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Sócios do Juventus aprovam SAF, que será vendida para Reag e Contea por R$ 20 milhões

Votação realizada neste sábado (28) contou com a participação de 388 associados, dos quais 322 posicionaram-se a favor da proposta

Apresentação feita por Reag e Contea aos conselheiros do clube - Reprodução / Instagram (@oficialjuventus)

Após muita polêmica e troca de acusações, a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Juventus, de São Paulo (SP), sairá mesmo do papel.

Em Assembleia Geral realizada neste sábado (28), os sócios do clube aprovaram a criação da SAF e a venda para o grupo liderado pelas empresas Contea Capital e Reag Capital Holdings.

Ao todo, 388 associados participaram da votação, dos quais 322 posicionaram-se a favor da proposta. Outros 62 foram contra a ideia, e houve ainda três votos em branco e um nulo.

A constituição e venda da SAF ao consórcio encabeçado por Reag e Contea já havia sido aprovada pelo Conselho Deliberativo do Juventus, no último dia 17 de junho.

A Máquina do Esporte teve acesso à proposta oficial feita pelo grupo vencedor, que se compromete a pagar R$ 20 milhões ao clube, pela aquisição de 90% da SAF. O pagamento deverá ocorrer em até 30 dias após a assinatura dos documentos definitivos do negócio.

Trecho da proposta oficial apresentada pela Contea ao Juventus – Reprodução

Para que isso ocorra, porém, o grupo propõe a realização de uma due diligence jurídica, contábil, financeira e de governança do clube, que terá início logo após a aprovação da SAF. Essa análise, que avalia os potenciais riscos de um negócio, deverá ocorrer em um prazo de até 90 dias.

Vencida essa etapa, a proposta prevê a criação de um fundo a ser gerido pela Contea e que ficará encarregado de comprar 90% do capital social da SAF e realizar investimentos adicionais na operação.

No caso do futebol, o consórcio assumiria todas as categorias, desde as escolinhas e categorias de base, passando pelos times femininos, até o masculino profissional. O volume dos aportes, porém, estaria condicionado à performance esportiva da equipe.

Trecho da proposta oficial da Contea para compra da SAF do Juventus – Reprodução

Com base no planejamento que prevê o retorno do clube à Série A do Brasileirão até 2035 (sua única participação na elite nacional foi no campeonato de 1983), o grupo projeta investimentos de até R$ 500 milhões na SAF do Juventus.

Esse montante inclui ainda aportes de R$ 40 milhões (R$ 25 milhões investidos até o fim de 2026 e outros R$ 15 milhões com prazo máximo estipulado para dezembro de 2027), que custeariam a uma série de obras no clube.

Entre elas, a reforma completa do Estádio Conde Rodolfo Crespi, na Mooca, popularmente conhecido como Rua Javari, mas que no documento da Contea já é denominado de Arena Juventus.

Trecho da proposta oficial da Contea para a compra da SAF do Juventus – Reprodução

Quem são investidores da SAF do Juventus?

O grupo que irá comprar 90% da SAF do Juventus é liderado pelas empresas Contea Capital e Reag Capital Holdings, que, juntas, administram R$ 18 bilhões em ativos.

“É uma honra para a Reag Capital Holding fazer parte desse novo capítulo da história do Clube Atlético Juventus. Como sócio do clube, ex-atleta de basquete, oriundo da Mooca e de família italiana, é particularmente importante este processo e vamos trabalhar com seriedade e profissionalismo para devolver ao Juventus o lugar que nunca deveria ter saído, ou seja, o topo do futebol estadual”, disse João Carlos Mansur, presidente do conselho de administração da empresa.

A apresentação da proposta do grupo aos conselheiros do clube foi feita pelo brasileiro Claudio Fiorito e o italiano Federico Pastorello, sócios da P&P Sport Management, empresa com sede no principado de Mônaco e que agencia uma série de atletas ao redor do mundo, entre eles o zagueiro Vitor Reis, ex-Palmeiras e atualmente no Manchester City.

A P&P deverá participar da estruturação do projeto esportivo da SAF do Juventus. Já a agência Wolff Sports será responsável pela estruturação do modelo de negócio e auxiliará os departamentos de marketing, comercial e comunicação.

“Nos últimos meses, trabalhamos com afinco na formatação do modelo de negócio mais adequado ao clube. O nosso objetivo é implementar o plano estratégico de posicionamento de marca: conectada ao bairro, à colônia italiana, à Itália, na capital de São Paulo. A modernização do estádio, a performance nas competições e na formação de atletas colocarão o Clube Atlético Juventus no seu devido lugar”, diz Fábio Wolff, sócio-diretor da agência.

