Venda de Endrick, do Palmeiras, ao Real Madrid movimenta mais dinheiro que compra de Cruzeiro e Botafogo

A venda do atacante Endrick, de 16 anos, do Palmeiras ao Real Madrid movimentará mais dinheiro do que as negociações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) de Cruzeiro e Botafogo. Pela maior joia da base palmeirense, o clube merengue desembolsará € 72 milhões (R$ 407,81 milhões).

Segundo a Máquina do Esporte apurou, desse total, o Palmeiras, dono de 70% dos direitos federativos de Endrick, ficará com € 42 milhões (R$ 237,89 milhões). A família do jogador, que possui 30% do passe, receberá € 18 milhões (R$ 101,95 milhões). Outros € 12 milhões (R$ 67,97 milhões) serão destinados ao pagamento de impostos ao fisco espanhol.

“Concretizamos a maior negociação da história do futebol brasileiro. A proposta do Real Madrid é compatível com o enorme talento do Endrick e corresponde às metas esportivas e financeiras que estabelecemos desde o início das tratativas”, afirmou Leila Pereira, presidente do Palmeiras, ao confirmar a negociação.

Cifras recordes

A transação de Endrick é a maior negociação de um jogador do Palmeiras na história. Anteriormente, a liderança pertencia ao atacante Gabriel Jesus, negociado com o Manchester City por € 32 milhões.

Desde que deixou o Palmeiras, Gabriel Jesus disputou duas Copas do Mundo pela seleção brasileira (Rússia 2018 e Catar 2022). O atacante ficou no clube de Manchester até o final da última temporada, quando se transferiu para o Arsenal. Em Londres, tem sido um dos destaques da equipe, que é a atual líder da Premier League.

No futebol brasileiro, a transação de Endrick só perde para a venda de Neymar, que deixou o Santos já consagrado, aos 21 anos, para seguir para o Barcelona, em 2013. Segundo o site Transfermarkt, o negócio foi de € 88 milhões.

Cruzeiro e Botafogo

Uma comparação que tem sido muito feita no Brasil é que a negociação de Endrick envolveu valores superiores ao que Ronaldo Fenômeno gastou para se tornar detentor de 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Cruzeiro ou que o investidor John Textor desembolsou para ficar com 90% da SAF do Botafogo.

Segundo informações divulgadas à época, Ronaldo teria pagado R$ 400 milhões por 90% da SAF do Cruzeiro. A história, no entanto, não é bem essa. De acordo com o GE, o ex-atacante da seleção brasileira desembolsou “apenas” R$ 50 milhões no momento do negócio.

Os R$ 350 milhões restantes serão gerados pelas receitas que a SAF conseguir a partir deste ano. Foi feito um cálculo da média das receitas geradas pelo clube associativo entre 2017 e 2021, e caso a SAF não consiga alcançar esse faturamento, Ronaldo terá que fazer investimentos.

Já o Botafogo negociou inicialmente 10% de sua SAF com John Textor em troca de um empréstimo de R$ 50 milhões feito em fevereiro. O investimento total do empresário será de ao menos R$ 400 milhões em três anos.

Comparação difícil

Portanto, é fato que a venda de Endrick movimentou mais dinheiro que Cruzeiro e Botafogo. Apesar disso, para especialistas, é difícil comparar um jogador com um clube.

“Na Europa, compararam a venda do Grealish com a do Southampton. Você paga o valor do clube, mas tem custos para fazer a estrutura funcionar. O atleta você contrata, mas ele te traz um retorno. O custo é apenas com salário”, analisou Cesar Grafietti, sócio da consultoria Convocados.

O economista se refere à transferência do meia-atacante Jack Grealish realizada na última temporada, do Aston Villa para o Manchester City, por £ 100 milhões (R$ 645,8 milhões, na cotação atual). Em janeiro, o Southampton, time da Premier League, foi comprado pelo bilionário sérvio Dragan Solak também por £ 100 milhões.

“Quem compra um atleta por € 72 milhões, está buscando nele outros retornos. Ao comprar um clube, o gestor lida com um monte de outras questões que não lida com um atleta. Um time pode ter dívidas imensas, possui algumas centenas de profissionais e necessita captar receitas para funcionar. O risco é muito maior”, ponderou Grafietti.

Risco maior

Ou seja, os gastos para comprar um clube envolvem que o investidor assuma muito mais responsabilidades do que na contratação de apenas um atleta.

Normalmente, um clube é vendido quando passa por dificuldade financeira, obrigando o novo dono a realizar um trabalho de gestão capaz de reduzir o endividamento, além de governança que ponha salários em dia e ofereça boas condições de trabalho aos profissionais envolvidos em sua estrutura.

Com isso, cria-se a possibilidade de que o time conquiste um bom desempenho, atraindo patrocinadores, aumentando receitas com direitos de transmissão, trazendo torcedores ao estádio, obtendo maior arrecadação com programas de sócio-torcedor e venda de produtos licenciados, entre outras fontes de receita.

“O clube corre muito mais risco de não dar certo. Imagine que o Endrick ganhe quatro Champions League nos cinco primeiros anos de contrato. Ajudará o Real Madrid a aumentar o faturamento para € 2 bilhões”

Cesar Grafietti, sócio da consultoria Convocados

“Ao comprar um clube, para o gestor aumentar a arrecadação de € 300 milhões para € 350 milhões é um ‘parto da montanha’. Tem que lidar com um monte de custos. O atleta pode dar um retorno mais rápido e maior do que um clube é capaz de dar”, completou.

Atenção ao mercado

De fato, em relação aos últimos grandes investimentos feitos pelo Real Madrid na contratação de brasileiros, dois deles já vingaram no time principal: Vinícius Júnior e Rodrygo. Vini Jr., inclusive, fez o gol do título do Real Madrid na última edição da Champions League.

Já Reinier pode ser definido como uma negociação fracassada, uma vez que o atacante vem de temporadas apagadas emprestado a Borussia Dortmund e Girona.

“O Vini Jr. tem ajudado a manter o Real Madrid competitivo. O Rodrygo também. O Reinier foi e não rendeu. Mas estamos falando de dois acertos e um erro. É uma média alta. Mostra que o Real Madrid está atento ao mercado brasileiro e à contratação de jogadores cada vez mais jovens”, finalizou Grafietti.

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