A NFL e a ESPN (braço esportivo do Grupo Disney) fecharam, há cerca de dez dias, um acordo que já é considerado um divisor de águas na indústria esportiva. A liga de futebol americano adquiriu 10% da ESPN em troca de seus canais (NFL Network e NFL RedZone) e ativos digitais (NFL Fantasy e direitos de pré-temporada), criando uma aliança econômica e estratégica inédita.
Para a NFL, a vantagem está na redução de custos operacionais ao transferir parte da infraestrutura de mídia à ESPN, além de ganhar participação na maior empresa esportiva do mundo, ampliar sua influência na distribuição e garantir integração de produtos premium como o NFL+ Premium.
Já a ESPN consolida conteúdo de alto valor, fortalecendo seu novo serviço de streaming direto ao consumidor (D2C), que estreará na próxima quinta-feira (21), e reúne todo o portfólio de canais da emissora, com mais de 47 mil eventos ao vivo por ano sem intermediários.
Por que agora?
Nos Estados Unidos, operadoras de TV a cabo raramente oferecem serviços de internet, diferentemente do Brasil, onde empresas como Vivo e Claro atuam em ambos. Quando um cliente cancela a TV a cabo aqui, a perda costuma ser compensada pelo aumento nas assinaturas de internet, principal motivo dos cancelamentos, já que o streaming depende da conexão on-line.
Os números da TV paga nos EUA são preocupantes: em 2023, 57 milhões de residências tinham o serviço, sendo 35 milhões de TV a cabo, com previsão de queda para 27,1 milhões até 2028. Essa redução acelera o investimento em modelos D2C, movimento liderado pela ESPN ao centralizar suas operações de streaming.

No início do mês, a Disney divulgou resultados que refletem essa transformação: receitas do segmento de entretenimento de Linear Networks (TV aberta e a cabo) caíram 15%, enquanto serviços D2C, como Disney+, Hulu e ESPN+, cresceram 6%. Para a ESPN doméstica, o lucro operacional caiu 7%, pressionado por maiores custos de programação (NBA e esportes universitários) e leve redução na audiência média, parcialmente compensada por tarifas publicitárias maiores.
Segundo o CEO da Disney, Bob Iger, a integração entre ESPN e NFL é essencial para construir um portfólio de streaming “totalmente diferenciado”, que une esportes de alto nível (NFL, NBA e grandes eventos universitários) a experiências digitais interativas e ofertas D2C. Ele afirmou que estão transformando a ESPN na plataforma digital de esportes por excelência, com o lançamento da aguardada oferta direta ao consumidor, expandindo programação e conteúdo para os fãs, e anunciou ainda que a ESPN será o lar exclusivo dos eventos ao vivo premium da WWE.
Além da NFL, outras grandes ligas dos EUA têm firmado acordos estratégicos com grupos de mídia para ampliar exposição e engajamento. A Paramount assinou um contrato de US$ 7,7 bilhões pelos direitos do UFC a partir de 2026, enquanto a Fox virou acionista minoritária da Penske Entertainment, que gerencia a Fórmula Indy. Esses movimentos mostram a tendência norte-americana de integrar propriedades esportivas às grandes mídias para fortalecer negócios, inovar em conteúdo e ampliar públicos.
Se aprovado pelo Departamento de Justiça dos EUA, o modelo pode servir de referência para outras ligas, inaugurando uma nova fase em que as principais entidades esportivas deixam de ser apenas fornecedoras de conteúdo e passam a ser sócias estratégicas das plataformas de distribuição.
Acordo resumido:
Participação acionária: NFL adquire 10% da ESPN.
Ativos cedidos: NFL Network, NFL RedZone, NFL Fantasy e direitos de pré-temporada.
Streaming D2C ESPN: Lançamento na próxima quinta-feira (21), com mais de 47 mil eventos ao vivo por ano.
Base de assinantes Disney: Disney+ (127,8 milhões), Hulu (55,5 milhões) e ESPN+ (24,1 milhões).
Mercado EUA: Queda projetada de 22% nas assinaturas de TV a cabo até 2028.
Impacto esperado: Redução de custos para a NFL, fortalecimento da base de streaming para a ESPN, e barreiras de entrada para concorrentes.
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