A ex-nadadora Kirsty Coventry foi eleita presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), em eleição realizada nesta quinta-feira (20), durante a 144ª Assembleia da entidade. Bicampeã olímpica dos 200m costas (Atenas 2004 e Pequim 2008), Kirsty fez chegar às esferas diretivas o discurso do COI pela diversidade: será a primeira mulher e a primeira africana a assumir a presidência da organização, a partir de 23 de junho, no Dia Olímpico, quando sucederá Thomas Bach, atual mandatário.
“Agora, vou me reunir com o presidente Bach. Teremos alguns meses para uma transferência de poder”, afirmou Kirsty, em entrevista coletiva, logo após ser eleita.
A nova presidente, que pregou a união e o entendimento por meio do esporte para enfrentar um mundo dividido, disse que pretende ouvir as propostas dos seus seis adversários, todos homens, derrotados por ela nesta eleição.
“O que quero focar é reunir todos os candidatos. Houve tantas boas ideias e trocas nos últimos seis meses. Eu realmente gostaria de aproveitar isso. E então reunir todos novamente e fazer iniciar o trabalho”, comentou.
Fim de tabu
Atual ministra da Juventude, Esporte, Artes e Lazer do Zimbábue, Kirsty Coventry é apenas a 10ª presidente da história da entidade, de 131 anos, até então comandada apenas por homens brancos, com maioria europeia. A exceção havia sido o norte-americano Avery Brundage, presidente entre 1952 e 1972.
A zimbabuana recebeu 49 votos, exatamente o necessário para obter maioria simples entre os 97 membros do COI aptos a votar no primeiro turno da eleição. A vitória foi acachapante e surpreendente, já que Juan Antonio Samaranch Jr., que teve 28 votos, e Sebastian Coe, escolhido por 8 membros, ficaram bastante atrás.
Os demais adversários tiveram pouca representatividade no pleito: David Lappartient (4 votos), Morinari Watanabe (4), Johan Eliasch (2) e príncipe Feisal al Hussein (2).
O Colégio Eleitoral contou com a participação de dois brasileiros: Bernard Rajzman, ex-jogador de vôlei, e Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês).
“Não é apenas uma grande honra, mas um lembrete do meu compromisso com cada um de vocês de que irei liderar esta entidade com muito orgulho. Farei com que vocês fiquem muito orgulhosos e, espero, extremamente confiantes na decisão que tomaram hoje”
Kirsty Coventry, presidente eleita do COI
Jogos de Inverno
O primeiro desafio da nova presidente será dirigir os Jogos Olímpicos de Inverno de Milão-Cortina d’Ampezzo, marcados para fevereiro de 2026. Ela assumirá o cargo faltando menos de sete meses para a competição.
“Milão-Cortina será extremamente importante para o mundo de hoje, em que estamos muito divididos, e também LA [Los Angeles 2028] liderando para o futuro e [aproveitando] o sucesso de Paris [2024]”, afirmou Kirsty.
Em um momento de divergências na política mundial, a nova presidente exaltou o entendimento entre nações e dirigentes, mesmo que tenham visões diferentes para o futuro do COI.
“Nós temos que ser uma frente unida e trabalhar juntos. Nem sempre concordamos, mas temos que ser capazes de nos unir para a melhoria do Movimento [Olímpico]”, defendeu a dirigente.
“Tive mentores incríveis na minha jornada neste ambiente olímpico desde que cheguei [à Comissão de Atletas], em 2013. E uma das primeiras coisas que um deles me disse é que somos os guardiões e temos que servir ao Movimento para garantir que ele dure por gerações futuras. É isso que faremos”, destacou.

Campeões
A nova presidente também lembrou que o COI terá uma transição entre dois ex-atletas campeões olímpicos. Thomas Bach, o atual presidente, foi medalhista de ouro na esgrima, mais especificamente no florete por equipes, defendendo a Alemanha, em Montreal 1976.
“Faz uma grande diferença quando você está falando com atletas e consegue entender de onde eles vêm e o que eles são, porque você viveu e passou por isso, e isso é algo realmente poderoso”, declarou Kirsty.
“Então, estou honrada por ter tido sucesso aqui em Atenas 2004. A Grécia parece ser meu amuleto da sorte”, brincou a ex-nadadora, referindo-se ao fato de ter sido campeã olímpica na Grécia e eleita presidente do COI no mesmo país.
Trajetória
Kirsty é ministra no Zimbábue desde 2018, tendo entrado na estrutura do COI em 2013, como membro da Comissão de Atletas, cargo que ocupou até 2021, quando passou a ser membro do COI.
A nova presidente chegou a liderar a Comissão de Atletas, em 2018. Aos 41 anos, também foi representante da Comissão de Atletas do COI na Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), de 2012 a 2021. De 2014 a 2021, foi membro da Comissão de Atletas da própria Wada.
Natural de Harare, capital do Zimbábue, Kirsty disputou cinco edições das Olimpíadas, estreando em Sydney 2000 e deixando as piscinas olímpicas no Rio de Janeiro 2016. Nesse período, ganhou 2 ouros, 4 pratas e 1 bronze. Seu auge foram as conquistas do ouro nos 200m costas em Atenas 2004 e Pequim 2008.
Em 2011, ela chegou a disputar o Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro (RJ), como contratada do Minas Tênis Clube. Ela também ganhou três títulos no Mundial de Esportes Aquáticos e quatro ouros no Mundial de Piscina Curta (de 25m). Por fim, também é dona de um ouro nos Jogos da Comunidade Britânica e 14 comendas douradas nos Jogos Pan-Africanos.