Como surgiu a ideia da SAF

As discussões em torno da criação e venda da SAF do Juventus já ocorrem há alguns anos e ganharam força por conta de seu crescente endividamento.

Na década de 1980, o clube da Mooca chegou a contar com 100 mil sócios. No ano passado, ao completar seu primeiro centenário, a instituição tinha em torno de 1,2 mil associados que estavam com a contribuição em dia.

A votação que sacramentou a criação da SAF, com apenas 388 participantes, é um sinal claro de como minguou o quadro associativo do Juventus.

A situação financeira do Juventus foi agravada pela pandemia da covid-19, que afetou algumas de suas principais fontes de receitas, em especial o aluguel do salão de festas, descrito pelo presidente Dilson Tadeu dos Santos Deradeli, numa entrevista concedida ao G1, no ano passado, como “a galinha dos ovos de ouro” do clube.

Em 2022, o grupo italiano AlmavivA, que atua em diversas áreas, especialmente a de tecnologia, esteve próximo a fechar negócio para a compra da SAF do Juventus.

A proposta de constituição e venda da sociedade anônima acabou sendo rejeitada pelos conselheiros do Moleque Travesso, por 53 a 49, em votação realizada à época.

O fator decisivo para a derrota da SAF foi a disputa política entre Dilson Tadeu e o presidente do Conselho Deliberativo do Juventus, Carlos Eduardo Gomes Pedroso, que se opunha ao negócio.

Ideia ressurge

Recentemente, porém, ambos se aproximaram e a ideia da sociedade anônima voltou a caminhar. Esse processo todo, porém, ocorreu em meio a uma das mais disputadas eleições presidenciais da história do Moleque Travesso.

O grupo de Dilson Tadeu tentou impugnar membros da Chapa 2 – Novos Tempos, Renove Juventus, de oposição, incluindo o candidato a presidente Marcello Lourenço Betone, mais conhecido como Magrão.

Casos os membros da chapa opositora tivessem sido barrados, Dilson Tadeu teria sido eleito por aclamação, como candidato único. Porém, o grupo de Magrão conseguiu garantir judicialmente sua participação no pleito.

No fim das contas, Dilson Tadeu foi reeleito por 53 votos a 51, mas a oposição tenta impugnar na Justiça o resultado, alegando que quatro conselheiros teriam participado irregularmente da escolha da nova diretoria do clube.

Em meio a essa batalha de foices na política interna, o Juventus abriu prazo para empresas interessadas em comprar a SAF, que sequer havia sido criada.

Além da AlmavivA, numa nova tentativa, e do consórcio liderado por Reag e Contea, a Total Player, dos irmãos Calucho e Paulo Jamelli, também apresentou proposta.

À medida em que se aproximava a data da apresentação das ofertas, agendada para o último dia 14 de junho, a convulsão interna se acentuou no Juventus.

No dia 13, o Conselho Fiscal do clube decidiu suspender, de maneira preventiva, Paulo Artur Vasques. Ele ocupava a presidência do órgão durante a votação que rejeitou as contas do presidente Dilson Tadeu.

Ao mesmo tempo, pelo menos dez membros do Conselho Deliberativo, que declaravam ser contrários à SAF, foram afastados de seus cargos.

Entre os conselheiros suspensos estava a jurista Eloísa Machado, professora de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que foi impedida de entrar na sede do clube, no dia da apresentação das propostas.

Durante a reunião em que as ofertas seriam expostas para análise do Conselho Deliberativo, AlmavivA e Total Player optaram por não fazer as apresentações, preferindo disponibilizar links para que os interessados pudessem conhecer as duas propostas.

Representantes das empresas divulgaram vídeo em que questionam a transparência do processo de escolha da investidora da SAF, apontando para um suposto favorecimento de Reag e Contea.

No dia 16 de junho, AlmavivA e Total Player decidiram unificar as propostas, oferecendo R$ 37,45 milhões pela aquisição de 90% da SAF do Juventus, além de investimentos que alcançariam R$ 500 milhões, ao longo do negócio.

A manutenção das características fundamentais do Estádio da Rua Javari era um dos principais pontos da oferta das duas empresas, mas ela nem mesmo chegou a ser considerada na reunião do Conselho Deliberativo realizada em 17 de junho, que aprovou a criação da SAF por 70 a 18.

Na ocasião, os representantes de Total Player e AlmavivA, além de dez conselheiros, foram impedidos de participar da reunião.