos da coroa britânica) seria, na verdade, propriedade de seu país.
Recebeu em resposta tanto mensagens de apoio de usuários da rede social da Meta quanto comentários ironizando a reivindicação territorial. Em sua conta no X (antigo Twitter), o jornalista fez um trocadilho com o nome do clube paraguaio, chamando-o de “Cerro Pequeño”. Carrozza ainda se referiu ao time como “inimigo de todo o povo argentino”.
A expressão “Cerro Pequeño”, utilizada pelo jornalista, logo se popularizou entre os argentinos usuários do X.
E a polêmica ganhou ares diplomáticos na quarta-feira (20), depois que o embaixador do Reino Unido no Paraguai, Ramin Navai, publicou no X um vídeo com um claro ar de provocação, em que aparece em seu escritório, tomando uma bebida não identificada em uma caneca adornada com as cores e o escudo do Cerro Porteño.
“Outro dia tranquilo no escritório”, escreveu.
Um agravante para essa polêmica é que, no mesmo dia em que o Cerro Porteño publicou o post da discórdia, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, realizou sua primeira visita oficial às Ilhas Malvinas (ou Falkland) desde que assumiu o cargo, em novembro do ano passado. O chefe de governo reafirmou o status do arquipélago como território britânico. Na sequência, o premiê e sua comitiva visitaram justamente o Paraguai, onde permaneceram até quinta-feira (21).