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Visão dos sócios e divisão das receitas são a grande força das ligas norte-americanas

No Maquinistas, Tiago Pinto, CEO da The Brand Academy, explicou por que esses dois elementos fazem a diferença nos negócios esportivos nos EUA

Minnesota Timberwolves e Oklahoma City Thunder se enfrentaram na final da Conferência Oeste da temporada 2024/2025 da NBA - Divulgação / NBA

Apesar dos avanços observados na última década, graças ao legado da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, o mercado esportivo brasileiro ainda enfrenta dificuldades estruturais para alcançar o próximo nível. A diferença para os modelos de gestão e de liga bem-sucedidos, como o norte-americano, não está apenas no volume de investimentos, mas também em uma mentalidade empresarial distinta.

No Maquinistas, o podcast da Máquina do Esporte, Tiago Pinto, CEO da The Brand Academy, explicou que as ligas norte-americanas, como NFL, NBA e MLB, entre outras, foram criadas desde o início como um negócio. Isso moldou uma estrutura em que a colaboração e a visão coletiva superam as rivalidades e os interesses individuais das franquias.

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O pilar central dessa estrutura é o conceito de que todos os proprietários de times são, antes de tudo, sócios do mesmo produto. A partir disso, existe um entendimento de que o sucesso individual de uma equipe está diretamente atrelado à força do campeonato como um todo, criando um grande “interesse comum” entre as franquias de uma mesma liga.

A manifestação mais clara dessa filosofia é o compartilhamento das receitas. A maior preocupação dos proprietários de equipes esportivas no mercado norte-americano é fazer o “bolo” do negócio crescer, para somente depois discutir o tamanho da “fatia” de cada um.

“A principal diferença é esse princípio do compartilhamento de receita. Isso faz com que os 30 ou 32 times, dependendo do tamanho de cada liga, sejam sócios. Existe um interesse comum, que é o crescimento do negócio. Depois, em segundo lugar, vem ‘qual é o tamanho da minha fatia'”, comentou o CEO da The Brand Academy.

Essa divisão de receitas não serve apenas para garantir a saúde financeira dos times em mercados menores, mas também funciona como um mecanismo estratégico de equilíbrio competitivo. 

Já no Brasil, a dificuldade em avançar mais rápido reside nessa barreira estrutural e cultural. O modelo baseado em associações, presidentes eleitos e uma lógica focada primariamente no resultado esportivo, e não no negócio, impede essa visão colaborativa. Um exemplo claro dessa fragmentação é a dificuldade histórica do futebol brasileiro em unificar a negociação dos direitos de transmissão, algo básico no modelo norte-americano.

“O que eu vejo de grande diferença é uma questão estrutural de como o esporte é gerido. Questão organizacional, agremiações com associados e presidente eleito, acesso e descenso [nas competições]. É uma questão primariamente esportiva, em que estamos tentando construir um negócio em cima”, disse Tiago Pinto.

“O esporte americano nasceu como um negócio. Já imaginou o futebol aqui no Brasil discutindo receita compartilhada entre todos os times? A gente não conseguiu unificar a negociação pelos direitos de TV. Então, eu acho que a questão aqui é uma dificuldade estrutural maior para se avançar mais rápido”, completou.

O podcast Maquinistas, apresentado por Erich Beting e Gheorge Rodriguez, com a participação de Tiago Pinto, CEO da The Brand Academy, está disponível no canal da Máquina do Esporte no YouTube: