O rebaixamento do Santos para a Série B do Brasileirão (o primeiro da equipe, em seus 111 anos de história), ocorrido neste ano, tem o potencial para bagunçar os direitos de transmissão da competição em 2024.
O enredo possui vários elementos que justificam a afirmação. Por um lado, um clube abalado não apenas moralmente, mas, acima de tudo, financeiramente. E que busca, portanto, ampliar sua previsão de receitas em um cenário adverso.
Por outro lado, o Santos acaba de sair do processo eleitoral, realizado no último sábado (9) e que resultou no retorno de Marcelo Teixeira à presidência da equipe.
Nesta semana, ao comentar sobre a questão específica das cotas de TV para o jornal A Tribuna, da cidade de Santos, o mandatário eleito deu a seguinte declaração:
“Estamos conversando com a Libra [Liga do Futebol Brasileiro] e o pensamento da gestão já manifestamos. Independentemente de disputar Campeonato Paulista, Série A ou Série B, o Santos tem uma marca, história, tradição. Essa marca é valorosa, o Santos será a vitrine (da Série B), será audiência máxima dos veículos de comunicação e, automaticamente, não comparando com todos os demais clubes que já passaram por esse momento, nós somos o Santos”, afirmou o mandatário.
Um complicador adicional é que a atual diretoria do clube, comandada pelo presidente Andrés Rueda, já pegou, em 2023, um adiantamento de R$ 30 milhões, relativo à cota de R$ 40 milhões que o Santos teria a receber por sua participação no Paulistão do ano que vem. Dessa forma, restariam apenas R$ 10 milhões dos direitos de TV do Estadual de 2024.
A falta de dinheiro e de perspectivas a curto prazo para o clube, aliada à aparente disposição da nova diretoria em endurecer o jogo em uma possível negociação, ajuda a tornar ainda mais indefinido o já complexo cenário envolvendo o Peixe.
Na Série B, o Santos possui duas alternativas para negociar os direitos de transmissão. A primeira delas seria com o Grupo Globo, com quem o clube tem um contrato válido para a Série A, mas também com possibilidade de expandir para a Série B. A outra, com a agência Brax Sports Assets, que comprou da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) os direitos de mídia da Série B. Veja abaixo como são os dois cenários:
A alternativa Brax
Para fechar com a Brax, o Santos precisaria abrir negociação com a agência, que comprou até 2026 os direitos comerciais e de mídia da Série B.
Em 2023, ao assumir os direitos de transmissão da Segundona, a empresa adotou um modelo mais igualitário de distribuição de receitas de TV, destinando um total de R$ 210 milhões para ser dividido entre os 20 participantes da competição, o que resultou em pouco mais de R$ 10 milhões por time. Devido aos acessos conquistados em 2022 por Vasco, Grêmio e Cruzeiro, a competição deixou de contar com equipes que figuram entre as maiores torcidas do país.
Inicialmente, para 2024, a Brax previa distribuir R$ 231 milhões entre os clubes da Série B do Brasileirão, o que representaria uma cota individual de R$ 11,5 milhões.
O grande entrave é que, pelas declarações feitas por Marcelo Teixeira, a tendência atual é de que o Santos opte por endurecer o jogo, na tentativa de obter uma fatia maior para si.
Em 17 de outubro deste ano, o clube firmou contrato com a Brax, para comercialização das placas publicitárias do Estádio da Vila Belmiro. O Santos foi o primeiro time ligado à Libra a fechar com a agência. Esse acordo, que rendeu R$ 25 milhões em luvas ao time alvinegro (segundo apurou a Máquina do Esporte), será válido para os Brasileirões de 2025 a 2029.
Vale lembrar que o contrato foi firmado pela diretoria que está deixando o comando do Santos. Portanto, não é possível afirmar, hoje, que os novos mandatários manterão a boa relação com a empresa de marketing esportivo em nome do acordo já existente. Nem que a parceria das placas publicitárias será decisiva para definir a questão dos direitos de transmissão da equipe na Série B.
A cláusula com o Grupo Globo
O atual contrato de direitos de transmissão do Santos é com o Grupo Globo. O acordo é válido para a Série A, mas tem uma cláusula que permitiria ao clube acionar a regra para receber uma receita estipulada no pay-per-view, que é o equivalente a 3,1% do montante que a emissora destina para todos os times que participam da divisão desse bolo. Tomando por base os valores que vigoraram em 2023, o valor também está na casa dos R$ 11,5 milhões.
Se optar pela Globo, o Santos poderá dar uma séria dor de cabeça à Brax, por conta da Lei do Mandante. Segundo a Máquina do Esporte apurou, o entendimento jurídico da emissora é de que ela passaria a ter exclusividade de transmissão, em qualquer mídia (TV aberta, TV fechada, pay-per-view e streaming), de todas as partidas do Santos como mandante na Série B.
Os canais da Globo, por sua vez, não poderiam transmitir os jogos do time como visitante, pois estariam sob a alçada da Brax. Neste ano, ainda esteve em vigor o contrato da agência com a Globo para a transmissão de jogos da Série B no Sportv e no Premiere.
Na TV aberta, o campeonato foi exibido pela Band (parceira da Brax), que perderia a exclusividade na plataforma, caso o Santos optasse pela regra do pay-per-view.
No início deste mês, a informação que circulava era de que a Globo aguardava a definição dos quatro rebaixados da Série A para, então, iniciar as conversas com a Brax quanto a uma possível renovação do contrato relativo à Série B. A presença do Santos no ano que vem impactará diretamente os custos dessa negociação.