Relatório: Empresas de combustíveis fósseis gastam US$ 5,6 bilhões em patrocínios esportivos

Aramco é patrocinadora e dona dos naming rights da Aston Martin na F1 - Reprodução / Instagram (@astonmartinf1)

As empresas especializadas no mercado de combustíveis fósseis (petróleo e gás natural) gastam, atualmente, cerca de US$ 5,6 bilhões em patrocínios esportivos. A revelação foi feita em um relatório produzido pelo New Weather Institute (NWI), uma think-tank criada para “acelerar a rápida transição para uma economia justa que prospere dentro dos limites planetários”.

De acordo com o estudo, são 205 acordos no total. O esporte a motor, especialmente o automobilismo, é o que mais se beneficia, com US$ 2,19 bilhões e 40 parcerias ativas. O futebol ficou em segundo lugar, acumulando US$ 994 milhões em 59 negócios, enquanto o críquete, o futebol americano e o ciclismo, que arrecadaram mais de US$ 450 milhões com seus respectivos patrocínios, fecham o Top 5.

Entre as empresas, quem mais gasta é a Aramco, com US$ 1,3 bilhão. A gigante petrolífera saudita possui dez acordos, entre eles com F1 e Fifa. A segunda colocação é ocupada pela petroquímica britânica Ineos, com US$ 777 milhões investidos em sete patrocínios. Em seguida, vêm a também britânica Shell e a francesa TotalEnergies, com US$ 470 milhões e US$ 340 milhões gastos, respectivamente.

Por fim, a lista de atletas que se beneficiam de patrocínios do segmento também é grande e conta com nomes como Lionel Messi (futebol), Cristiano Ronaldo (futebol), Anthony Joshua (boxe), Tyson Fury (boxe) e Eliud Kipchoge (atletismo). O relatório afirma alguns dos atletas envolvidos com esse tipo de patrocínio são incentivados a alinhar as postagens nas suas redes sociais com o apoio às empresas do segmento.

Sportswashing

Ainda no estudo, o NWI é duro ao decretar que as marcas que lidam com combustíveis fósseis no dia a dia realizam o chamado “sportswashing”, nome dado à utilização do esporte como forma de melhorar a imagem pública de uma pessoa, empresa ou até de um país. A Arábia Saudita, por exemplo, é acusada de sportswashing com o intuito de esconder as violações de direitos humanos cometidas pelo reino.

Para o NWI, todas as empresas citadas no relatório usam os patrocínios de forma “enganosa para o público e como um obstáculo aos esforços de descarbonização”, apesar dos apelos feitos cada vez em maior número para proteção do meio ambiente.

“As empresas petrolíferas adiam o problema da ação climática e colocam mais lenha na fogueira do aquecimento global, usando, para isso, o velho manual das companhias de tabaco, tentando se fazer passar por apoiadoras esportivas. Mas a poluição atmosférica causada pelos combustíveis fósseis e as condições meteorológicas extremas de um mundo em aquecimento ameaçam o próprio futuro dos atletas, dos fãs e de eventos que vão desde os Jogos Olímpicos de Inverno até as Copas do Mundo. Se quisermos que o esporte tenha futuro, é necessário se limpar do dinheiro sujo dos grandes poluidores e parar de promover a sua própria destruição”, criticou Andrew Simms, codiretor do NWI.

Não à toa, o estudo foi divulgado às vésperas da Cimeira do Futuro, que promete ser o ponto alto da 79ª Assembleia-Geral das Nações Unidas e ocorrerá nos próximos dias, em Nova York (EUA). No encontro, que contará com chefes de estado e de governo de todo o mundo, o objetivo será discutir a “necessidade inadiável” de uma maior cooperação internacional para enfrentar desafios urgentes, como as alterações climáticas. Outros temas, como pobreza e desigualdade, também serão debatidos.

Vale destacar ainda que o relatório se dispôs a propor cinco recomendações para organizações esportivas e órgãos dirigentes do esporte mundial. A lista inclui a introdução de proibições de patrocínios de empresas de combustíveis fósseis, maior diligência com relação ao histórico das empresas quando o assunto são as alterações climáticas e maiores esforços para encontrar fontes de financiamento mais sustentáveis.

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