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LeBron James, Hennessy e a linha tênue entre engajamento e engano na publicidade

Em um mundo em que autenticidade e propósito têm sido foco da maioria das marcas, o exagero na "teatralização" da surpresa pode gerar um efeito inverso: desinteresse, desconfiança e ruído

Repercussão da campanha da Hennessy estrelada por LeBron James foi majoritariamente negativa - Reprodução / YouTube (@HennessyOfficial)

O mundo do basquete parou quando LeBron James publicou um vídeo misterioso intitulado “The Second Decision” (“A Segunda Decisão”, em tradução livre) nas últimas semanas. A referência direta ao anúncio histórico de 2010, quando o astro revelou sua ida ao Miami Heat em rede nacional, fez torcedores, jornalistas e até investidores acreditarem que um novo capítulo bem relevante estava prestes a ser escrito. Muitos imaginaram até o anúncio da aposentadoria, com os ingressos para o possível “último jogo” de temporada regular do astro subindo mais de 400%.

Mas não era nada disso. Todo o suspense gerado resultou em “apenas” uma ação publicitária da Hennessy, marca de conhaque que é parceira de LeBron. No vídeo, o jogador brinca com o próprio passado ao dizer que “neste outono, vou levar meus talentos para a Hennessy V.S.O.P.”, repetindo ironicamente a frase que marcou sua saída do Cleveland Cavaliers há 15 anos.

Apesar de comprovadamente ter gerado aumento de interesse nas buscas, a página oficial da empresa no Instagram ganhou apenas 2 mil seguidores no dia do anúncio. A repercussão, porém, foi bem maior e majoritariamente negativa. Nas redes, o sentimento foi de revolta: o público se sentiu enganado, e a imprensa esportiva chamou o episódio de “o maior clickbait (estratégia que usa títulos ou imagens sensacionalistas, exagerados e muitas vezes enganosos, para fazer com que as pessoas cliquem em um link, com o objetivo de gerar tráfego para um site e também receita publicitária) da história da NBA”.

Mais do que um caso pontual, o modelo escancara os riscos de campanhas que apostam na quebra de expectativa emocional. Ao brincar com algo tão simbólico quanto a aposentadoria de um ídolo, a ação acabou afetando não apenas a imagem de LeBron, mas também a credibilidade de um setor publicitário que já luta contra o descrédito, ainda mais no mercado brasileiro, com as recentes polêmicas nas premiações de Cannes.

Em um mundo em que autenticidade e propósito têm sido foco da maioria das marcas, o exagero na “teatralização” da surpresa pode gerar um efeito inverso: desinteresse, desconfiança e ruído.

O conteúdo desta publicação foi retirado da newsletter semanal Engrenagem da Máquina, da Máquina do Esporte, feita para profissionais do mercado, marcas e agências. Para receber mais análises deste tipo, além de casos do mercado, indicações de eventos, empregos e mais, inscreva-se gratuitamente por meio deste link. A Engrenagem conta com uma nova edição todas as quintas-feiras, às 9h09.