A cidade de São Paulo (SP) se tornou, em 2024, a única do mundo a sediar os principais campeonatos da Federação Internacional de Automobilismo (FIA): Fórmula 1, Fórmula E e Campeonato Mundial de Endurance (WEC). Os eventos, somados a diversas outras categorias nacionais de destaque, consolidam a metrópole paulista como o principal motor do automobilismo no Brasil.
Além das principais categorias da FIA, a cidade de São Paulo também recebe Stock Car, TCR, Fórmula 4 Brasil, Porsche Cup, Nascar Brasil, Fórmula Truck e Turismo Nacional, entre várias outras. Todas estas são realizadas no Autódromo de Interlagos, localizado na zona sul da capital paulista.
O movimento acompanha o crescimento do interesse pelo automobilismo no Brasil. De acordo com a pesquisa Sponsorlink, realizada pelo Ibope Repucom, no final de 2024, 56% dos brasileiros conectados com 18 anos ou mais se declararam fãs de automobilismo, o que corresponde a 65 milhões de pessoas.
Desde 2019, data da última edição da pesquisa, esse grupo cresceu 63% no país, um acréscimo de 25 milhões de fãs.
“É muito claro o quanto São Paulo se consolidou como a capital mundial do automobilismo. Principalmente por ser a única cidade do mundo e da história a receber as três principais categorias da FIA, mas, mais do que isso, pelo automobilismo nacional ter crescido muito também”, disse Gustavo Pires, CEO da SPTuris, empresa oficial de turismo e eventos da cidade de São Paulo, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Ninguém me pediu ingresso da Porsche Cup há quatro anos. Agora, só falam comigo sobre a etapa que vai acontecer no final do mês. Acho que a gente também vem se consolidando nesse sentido”, acrescentou.
Mercado
A visão do mercado sobre a cidade de São Paulo facilita a negociação e a aproximação de novos eventos. Segundo Gustavo Pires, a capital paulista, com mais de 11 milhões de habitantes, se diferencia por oferecer público qualificado e estrutura adequada.
“Facilita muito para a gente trabalhar em São Paulo, sem sombra de dúvida. Hoje, depois dessa consolidação de São Paulo no topo dos eventos globais, não existe uma marca ou evento global que, quando pensa em sua marca e pensa na América Latina, não pense em São Paulo”, afirmou.
“São milhões de pessoas, um público diverso, com poder aquisitivo alto. É uma cidade que tem quem compre o evento e oferece uma rede hoteleira gigantesca capaz de atrair os turistas. E o interior do próprio estado com poder aquisitivo também”, completou.
O mercado nacional também enxerga São Paulo (e Interlagos) como o principal destino. Em 2025, Stock Car, Turismo Nacional e Fórmula 4 Brasil, categorias promovidas pela Vicar, encerrarão suas temporadas no autódromo.
Impacto
A evolução da presença dos eventos automobilísticos em São Paulo é vista com bons olhos pela cidade também por conta dos impactos causados por suas realizações.
Em 2024, Fórmula 1, Fórmula E e WEC, os principais eventos que foram realizados na capital paulista, geraram um impacto econômico na casa dos R$ 2,5 bilhões.
“Os comerciantes do entorno de Interlagos, os ambulantes, o motorista de aplicativo, o taxista, quem trabalha numa área voltada ao setor, rede hoteleira, bares, restaurantes, por exemplo, agradece imensamente pelos eventos. Isso gerou mais emprego e renda”, apontou Gustavo Pires.
“Se falarmos de ISS [Imposto sobre Serviços] arrecadado, batemos recorde atrás de recorde desde 2023 na cidade. Isso se deve aos eventos [no geral]. Então, é mais dinheiro para a cidade poder investir em hospital, escola, etc.”, acrescentou.
Os impactos se estendem para a imagem internacional de São Paulo. Os eventos internacionais divulgam o nome da cidade e geram maior interesse sobre ela. O GP São Paulo de Fórmula 1 de 2024, por exemplo, gerou uma exposição na mídia avaliada em US$ 477,3 milhões (cerca de R$ 2,58 bilhões).
“São Paulo está sendo transmitida para todo o resto do Brasil, assim como para todo o resto do mundo, nos interessa muito. Acaba sendo uma via de mão dupla em que todos ganham e é por isso que a nossa gestão investe participativamente na vinda desses eventos”, exaltou.
Negociações
Ainda que já esteja consolidada como a capital do automobilismo no Brasil, São Paulo não quer parar por aí. Gustavo Pires revelou que existem negociações com mais dois eventos automobilísticos internacionais.
Apesar de não confirmar quais são os eventos, o CEO da SPTuris admitiu que existem conversas com a Nascar, categoria norte-americana que costuma correr em circuitos ovais e tem se aproximado do automobilismo brasileiro nos últimos anos, até mesmo com uma categoria própria, a Nascar Brasil.
“A conversa é ótima com a Nascar. A gente tem todo o interesse de trazê-la. O Autódromo de Interlagos tem todas as condições de receber uma prova da Nascar, e a categoria também quer muito vir para São Paulo”, contou.
A intenção de São Paulo é receber uma etapa oficial da Nascar, e não um evento festivo. A corrida poderia ser realizada tanto no circuito normal de Interlagos, utilizado pela F1, por exemplo, quanto em um traçado misto, utilizando o anel externo da pista.
“Nos falaram que poderia ser o circuito normal e que dá para fazer misto. Nós nunca descartamos a ideia de precisar usar o anel externo, para nenhum evento. Sempre tentaremos ser o mais receptivos possível. Então, o que tiver dentro das nossas limitações, vamos atrás de fazer”, garantiu Gustavo Pires.
“Ainda temos uma série de questões para desenvolver. Então, não dá para ter certeza de que vai ter Nascar em São Paulo e nem que não vai ter. Estamos evoluindo, é um trabalho feito por gente muito séria e um evento que com certeza nos interessa”, ponderou o executivo.
No ano passado, Gustavo Pires também informou ao site Grande Prêmio que São Paulo estaria em negociações com a Fórmula Indy. A categoria norte-americana chegou a realizar etapas na capital paulista entre 2010 e 2013, com corridas no Sambódromo do Anhembi, assim como acontece atualmente com a Fórmula E.
“Se tiver outro evento que não está no meu radar, mas que quer vir atrás de nós, a gente quer. Queremos os melhores e maiores eventos do mundo em São Paulo. Claro, dentro da nossa realidade, temos uma limitação em questão de investimento natural, que todo lugar tem. Então, estamos buscando parcerias com o setor privado para a gente prospectar ainda mais eventos”, ponderou Gustavo Pires à Máquina do Esporte.
“São Paulo está mirando mais parcerias com o setor privado, para trazer ainda mais eventos de uma forma que onere o mínimo a máquina pública. Queremos crescer o número de turistas, o impacto e a geração de emprego, além de melhorar a qualidade também”, concluiu.