Faltando quase três anos para os Jogos de Los Angeles 2028, as entidades que comandam o esporte olímpico no Brasil e no mundo estão cada vez mais atentas à questão da saúde mental.
Esse tema afeta desde cidadãos comuns até figuras renomadas do esporte, vide o caso recente do treinador Tite, que recusou a proposta para retornar ao Corinthians (time pelo qual conquistou o Mundial de Clubes de 2012) para cuidar justamente da saúde mental.
Nesta semana, os Comitês Olímpicos Internacional (COI) e do Brasil (COB) anunciaram novas ações voltadas a essa área.
Por meio do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), o COB lançou, nesta terça-feira (6), o curso “Saúde Mental no Esporte”.
O objetivo da iniciativa é promover o tema dentro do meio esportivo e oferecer ferramentas para apoiar esse processo. O curso é em formato de ensino a distância (EaD) e está disponível gratuitamente para atletas, treinadores e gestores esportivos, entre outros profissionais do meio.
“Quanto mais debatermos esse assunto sem preconceitos, maiores as chances de termos um ambiente esportivo mais saudável. Sabemos o quanto é importante equilibrar saúde mental e performance competitiva e ainda bem que hoje em dia é muito mais natural para os atletas e suas equipes falarem sobre isso. O COB tem um compromisso com a promoção da saúde mental e, neste ciclo, vai seguir uma tendência mundial e levar esse trabalho de saúde mental e performance para o entorno do atleta, treinadores e demais profissionais”, afirmou Marco Antonio La Porta, presidente do COB.
O curso, que pode ser acessado pela página do IOB, foi estruturado no formato de websérie, com três temporadas e carga horária total de duas horas. A participação dá direito a um certificado de conclusão.
A formação tem três principais objetivos: apresentar as desordens relacionadas à saúde mental; identificar os fatores de predisposição, manifestações e prevalência dessas desordens em atletas de alto rendimento; e oferecer ferramentas simples para a manutenção da saúde mental e a identificação precoce de possíveis problemas.
Nesta quarta-feira (7), foi a vez do ex-nadador brasileiro Bruno Fratus, medalhista de bronze nos Jogos de Tóquio 2020, ser anunciado como novo embaixador do COI na área de saúde mental.
Superar as frustrações
O ex-nadador brasileiro foi escolhido para auxiliar outros atletas porque sentiu, em sua trajetória, os impactos ocasionados pela frustração por não conquistar uma medalha no Campeonato Mundial de 2011.
Essas consequências invisíveis acabaram por se agravar no período entre os Jogos de Londres 2012 e os do Rio de Janeiro 2016.
Foi naquela época que a saúde mental passou a ser prioridade na vida de Bruno Fratus, que buscou meios de equilibrar corpo e mente.
Dessa forma, ele conseguiu subir ao pódio em Tóquio 2020, conquistando a medalha de bronze. Na sequência, Bruno Fratus tornou-se conselheiro para outros atletas, orientando e auxiliando nos cuidados necessários.
No ano passado, ele anunciou sua aposentadoria das competições e hoje é técnico nos Estados Unidos.
“Vamos cuidar uns dos outros. É por isso que estou tão entusiasmado em ser um embaixador de saúde mental do COI. Parece uma oportunidade de fazer algo com todas as informações preciosas que coletei ao longo dos anos. Estou muito animado para ajudar, principalmente quando sabemos que problemas de saúde mental podem ser superados com a assistência adequada. Não há problema em lutar. Eu e meus colegas embaixadores estaremos sempre prontos para ajudar”, afirmou Fratus.
Preocupação com o tema tem crescido
Antes mesmo dos Jogos de Paris 2024, a saúde mental já era um tema que estava em alta no universo esportivo brasileiro, sobretudo após a farmacêutica Medley fechar patrocínio ao COB, em 2023. Esse acordo foi renovado e ficará em vigor até pelo menos os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028.
Nos Jogos Pan-Americanos de 2023, a Medley deu início a uma estratégia de comunicação centrada na saúde física e mental.
Durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024, a marca agiu sob o mote “Eficaz em tudo o que faz”, sendo a mais citada nas redes sociais entre os patrocinadores olímpicos.
Realizada em parceria com a Máquina do Esporte, a campanha exaltou os destaques durante os Jogos, com histórias de superação que demonstraram a importância da saúde mental nos esportes. Rebeca Andrade (ginástica artística), Ana Marcela Cunha (águas abertas), Alison dos Santos (atletismo) e Isaquias Queiroz (canoagem de velocidade) são exemplos de atletas que participaram.
Com isso, a empresa registrou um crescimento na intenção de compra e na ampliação do reconhecimento entre diferentes públicos.
Com mais de 607 milhões de impressões e 53 milhões de pessoas alcançadas em todos os canais, a Medley também viu os conteúdos da marca gerarem mais de 135 mil interações e 1 bilhão de visualizações, consolidando ainda mais sua presença no universo digital.
Outras ações do COB e da Medley
Além do curso, o COB pretende ampliar os serviços de saúde mental e performance para que atendam não apenas atletas, mas também técnicos, equipes de apoio e profissionais do entorno esportivo.
Em Paris 2024, por exemplo, a entidade conduziu 247 ações na área, entre orientações, sessões com atletas, intervenções em treinos e suporte em competições. A atuação abrangeu 14 modalidades olímpicas e envolveu não só o cuidado direto com os atletas, mas também o gerenciamento de equipes e orientação técnica.
Dentre as iniciativas implementadas pela Medley está a assistente virtual Cássia, que já auxiliou mais de 100 mil pessoas desde a sua criação em 2023, por meio da oferta de suporte e recursos em saúde mental. Apenas em 2024, foram contabilizadas mais de 1 milhão de horas de interações com a assistente, sendo ansiedade e depressão os temas mais abordados.