A SAFiel, projeto criado por empresários para tornar o Corinthians uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), foi lançada oficialmente. A iniciativa visa a captar R$ 2,5 bilhões em investimentos para tirar o clube da atual situação financeira delicada, enquanto mantém, e até aumenta, a representatividade da torcida.
Em um evento no Museu do Futebol, na Mercado Livre Arena Pacaembu, em São Paulo (SP), os idealizadores do projeto, os empresários Carlos Teixeira e Maurício Chamati, o advogado Eduardo Salusse e o empresário Lucas Brasil, detalharam a ideia para restabelecer o Corinthians financeiramente.
Baseado em modelos presentes no futebol europeu, o grupo criou um modelo de SAF que não tem um único dono. A ideia faria com que o Corinthians pertencesse a diversos investidores, que incluem torcedores e o clube social.
O projeto prevê que todas as propriedades do futebol masculino, feminino e de base do Corinthians sejam controladas pela SAFiel, o que inclui direitos econômicos e federativos de atletas, contratos de patrocínio, licenciamentos, Neo Química Arena e Centro de Treinamento, entre outros.
Os ativos seriam cedidos pelo clube social, que seria dono de ações da SAFiel e, portanto, não perderia patrimônio. A associação também receberia royalties e passaria a estar apta para receber recursos da Lei de Incentivo ao Esporte.
Divisão de ações
A SAFiel pertenceria ao clube social do Corinthians, que faria o aporte de todos os ativos ligados ao futebol, e a Invasão Fiel S/A, empresa que será composta por torcedores, ou não, que investirem no projeto.
A holding Invasão Fiel será uma companhia aberta, com ações disponíveis para negociação em mercado fechado. As ações serão disponibilizadas em “potes”, que funcionarão de maneira independente.
Serão três categorias: investidor profissional, varejo amplo e reserva popular, que garantem direito a voto.
O investidor profissional, pote com R$ 450 milhões em ações, deverá ter no mínimo 15 mil ações, algo avaliado em R$ 3 milhões. No varejo amplo, que tem R$ 600 milhões em ações, os investimentos variam de R$ 2,2 mil a R$ 3 milhões.
Por fim, a reserva popular parte de uma única ação, de R$ 200, e tem o teto de 10 ações (R$ 2 mil). O pote será limitado a 100 mil pessoas, ou seja, R$ 200 milhões.
Também haverá ações preferenciais, que poderão ser compradas por qualquer investidor permitido pelas leis brasileiras e pelo estatuto da SAFiel. Estas, sem direito a voto, são voltadas para aqueles que buscam retorno financeiro sem influência na gestão do Corinthians.
Nenhum acionista poderá voltar com mais de 1,8% do capital social, mesmo que sua participação seja maior do que este percentual. Todos os donos de ações ordinárias, aquelas voltadas aos torcedores, deverão ser sócios-torcedores adimplentes para poder votar.
Com isso, a SAFiel tem como objetivo de arrecadação um valor mínimo de R$ 1,6 bilhão e máximo de R$ 2,5 bilhões.
Objetivos
Os recursos captados por meio da comercialização das ações seriam prioritariamente utilizados para reestruturação das dívidas e melhora da infraestrutura do futebol do Corinthians.
Entre os objetivos, estão a modernização do Centro de Treinamento das equipes profissionais, construção de um CT para categorias de base, formação de um elenco de elite e expansão da Neo Química Arena para aproximadamente 70 mil lugares.
A melhora da infraestrutura administrativa também seria prioridade, com evoluções de sistemas, processos, compliance e governança.
Transparência
A transparência é um dos princípios da SAFiel. A intenção é que o Corinthians possa ser acompanhado e fiscalizado pela torcida e, para isso, terá suas contas e negócios completamente públicos.
O projeto inclui o lançamento de um aplicativo para os interessados. Por intermédio dele, seria possível acessar as metas esportivas estabelecidas pelo clube e consultar diversas informações que atualmente não são disponibilizadas.
A plataforma permitiria aos torcedores acessar currículos de funcionários, demonstrativos financeiros atualizados, direitos econômicos de jogadores e detalhes de acordos com patrocinadores, incluindo duração e valores.
Governança
Para fugir dos problemas administrativos vividos pelo Corinthians nos últimos anos, a SAFiel apresentou uma série de medidas de governança, que visam a garantir a boa gestão da equipe.
A estrutura administrativa do clube contaria com conselhos de governança, administração, fiscalização e cultura. Também haveria auditorias externas frequentes e um canal de denúncias anônimas.
Os idealizadores do projeto afirmam que não terão qualquer cargo na SAFiel, bem como qualquer retorno financeiro para além daquilo que investirem como qualquer outro torcedor.
Próximos passos
A intenção do grupo criador da SAFiel era entregar a proposta do projeto no Parque São Jorge, sede do Corinthians, nesta terça-feira (28). O objetivo, porém, não foi concretizado por conta de incompatibilidade de agendas com Osmar Stabile, presidente do clube.
Segundo os planos do projeto, depois da entrega da proposta, ainda será necessária a veiculação de um memorando, que deverá ser assinado por sócios do clube.
A partir daí, começariam estudos de viabilidade, seguidos pelo início das reservas de ações e, por fim, a aprovação na assembleia dos sócios do Corinthians.
A expectativa, no entanto, é de que a SAFiel ainda enfrente grande resistência na política do Corinthians.
Durante o lançamento do projeto, líderes de grupos de sócios do clube afirmaram que Osmar Stabile, presidente corintiano, estaria dificultando o avanço da proposta, impedindo, por exemplo, que reuniões para discussão da iniciativa sejam realizadas no Parque São Jorge.
