Depois de quase três meses como dono do Cruzeiro, o ex-jogador Ronaldo começa a avançar em um outro terreno, paralelo à gestão do clube mineiro. O Fenômeno tem se tornado um dirigente articulador e influente nos bastidores, o que pode dar novos contornos à organização da liga de clubes no Brasil.
O projeto atualmente está emperrado por conta da divergência dos clubes em definir a divisão de valores para cada um deles em uma venda de parte da liga que ainda nem existe para um fundo de investimentos.
Mas Ronaldo começou a tentar ajudar a destravar o processo. Na primeira semana de março, o Fenômeno almoçou com dirigentes do Atlético-MG, maior rival cruzeirense. Oficialmente, a pauta foi o clássico entre os dois times no Campeonato Mineiro e um simbólico apelo pela paz entre as torcidas.
O encontro não deu o resultado esperado da porta para fora, já que houve briga de torcedores pré-jogo. Mas serviu para aproximar os dirigentes em projetos conjuntos, algo que antes era impensado, além de dar mais força a Ronaldo na discussão sobre a formatação da liga de clubes. O Atlético é um dos principais interlocutores dos clubes, sendo que foi apontado para ser o elo entre o grupo de dez agremiações que criou o movimento “Forte Futebol”, exigindo direitos melhores na divisão de receitas para os clubes de menor torcida.
Nesta terça-feira (15), Ronaldo dará mais uma mostra de seu poder aglutinador. Junto com o banco de investimentos XP, ele articulou a vinda ao Brasil de Javier Tebas, presidente da LaLiga, a liga que reúne os clubes da primeira e segunda divisões de futebol da Espanha.
O executivo se encontrará com os dirigentes brasileiros para contar como a união dos clubes em torno da liga representou a virada do Campeonato Espanhol. Além disso, mostrará como funciona o acordo recém-assinado com o fundo de investimentos CVC, que injetou quase € 2 bilhões na LaLiga, levando dinheiro para os clubes sem precisar recorrer a empréstimos bancários no meio da pandemia.
Com os exemplos de Tebas, a ideia é fazer os clubes se aproximarem mais da XP e do modelo que a empresa propõe para a liga. Uma entidade que terá gestão independente do investidor do projeto, mas avalizada pelo banco e sob o comando de decisão dos clubes, mais ou menos como é o modelo da LaLiga.
A expectativa, depois do encontro desta terça-feira (15), é de que os clubes paulistas e cariocas tenham maior receptividade ao projeto da XP. Os times de São Paulo e do Rio assinaram um pré-acordo com o grupo Codajas, liderado por Luiz Zveiter e que tem a consultoria de Ricardo Fort, para fechar com eles o projeto da liga. Os demais clubes, porém, ainda não assinaram com o grupo, o que hoje atravanca a formação da entidade.
Desde que assumiu o Cruzeiro, Ronaldo disse que um dos objetivos é melhorar o ambiente de gestão do futebol brasileiro. O Fenômeno, ao que tudo indica, começa a entrar também nesse campo.