João Palomino pode ser descrito como um desbravador. Atuou, durante vários anos, em grandes emissoras abertas como SBT, Cultura e a extinta Manchete. Mais tarde, seria um dos pioneiros do jornalismo esportivo na TV por assinatura, tendo ingressado no canal ESPN em 1995, até chegar ao cargo de vice-presidente, onde permaneceu de 2012 a 2019.
Em 2020, em pleno auge da pandemia de Covid-19, resolveu se aventurar pelo universo da internet e das redes sociais ao lado de Nilson Fujisawa, da empresa de tecnologia LineUp.
A LiveSports começou a operar de fato em março de 2021, mas a data sentimental que ele considera é 3 de setembro de 2020. Nesse dia, tomando café em uma padaria, ele e o sócio definiram as bases do novo negócio.
“Primeiro, escolhemos conceito, cor da logo e nome da empresa. Depois, fomos ver se estava disponível para registro”, recordou-se Palomino, entrevistado desta terça-feira (19) do Maquinistas, podcast transmitido ao vivo no canal da Máquina do Esporte no YouTube.
Na conversa com os apresentadores Erich Beting e Gheorge Rodriguez, o cofundador e CEO da LiveSports relembrou sua trajetória, iniciada em Taquaritinga (SP). Ele também comentou sobre os desafios da cobertura esportiva neste período de “crise existencial” da mídia, com um cenário marcado pela constante transformação e o surgimento de novas plataformas.
“Talvez a gente descubra formas diferentes de produzir e distribuir conteúdo, mas é muito importante entender que, ainda que surjam esses caminhos pelo digital, é preciso encontrar quem consome e quem paga a conta”, ponderou.
Um dos caminhos, na visão dele, estaria na produção de conteúdos voltados a nichos específicos do público.
“Muitas vezes você não terá números tão grandes de audiência, mas vai ter uma comunidade atendida. Isso abre a possibilidade para marcas não que dispõem de muitos recursos para anunciar na grande mídia, mas que podem investir naquela comunidade de interesse”, avaliou.
Palomino citou judô, basquete e futsal como exemplos de modalidades que conseguem produzir e distribuir conteúdos com um foco bem definido. E sentenciou: “Pobre da federação ou confederação que não enxerga esse fato de que precisa ser dona da produção de seus próprios conteúdos”.
Em pouco mais de dois anos no mercado, a LiveSports já acumula algumas experiências significativas nessa área. Uma das primeiras foi a parceria com o portal O Tempo, de Minas Gerais, para a transmissão dos jogos do Cruzeiro. “A expectativa deles era comercializar 35 mil pacotes, mas conseguiram vender 55 mil”, disse.
No Rally dos Sertões, a LiveSports conta com outra experiência bem-sucedida.
“Antes, eles costumavam fazer parcerias com emissoras de TV, que garantiam boletins de alguns minutos na programação. Com a nossa chegada, passamos a produzir quatro programas por dia, de uma hora e meia, mostrando tudo o que acontecia em cada etapa. E os números de audiência subiram 2.600% de uma temporada para outra”, afirmou Palomino.
Hoje, a LiveSports possui parceria com o Corinthians, que inclui transmissões ao vivo, como a do recente amistoso entre ex-jogadores da equipe paulista e do Real Madrid, na Neo Química Arena, no início deste mês. E a produção do “Universo Corinthians”, programa com uma hora de duração, veiculado na plataforma Universo SCCP e no canal do clube no YouTube. A exibição do treino aberto do Corinthians, em 15 de agosto, na véspera do segundo jogo da semifinal da Copa do Brasil contra o São Paulo, registrou a marca de 65 mil espectadores simultâneos.
Na entrevista, Palomino elogiou os trabalhos realizados atualmente por Flamengo e Vasco, considerando-os como referências na área de produção de conteúdos próprios por parte dos clubes.
Pirataria e crise existencial do mercado
Quem paga a conta? Esta foi uma questão levantada insistentemente por Palomino ao analisar um mercado em “crise existencial” diante da crescente concorrência de diferentes plataformas e em constante transformação.
“Hoje, o consumidor quer pagar cada vez menos essa conta. É só observar o que está acontecendo com a TV por assinatura, onde houve uma redução drástica no número de assinantes”, refletiu.
A pirataria de conteúdos é vista por ele como um problema que impacta fortemente o mercado esportivo.
“Isso tem de ser combatido com seriedade. Empresas estão fechando. Clubes estão deixando de ganhar dinheiro”, ponderou.
Nas exibições de jogos feitas para o portal O Tempo, por exemplo, a LiveSports preocupou-se em realizar uma campanha de conscientização junto aos torcedores do Cruzeiro, buscando convencê-los a consumirem os conteúdos oficiais, pois desta forma ajudariam também o clube, que receberia royalties sobre a venda dos pacotes (além dos direitos de transmissão).
Tecnologia de dados
Para Palomino, outro desafio para os clubes e entidades esportivas no Brasil é saber utilizar os dados, em um ambiente cada vez mais dominado pela tecnologia.
“Hoje em dia, existe no futebol do Brasil o conhecimento dos dados, mas falta saber o que fazer com eles. O clube precisa entender que, sem investimento, não vai chegar a lugar algum. É necessário trabalhar informações e marcas, ver quais produtos disponibilizar nos estádios, com base naquilo que os torcedores desejam. Falta aos times brasileiros algo que se pode observar no Manchester City ou no Manchester United, que lidam bem com essa questão dos dados, a ponto de usarem essa informação para escolher em quais mercados investir ou até mesmo os lugares onde será realizada a pré-temporada”, disse.
Projetos
Segundo Palomino, a LiveSports surgiu inicialmente com a ideia de produzir conteúdos para parceiros que não possuíam essa expertise em mídia. Hoje, a empresa conta com produções próprias, voltadas às mais diversas modalidades, que vão desde futebol (com destaque para o feminino) até basquete (NBA) e automobilismo.
A ideia, segundo o executivo, é seguir ampliando o campo de atuação, de modo que a LiveSports se converta em um canal propriamente dito. Por enquanto, Palomino não tem detalhes de como funcionaria essa operação nem qual seria a plataforma utilizada (se o YouTube ou funcionando de modo convencional).
“Queremos transmitir eventos, estar próximos de outras comunidades”, afirmou.
Na visão dele, esse trabalho teria de contar com o suporte das marcas para se viabilizar, tal como ocorre atualmente na TV aberta, que utiliza o dinheiro dos anunciantes para custear a produção de conteúdo.
Confira a íntegra da entrevista de João Palomino ao Maquinistas: