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Premier League: 14 clubes fecham no vermelho e acumulam prejuízo de R$ 3,7 bilhões em apenas uma temporada

Entre os seis times que registraram lucro em 2023/2024, Chelsea obteve o melhor resultado, com superávit de £ 129,6 milhões

Chelsea registrou maior superávit da Premier League em 2023/2024 - Reprodução / Instagram (@chelseafc)

A Premier League, mais rica e badalada liga nacional de futebol do planeta, atravessa um momento, por assim dizer, peculiar. Mesmo faturando somas imensas em dinheiro, a maioria de seus clubes vem registrando prejuízos milionários.

Na temporada 2023/2024, 14 deles fecharam o ano no vermelho, acumulando um déficit de £ 484,7 milhões (R$ 3,7 bilhões, pela cotação atual).

Ao todo, tiveram prejuízo na última temporada os seguintes clubes da Premier League: Brentford, Newcastle, Wolverhampton, Arsenal, Leicester, Tottenham, Fulham, Crystal Palace, Ipswich, Liverpool, Everton, Bournemouth, Aston Villa e Manchester United.

A própria Premier League registrou uma queda de 45% em seu superávit, que passou de £ 216,5 milhões em 2022/2023 para £ 118,2 milhões em 2023/2024.

Essa redução foi provocada pelo aumento nas despesas operacionais, incluindo honorários advocatícios em disputas judiciais envolvendo Manchester City e Leicester. Esses custos subiram de £ 123,7 milhões para £ 200,2 milhões.

Por outro lado, a Premier League viu suas receitas comerciais e de transmissão global crescerem 17%. A organização deverá faturar £ 12,25 bilhões no ciclo de 2025 a 2028.

Manchester United

O Manchester United apresentou o pior prejuízo no período, que atingiu £ 113,2 milhões (R$ 868 milhões, quantia que supera as receitas de ao menos 18 dos 20 clubes que disputaram a Série A do Brasileirão em 2023, segundo o mais recente Relatório Convocados).

Hoje vivendo sob a gestão do bilionário britânico Jim Ratcliffe, que, no ano passado, tornou-se sócio minoritário da família Glazer, o Manchester United atravessa um momento de forte controle de gastos.

Entre as medidas de austeridade tomadas pela atual gestão estão a demissão de funcionários e até mesmo o fechamento da cantina e da lanchonete do clube. Com isso, as refeições diárias, antes servidas aos empregados, foram substituídas por frutas.

No centro de treinamento, apenas os jogadores poderão seguir alimentando-se gratuitamente. Os demais funcionários terão de se contentar com pão e sopa.

No ano passado, o Manchester United demitiu 250 pessoas do quadro colaborativo, incluindo Alex Ferguson, que deixou o cargo de embaixador da equipe, situação que gerou polêmica entre os torcedores. O ex-treinador recebia € 2,5 milhões ao ano (cerca de R$ 15 milhões) por esse contrato que foi encerrado.

Em 2025, o CEO Omar Berrada e o próprio Ratcliffe pretendem ir além e mandar entre 150 e 200 pessoas para o olho da rua. A razão para essas medidas drásticas está no crescimento do déficit do clube.

Na temporada 2022/2023, o prejuízo do Manchester United foi de £ 28,7 milhões (R$ 219,76 milhões). Ou seja, o déficit cresceu em quase quatro vezes.

Um dado curioso é que a equipe foi a segunda que mais faturou em 2023/2024, com £ 661,8 milhões (mais de R$ 5 bilhões) em receitas no período, contra £ 648,4 milhões na temporada anterior.

Liverpool

Atual líder disparado do campeonato, com 73 pontos em 31 partidas disputadas, o Liverpool está perto de conquistar seu 20º título inglês, sendo o segundo na Era Premier League, iniciada em 1992.

Apesar do bom momento vivido dentro de campo, os Reds também têm enfrentado dificuldades na área financeira. Na temporada 2023/2024, o clube amargou um déficit de £ 43,5 milhões (R$ 333 milhões), contra £ 6,9 milhões no ano anterior.

Esse prejuízo expressivo registrado na última temporada ocorreu mesmo em meio ao faturamento recorde obtido pelo clube, de £ 613 milhões.

As receitas poderiam ter sido ainda maiores, não fosse o fato de o Liverpool não haver se classificado para a Champions League na temporada em questão. Com a participação na Europa League, o time deixou de receber £ 38 milhões em direitos de transmissão.

Manchester City

Principal vencedor da Premier League na última década, com seis troféus conquistados, dos quais quatro vieram de maneira consecutiva, o Manchester City é um dos seis clubes da primeira divisão inglesa que registraram superávit na temporada 2023/2024.

Os outros cinco que ficaram no azul no período foram Chelsea, West Ham, Brighton, Nottingham Forest e Southampton.

O City foi também o que mais faturou na última temporada, com £ 715 milhões em receitas, valor ligeiramente superior aos £ 712,8 milhões obtidos no ano anterior.

O superávit, porém, caiu 8% de um ano para outro, passando de £ 80,4 milhões em 2022/2023 para £ 73,8 milhões em 2023/2024.

O clube, convém lembrar, é alvo de 115 denúncias de violação de regras de Fair Play Financeiro, que teriam ocorrido entre 2009 e 2018. O City Football Group (CFG) teria inflado artificialmente os valores pagos pela patrocinadora máster Etihad Airways (que pertence ao grupo), de modo a camuflar os valores investidos pela família real de Abu Dhabi no time.

Chelsea

Entre os clubes da Premier League, o Chelsea foi o que obteve o melhor resultado financeiro na última temporada. O superávit dos Blues ficou em £ 129,6 milhões em 2023/2024.

O número é ainda mais animador quando se observa que, no ano anterior, o time registrou um déficit de £ 89,8 milhões. O Chelsea conseguiu lucrar na última temporada mesmo diante de uma queda em suas receitas, que passaram de £ 512,5 milhões em 2022/2023 para £ 468,5 milhões na temporada seguinte.

A principal causa para esse lucro não tem a ver propriamente com novos patrocínios, licenciamento ou venda de atletas.

No período em questão, o clube firmou o acordo para a venda de sua equipe feminina para a BlueCo, consórcio liderado por Todd Boehly, Clearlake Capital, Mark Walter e Hansjörg Wyss, que foi criado para adquirir o time de Londres, após a saída do bilionário russo Roman Abramovich, em meio às sanções impostas pelo Ocidente por conta da guerra da Ucrânia.

Avaliada em £ 200 milhões, essa operação de venda do time feminino depende ainda de aprovação da Premier League para ser concretizada, razão pela qual o clube ainda corre o risco de ser enquadrado em eventuais violações das regras de Fair Play Financeiro.