Conhecido no mercado esportivo por ser parceiro mídia da LaLiga, o Grupo Mediapro prepara um passo ousado no seu aniversário de 30 anos. A empresa, que tem sede em Barcelona, na Espanha, está lançando fundo de corretagem de direitos esportivos avaliado em US$ 1,1 bilhão (R$ 6,3 bilhões, pela cotação atual) voltado a modalidades estabelecidas e também às emergentes.
Fundada em 1994 por Jaume Roures e Tatxo Benet (que exerce os cargos de presidente e CEO no grupo), a Mediapro deve seu crescimento aos negócios envolvendo direitos esportivos. Foi assim que ela se expandiu globalmente, passando a contar com escritórios em países como Portugal, Brasil, Hungria, Holanda, Estados Unidos e Emirados Árabes.
Na Argentina, por exemplo, a Mediapro adquiriu as operações locais do Fox Sports em 2022, depois que a Comissão Nacional de Defesa da Competição (CNDC) forçou a Disney a se desfazer do canal esportivo, por ocasião da compra da 21st Century Fox. A venda foi uma condição imposta pelo órgão governamental para autorizar a negociação no país.
A partir de 2015, o conglomerado passou a investir na área de teledramaturgia, com produções que alcançaram sucesso internacional como “The New Pope”, “Locked Up” e “The Head”.
Durante o anúncio do novo fundo, ocorrido em Madri, na Espanha, nesta terça-feira (30), Benet afirmou que o grupo já conversa com investidores interessados no negócio e que o conglomerado pretende avançar para muito além do mercado europeu, que hoje é dominado pela Sky, que pagará em torno de US$ 3,2 bilhões (R$ 18,4 bilhões) relativos a direitos esportivos adquiridos, apenas na temporada 2024/2025.
“Nossa intenção é buscar apoio econômico. Nossa empresa trabalha em todo o mundo. Podemos usar nossa experiência para desenvolver um esporte, fazer com que valha mais dinheiro e nos beneficiar disso, como qualquer outro fundo de investimento faz”, declarou.
Outra aposta da Mediapro consiste no Yonkers Studios, de 10,2 mil metros quadrados e que funcionará em Nova York, nos Estados Unidos, a partir do ano que vem, com investimentos previstos de US$ 60 milhões (quase R$ 346 milhões) ao longo de dez anos. A expectativa é de que a estrutura apresente 60% de ocupação já em 2025, passando a responder por 20% das receitas do conglomerado no país norte-americano.
Superando momentos difíceis
O forte movimento de expansão global da Mediapro, tanto na área de teledramaturgia quanto na de direitos esportivos, mostra que o grupo superou os momentos difíceis enfrentados há alguns anos e que abalaram sua presença em importantes mercados internacionais.
O mais conhecido deles envolve o contrato firmado em 2018 com a Liga de Futebol Profissional (LFP), da França, para a compra dos direitos de transmissão da Ligue 1.
Na licitação para o ciclo 2020/2024, a Mediapro adquiriu quatro dos cinco lotes principais da Ligue 1, tendo direito às principais partidas da primeira divisão e a oito de dez jogos semanais da Ligue 2.
Na época, a LFP chegou a faturar € 1,153 bilhão com os direitos da Ligue 1 (domésticos e internacionais), sendo que a emissora espanhola pagava € 780 milhões por temporada.
A LPF também fechou com Canal+ e Free, com a negociação total atingindo € 650 milhões, apenas no mercado doméstico. As transmissões da Mediapro eram feitas por meio de uma emissora paga chamada Téléfoot, que operava em parceria com o TGF Group (responsável pelo conteúdo) e que funcionou de 17 de agosto de 2020 a 8 de fevereiro de 2021.
Para azar da Mediapro, porém, seu avanço sobre o mercado francês deu-se em meio ao auge da pandemia da Covid-19, que paralisou campeonatos, fechou estádios e abalou as finanças dos grandes grupos de mídia, que se viram forçados a renegociar acordos de direitos de transmissão.
Em dezembro de 2020, Mediapro resolveu deixar o negócio, em comum acordo com a LPF, que precisou realizar uma licitação emergencial para o restante do ciclo que se encerraria em 2024.
O novo contrato resultou em mais perda de dinheiro, com o faturamento anual passando a ser de € 624 milhões. Dessa forma, no ciclo 2021/2024, a competição foi transmitida por Canal+, BeIN, Amazon Prime Video e Free.
Desde a saída da Mediapro, a Ligue 1 vem sofrendo forte desvalorização, alcançando os piores níveis em 19 anos, fato que é agravado pela recente debandada de estrelas como Neymar, Lionel Messi e Kylian Mbappé.
Canadá
No Canadá, a Mediapro também enfrentou situações problemáticas envolvendo direitos de transmissão. Em 2019, a empresa firmou acordo com a Associação Canadense de Futebol para a transmissão dos principais campeonatos locais de futebol e também os da seleção do país. Naquele mesmo ano, foi lançado o OneSoccer, serviço de streaming por assinatura, para a distribuição desses conteúdos.
Em janeiro de 2024, porém, a Canadian Soccer Business (CSB), empresa de marketing esportivo que representa os ativos comerciais do futebol no país, ingressou com ação judicial contra a Mediapro, alegando que a companhia espanhola teria deixado de “cumprir obrigações contratuais significativas, incluindo com a inadimplência na maioria de suas taxas de direitos”, além de falhar em ampliar o público das competições do canadenses.
Os dois lados envolvidos na disputa acabaram chegando a um acordo fora dos tribunais, com a propriedade do OneSoccer sendo transferida para a Timeless, empresa ligada à CSB. A Mediapro segue como responsável por produzir as transmissões da Premier League canandense, principal campeonato do país, até o fim deste ano.