A Fifa divulgou, nesta segunda-feira (17), o Relatório de Benchmarking do Futebol Feminino que mostra que ainda existe uma grande disparidade financeira entre o futebol feminino e o masculino.
Segundo o documento, o ganho médio anual de uma jogadora profissional é de US$ 10.900, rendimento puxado para cima graças a alguns clubes de elite, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Isso representa um salário de US$ 908,3 por mês (R$ 5.182).
Entre os times de nível 1 designados pela Fifa, que incluem 41 clubes de 16 países, o salário médio é de aproximadamente US$ 24.030 por temporada. Entre essa elite, 16 clubes pagaram salário bruto médio superior a US$ 50 mil.
Os mais altos rendimentos chegam a cerca de US$ 120 mil. Ainda assim, são números risíveis quando comparados ao futebol masculino.
Queda salarial
Os salários caem significativamente quanto menos a liga é capaz de faturar. Segundo a escala estabelecida pelo relatório, jogadoras que atuam em times de nível 2 ganham, em média, US$ 4.361.
Já as atletas de equipes de nível 3 recebem apenas US$ 2.805 por ano, Isso equivale a cerca de R$ 16 mil a cada temporada ou pouco mais de R$ 1.300 por mês. Esse valor é menos do que um salário-mínimo (R$ 1.518 em 2025).
“As jogadoras precisam atingir determinado nível para conseguir um salário suficiente para apenas jogar, reduzindo sua dependência de outras fontes de renda e permitindo que dediquem um tempo adequado para poder jogar em alto nível”, afirma o relatório.
Os clubes de nível 1 também oferecem os contratos mais longos, normalmente entre um e três anos, com salários mais altos para contratos de dois a três anos. Os times de nível 3, por sua vez, chegam a fechar contratos de menos de três meses.
“Um contrato mais longo permite que as jogadoras se comprometam com o clube e a cidade, proporcionando mais estabilidade para que se concentrem em sua carreira no futebol”, diz o documento.
Público
O relatório também destaca que o público dos jogos de futebol feminino ainda é significativamente menor.
Na última temporada, o Arsenal recebeu o Manchester United, pela Superliga Feminina (equivalente à Premier League), diante de um recorde de 60.160 torcedores no Emirates Stadium, em Londres.
Esse montante, porém, não é o que se costuma ver nos estádios durante jogos de ligas nacionais femininas. Em 2023/2024, os times de nível 1, o mais forte do planeta, conseguiram uma média de 1.713 pagantes. Já os de nível 2 não passaram de 480 pessoas, enquanto no nível 3 a média ficou em 380 torcedores.
Mesmo o privilégio de mandar seus jogos no principal estádio do clube é bastante raro entre as mulheres. O Arsenal integrou os 23% dos times que jogaram algumas partidas na arena principal, dividida com o time masculino.
Em 2023/2024, porém, foram só cinco jogos da Superliga no Emirates Stadium, com capacidade para mais de 60 mil pessoas. No restante da temporada, a equipe atuou no Meadow Park, com 4.500 lugares.
“Para clubes de nível 1, a média de público no outro estádio era tipicamente o dobro do estádio regular, indicando que o esporte tem a capacidade de atrair públicos maiores ocasionalmente”, informa o relatório.
Comando
As mulheres continuam pouco representadas em funções como treinador. Elas ocupam apenas 22% dos cargos em todos os níveis do futebol feminino.
Há mais equidade de gênero na arbitragem, com 42% dos oficiais de campo sendo mulheres. O número varia de 57% nas ligas de nível 1 a 25% nos torneios de níveis 2 e 3.
“Os avanços dos últimos anos foram notáveis, mas ainda há muito trabalho a ser feito para desbloquear todo o potencial [do futebol feminino]”, reconheceu Gianni Infantino, presidente da Fifa.
Metodologia
A pesquisa da Fifa mandou questionários a 135 ligas e 1.518 clubes espalhados pelo mundo. Desse total, 90 torneios e 677 equipes enviaram respostas.
Para estabelecer o nível de cada competição, a Fifa adotou alguns critérios, como examinar se a liga possui um sistema de licenciamento de clubes, o número de jogadoras que disputaram a Copa do Mundo Feminina 2023 e o orçamento dos clubes que participam do torneio.