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Vasco e BTG Pactual: Entenda como está a relação entre clube e banco

Ao mesmo tempo em que negocia empréstimo ao clube como parte da recuperação judicial, banco tenta adquirir ações que eram da 777 Partners

Camisa do Vasco repousa no gramado do Estádio de São Januário - Matheus Lima / Vasco

Considerado um dos maiores times de futebol do país, o Vasco atravessa momentos difíceis nas últimas décadas, agravados, recentemente, com a falência da 777 Partners, empresa de investimentos com sede nos Estados Unidos e que detinha 70% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do clube.

Inicialmente vendida como a chance de retomada da era de glórias, a parceria com a investidora tornou-se uma dor de cabeça para a equipe carioca, na medida em que se agravava a crise na 777 Partners.

Em meio ao caos, surgiu nos últimos dias um novo personagem nessa história. O banco BTG Pactual protagonizou duas notícias envolvendo a SAF do Vasco.

Relação com o futebol

Iniciado em 2018, o processo de abertura dos clubes brasileiros a investidores externos, com a criação do modelo das SAFs, tem despertado o interesse das instituições financeiras.

O BTG Pactual tem tido forte atuação nessa área nos últimos anos. O banco é um dos parceiros da Liga do Futebol Brasileiro (Libra), capitaneada por clubes como Flamengo, São Paulo e Palmeiras.

Em tese, o grupo surgiu com a proposta de liderar a criação de uma liga unificada para organizar o Campeonato Brasileiro. Na prática, porém, tem centrado seus esforços nas negociações dos direitos de transmissão dos clubes que o integram.

Neste ano, a Libra fechou com a Globo um acordo de direitos de transmissão no valor de R$ 5,85 bilhões, que será válido de 2025 a 2029.

Anteriormente, a Libra já havia tentado, com a ajuda do BTG Pactual e da Codajas Sports Kapital, atrair uma grande investidora, a Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos, que assumiria parte dos direitos comerciais e de mídia dos clubes membros do grupo, pelo período de 50 anos.

O Vasco chegou a integrar a Libra, mas depois deixou o bloco, unindo-se a Botafogo e Cruzeiro em um grupo chamado União, que acabaria por aderir à Liga Forte Futebol (LFF), a qual, por sua vez, trocou o nome para Liga Forte União (LFU).

O acordo para venda de parte dos direitos dos clubes da Libra para a Mubadala acabou não avançando, porém, depois que, em entrevista ao podcast Maquinistas, da Máquina do Esporte, em novembro do ano passado, o vice-presidente de comunicação e marketing do Flamengo, Gustavo Oliveira, disse que o clube se recusaria a vender 12,5% de seus direitos comerciais e de mídia ao fundo de investimentos.

Ainda assim, a relação da Libra com o banco BTG Pactual permanece forte. Nas últimas semanas, a instituição financeira enxergou no Vasco uma oportunidade para ampliar sua atuação no futebol.

Como está a relação do Vasco com a 777 Partners

A 777 Partners assumiu o controle de 70% das ações do Vasco em 2022, com a promessa de pagar o equivalente a US$ 700 milhões. Na prática, a investidora realizou aportes que serviram para quitar 31% do capital total da SAF.

Ao todo, a empresa honrou com US$ 60 milhões (R$ 340 milhões, pela cotação atual) desse compromisso assumido. Já os 39% restantes do capital não foram pagos e, hoje, são objeto de uma ação judicial e uma arbitragem, que foi protocolada no dia 24 de julho deste ano.

Atualmente, esses 31%, antes pertencentes à 777 Partners, estão sob responsabilidade da seguradora A-CAP, com sede nos Estados Unidos, que controla os ativos da antiga investidora do Vasco.

A arbitragem trata não dessa fatia do bolo, que já havia sido paga pela ex-parceira, mas sim dos 39% não quitados. Essa arbitragem, que será realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), estava suspensa, mas o prazo vence nesta quinta-feira (24).

Com uma eventual decisão, chegará ao fim o impasse sobre quem controla a SAF do Vasco.

Empréstimo

Uma das notícias envolvendo BTG Pactual e Vasco foi divulgada pelo jornal Valor Econômico e tem a ver com um empréstimo que a instituição financeira ofereceria ao clube, como parte de seu processo de recuperação judicial.

Mecanismo previsto na Lei das SAFs, a recuperação judicial permite às instituições esportivas prazos mais longos e condições mais vantajosas ao negociar com seus credores.

O modelo do empréstimo seria similar ao debtor-in-possession (DIP), que vigora em países como Estados Unidos e Canadá. A quitação dessas obrigações tem prioridade sobre débitos já existentes. A finalidade da operação é manter um negócio operando até que possa ser vendido, garantindo maior retorno ao credor do que no caso da eventual liquidação de ativos do devedor.

A proposta do BTG Pactual chegaria a R$ 165 milhões e teria como garantia 20% das ações que o clube possui na SAF do Vasco, isso sem contar os 39% que hoje são debatidos na arbitragem com a A-CAP.

Haveria ainda a possibilidade de direitos de transmissão e até do Estádio de São Januário serem usados como lastro nessa negociação.

Dessa forma, nota-se que, caso o clube não pagasse pelo empréstimo, o BTG Pactual assumiria o controle de 59% do capital da SAF. Em qualquer circunstância, a instituição financeira ainda faturaria 6% em cima de alguma eventual futura venda da Sociedade Anônima do clube.

O Vasco emitiu uma nota oficial nas redes sociais informando que os termos desse negócio “jamais seriam aceitos”.

Compra de ações da A-CAP

Nesta semana, surgiu também a informação, divulgada pelo GE, de que o BTG teria sondado diretamente a A-CAP, sem a participação do Vasco, a respeito da possibilidade de compra dos 31% de ações da SAF, hoje controlados pela seguradora.

A instituição financeira estaria disposta a pagar US$ 30 milhões (em torno de R$ 170 milhões) pelos ativos, o que representa metade do que foi gasto pela 777 Partners para adquiri-los.

O contrato de venda da SAF à investidora, atualmente suspenso por determinação da Justiça do Rio de Janeiro, prevê que o Vasco deve dar anuência a esse negócio.

Um complicador para que essa transação se concretize é o processo aberto em um tribunal federal de Nova York, nos Estados Unidos, em que a Leadenhall Capital Partners acusa a 777 Partners de fraude de US$ 600 milhões.

A companhia alega que emprestou essa quantia à ex-parceira do Vasco. No entanto, US$ 350 milhões dados em garantia pela 777 não existiam, não estavam sob controle da companhia ou já haviam sido oferecidos pela investidora a outros credores.

A Justiça dos Estados Unidos concedeu uma liminar à Leadenhall, garantindo a ela o direito às receitas referentes a todos os ativos da 777, incluindo dos clubes de futebol.