Uma entrevista inocente do ala-armador Anthony Edwards, do Minnesota Timberwolves, desencadeou uma polêmica entre as duas maiores fabricantes de material esportivo do planeta: Nike e Adidas.
Tudo começou quando o site Nice Kicks, especializado na cobertura de calçados esportivos, questionou Edwards sobre quem ele gostaria que usasse o AE 1, o primeiro tênis de sua linha exclusiva com a Adidas. O produto será lançado nos Estados Unidos no próximo dia 16 de dezembro, ao preço de US$ 120.
O ala-armador de 22 anos, primeira escolha do draft de 2020 e uma das apostas da Adidas para penetrar na Geração Z e no mercado norte-americano de basquete, respondeu prontamente: “KD”, referindo-se a Kevin Durant, que possui contrato vitalício com a Nike.
“Ele está com a Nike. Gostaria de ver ele com um desses uma vez”, acrescentou o jogador.
O repórter ainda fez a observação de que Kevin Durant talvez pudesse usar o tênis em um treinamento. “Não, em um jogo”, respondeu o atleta do Minnesota, ante risos do entrevistador.
Bate-boca
O vídeo viralizou nas redes sociais e motivou uma resposta não muito educada de Kevin Durant. O jogador do Phoenix Suns não gostou da brincadeira e respondeu prontamente em sua conta oficial no X (antigo Twitter): “Você nunca me verá colocando um dedo nestes filhos da p…”.
A Adidas ficou incomodada em ser detratada pelo jogador da concorrente e respondeu de forma contundente em sua conta oficial. “Você está só o pó e em breve vai se aposentar, de qualquer maneira”, postou a conta oficial da marca de material esportivo, referindo-se ao jogador, que está atualmente com 35 anos.
Pouco tempo depois, a Adidas apagou o tuíte, que já havia sido printado por muitos fãs de basquete e compartilhado nas redes sociais.
Em seguida, a empresa afirmou que gostaria de ter “enviado isso” (referindo-se à resposta mal-educada) por meio de uma outra conta, não no perfil oficial da empresa. A ironia foi devido ao fato de Durant já ter sido flagrado usando contas falsas para defender seus pontos de vista na terceira pessoa. Em 2017, inclusive, ele teria se esquecido de logar em seu perfil fake e publicado mensagens criticando companheiros de time e o treinador em sua conta oficial.
Na NBA
Por trás da brincadeira de Edwards e da irritação de Durant, há um mercado bilionário de material esportivo na liga norte-americana de basquete sendo disputado pelas gigantes.
Por 11 anos, a Adidas deteve o monopólio do fornecimento de material esportivo para a NBA, em um contrato que chegou a US$ 400 milhões por ano e foi encerrado em 2017. À ocasião, a marca alemã não tinha direito de exposição de marca nos uniformes.
A partir da temporada 2017/2018, a Nike se tornou a fornecedora oficial tanto da NBA como da WNBA e da G League, a liga de desenvolvimento da NBA, que possui o “G” no nome por causa do patrocínio da Gatorade. O atual acordo é válido por oito anos e dá direito à marca do Oregon de expor o Swoosh (logotipo da Nike) na camisa das 30 franquias (29 dos EUA e uma do Canadá) que jogam a competição.
Disputa de mercado
Afora a disputa pelas camisas, há a guerra pelos pés dos jogadores. O mercado global de calçados de basquete atingiu o patamar de US$ 2,5 bilhões em 2023, segundo a agência de pesquisa Rational Stat. Boa parte do público global é influenciado pelo que usam os principais astros da maior liga de basquete do planeta.
Além do quase monopólio esportivo na modalidade, a NBA e seus astros também criaram um estilo de vida e uma moda própria que influenciam na decisão de compra do fã de basquete ao redor do mundo. Ou seja, muito mais do que um material esportivo voltado para a performance em quadra, o tênis de basquete ganhou status de artigo desejado para usar nas ruas.
De acordo com a mesma pesquisa, com esse ativo como trunfo, o mercado de tênis de basquete manterá uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 5,3% nos próximos anos, atingindo o patamar de US$ 3,6 bilhões de faturamento em 2030.
Há, claro, outras grandes empresas de material esportivo investindo no basquete. É o caso, por exemplo, de New Balance, Puma e Under Armour, cuja grande conquista foi tirar da Nike a principal estrela do Golden State Warriors, o armador Stephen Curry, e contratá-lo como seu principal embaixador na modalidade em 2013. Independentemente dessa jogada bem-sucedida, porém, os líderes desse segmento continuam sendo Nike e Adidas.
Marketing agressivo
Em franca disputa pelo mercado, a Adidas não teve receio de falar mal da concorrência ao destacar, em outubro, o novo tênis que será usado por Edwards. A marca alemã de material esportivo criticou os modelos de Nike, Jordan Brand e Puma antes de revelar seu lançamento.
“Quando olhamos para o mercado de basquete de alto desempenho, sentimos que o consumidor hoje é muito menos fiel à marca e procura novidades”, afirmou Eric Wise, gerente-geral global da divisão de basquete da Adidas, em entrevista ao site Footwear News.
“Então, vimos uma oportunidade ali, olhamos nós mesmos e dissemos: ‘Durante a última década, se formos honestos, temos sido, na melhor das hipóteses, inconsistentes. Queríamos voltar a ser a melhor versão da Adidas’”, acrescentou o executivo, cuja empresa chegou a liderar a venda de calçados de basquete nos anos 1980, antes do início da Era Jordan na NBA. Para ele, o cenário atual de tênis de basquete é “velho”.
Na mesma linha, Nathan VanHook, vice-presidente de design de basquete da Adidas, chamou o mercado atual do setor de “um mar de mesmice”.
A nova aposta da Adidas para aumentar seu quinhão nesta disputa por corações e mentes do público é justamente o lançamento do novo AE 1 com a assinatura de uma nova aposta em ascensão na NBA.
“Quero que vocês olhem para esses AEs como olharam para os Jordans. Venham comprar os meus”, afirmou Anthony Edwards, em entrevista ao site Nice Kicks.