O brasileiro Vinícius Júnior foi vítima, mais uma vez, de insultos racistas na Espanha. Desta vez, no jogo entre Valencia e Real Madrid, disputado neste domingo (21), no Estádio Mestalla, e válido pela 35ª rodada da LaLiga. O atacante brasileiro foi chamado de “macaco” diversas vezes pela torcida dos mandantes, que venceram o jogo por 1 a 0.
Após o gol do Valencia, uma discussão generalizada acabou com a expulsão isolada do camisa 20 do Real Madrid. Após o jogo, a súmula do árbitro não citou nenhuma menção sobre os insultos racistas sofridos pelo brasileiro.
Este conjunto de fatores levou Vini Jr. a desabafar nas redes sociais após a partida, disparando uma série de críticas direcionadas à LaLiga e ao racismo estrutural na Espanha.
“Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na LaLiga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas”, disse o brasileiro.
Justiça
A repercussão do caso a nível mundial serviu como estopim para as autoridades de ambos os países, Brasil e Espanha, se movimentarem.
O presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, se manifestou nas redes sociais, em solidariedade ao atacante.
Em seguida, diversos clubes brasileiros também publicaram manifestos de apoio ao jogador, que, por sua vez, compartilhou mensagens de diversos jogadores, como companheiros de clube, companheiros de seleção e mesmo outros, como Kylian Mbappé, além de ex-jogadores, como Kaká, em repúdio ao racismo.
Na manhã desta segunda-feira (22), o caso virou, oficialmente, assunto diplomático.
O Ministério da Igualdade Racial, criado recentemente pelo Governo Federal, disse que notificará, ainda hoje, as autoridades espanholas e a LaLiga.
“O Governo brasileiro não tolerará racismo nem aqui nem fora do Brasil! Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”, informou a pasta, em postagem nas redes sociais.
À frente do Ministério, a ministra Anielle Franco também informou que o Itamaraty será mobilizado para tratar do assunto. Em entrevista concedida à jornalista Andreia Sadi, Franco lembrou que Brasil e Espanha firmaram um acordo de cooperação em políticas de combate ao racismo, e que o Ministério das Relações Exteriores articulará com a vice-presidente da Espanha, Yolanda Díaz, a expansão do acordo para a área do esporte.
Na manhã desta segunda-feira (22), foi a vez do Ministério do Esporte se pronunciar, ao lado de outras pastas.
“Tendo em conta a gravidade dos fatos e a ocorrência de mais um inadmissível episódio, em jogo realizado ontem, naquele país, o Governo Brasileiro lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo. Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à Fifa e à LaLiga a aplicar as medidas cabíveis”, afirma o texto que, no fim, reitera que se trata de um “nota assinada pelos Ministérios do Esporte; da Igualdade Racial; das Relações Exteriores; da Justiça e Segurança Pública; e dos Direitos Humanos e da Cidadania”.
Na Espanha
O presidente do Real Madrid se reuniu com o atleta brasileiro logo pela manhã desta segunda-feira (22). O clube afirmou que realizará uma denúncia no Ministério Público espanhol.
Um vídeo da reunião foi postado nas redes sociais, com a seguinte legenda: “O presidente do Real Madrid [Florentino Pérez] reuniu-se com Vinícius Júnior para lhe mostrar o seu apoio e carinho, para o informar de todas as diligências que estão sendo tomadas em sua defesa e para confirmar que o clube irá até as últimas consequências face a tal situação repugnante de ódio”.
“O Real Madrid considera que este tipo de ataque também constitui um crime de ódio, razão pela qual o correspondente apresentou queixa à Inspeção Geral do Estado, especificamente à inspeção contra crimes de ódio e discriminação, para que os crimes sejam investigados”, afirmou o clube.
Na Espanha, a Inspeção Geral do Estado é equivalente à Procuradoria Geral da República no Brasil.
Mais cedo, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, já havia publicado uma mensagem repudiando o racismo. “Toda nossa solidariedade com Vinícius. Não há lugar para o racismo no futebol e nem na sociedade, e a Fifa apoia todos os jogadores e jogadoras que estão sofrendo em carne própria”.
Infantino também lembrou que a Fifa possui um protocolo para jogos em que há casos de racismo. Segundo o documento, a partida pode ser paralisada, remarcada e, no caso dos gestos se repetirem, os três pontos podem ir para o time adversário.
O Valencia, por sua vez, emitiu um comunicado afirmando que banirá para sempre do estádio os torcedores envolvidos no episódio.
“A polícia identificou um torcedor que fez gestos racistas contra Vinícius Jr. no jogo da 35ª rodada contra o Real Madrid, disputado no Camp de Mestalla, e trabalhos estão sendo feitos de maneira coordenada para confirmar a identidade de outros possíveis implicados. Desde o momento dos fatos, todas as gravações disponíveis estão sendo analisadas, trabalhando o mais rápido possível para esclarecer o ocorrido, a fim de agir com rapidez e contundência”, afirmou o clube, em nota oficial.