Principal empresa de mídia do país, o Grupo Globo acabou por se converter em uma espécie de objeto de desejo para profissionais de comunicação, que dificilmente recusariam um convite para trabalhar em algum dos canais do conglomerado.
O ex-jogador e atual comentarista de tênis Fernando Meligeni representa uma exceção a essa regra. Em entrevista concedida Erich Beting e Gheorge Rodriguez, no podcast Maquinistas, da Máquina do Esporte, Fininho contou o episódio inusitado, em que disse não à Globo.
À época, Meligeni havia acabado de deixar a ESPN e ficou sem contrato para trabalhar na mídia. Segundo ele, uma funcionária da Globo entrou em contato, oferecendo uma oportunidade no canal por assinatura Sportv.
“Saí da ESPN e fiquei quatro anos sem nada. O Sportv veio e me fez uma proposta. Mandei um e-mail respondendo: ‘Não, muito obrigado’. Aí veio uma contraproposta, que era quase o dobro do que eu ia ganhar. Respondi: ‘Não, obrigado’. Então, ela [a funcionária] mandou mais um aumento. ‘Não, obrigado’. Aí ela me ligou e perguntou: ‘Você tem algum problema com a Globo?’ Respondi: ‘Não, nenhum'”, relatou o ex-tenista.
A recusa, de acordo com ele, nada tinha a ver com fatores financeiros ou mesmo com questões envolvendo o Grupo Globo. A razão estava, na verdade, naquilo que Meligeni descreve como sendo uma espécie de “fogo interno”, que o move em tudo que faz.
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A perda dessa chama interna, inclusive, é que foi decisiva para sua aposentadoria nas quadras, em 2003. Na entrevista, ele contou sobre como consolidou a decisão de deixar de jogar profissionalmente.
“Eu tinha muito claro que não queria ficar no circuito tomando pancada. Meu pai sempre me ensinou a investir nas pessoas que trabalhavam comigo. ‘Se é para investir, investe pesado em quem trabalha com você. Pague bem e você terá gente boa ao seu lado. Se paga mal, você terá por muito pouco tempo essa pessoa. Depois ela vai embora'”, disse.
Durante a entrevista, Meligeni elogiou treinadores com quem trabalhou, como Ricardo Acioly (o Pardal) e Enrique Perez (o Bebe).
Em 2001, quando deixou de treinar com Acioly, Meligeni estava disposto a se aposentar de vez. “Então, esse meu último treinador, o Bebe, que é Enrique Perez, falou: ‘Não, você não pode parar ainda’. Ele me botou de novo no circuito por mais dois anos. Graças a ele voltei a ser [número] 50 do mundo. Fiz final de um [ATP] 500 em Acapulco. Fui campeão pan-americano, graças à minha volta”, afirmou.
Tempos depois, Enrique Perez daria a palavra decisiva para selar o fim da trajetória de Meligeni enquanto tenista profissional. “Esse mesmo cara, quando eu perdi em Roland Garros, antes do Pan – que eu paro em 2003 -, me estendeu a mão e disse: ‘Parabéns, sua carreira acabou'”, disse o ex-tenista.
De acordo com Meligeni, àquela altura da carreira ele já não sentia a chama interna, que considera essencial para se lançar de cabeça em qualquer projeto profissional.
O podcast Maquinistas, apresentado por Erich Beting e Gheorge Rodriguez, com a participação do ex-jogador e comentarista de tênis Fernando Meligeni, está disponível no canal da Máquina do Esporte no YouTube: