A Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA) tem em suas mãos uma grande oportunidade de fazer do esporte uma potência no Brasil. Com novos recursos consequentes da entrada do flag football nas Olimpíadas em Los Angeles 2028 e a NFL avançando cada vez mais no mercado brasileiro, a entidade se movimenta para aproveitar a onda.
Às vésperas do primeiro jogo da National Football League (NFL) no Brasil, em setembro do ano passado, o futebol americano já apresentava um crescimento de 310% desde 2014, segundo a Sponsorlink, pesquisa do Ibope Repucom.
Pouco antes da partida, 35% da população conectada do Brasil se declarava fã de futebol americano, o que corresponde a 41 milhões de pessoas.
Antes, o anúncio do Comitê Olímpico Internacional (COI), em outubro de 2023, de que o flag football estaria nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 potencializou a existência de uma terra fértil para o desenvolvimento das modalidades de bola oval no Brasil.
“Foi como um sonho realizado mesmo. A gente imaginava que um dia o flag football viraria olímpico, mas não sabíamos quando. Vimos isso como uma oportunidade tremenda de fazer parte de começar a vivenciar uma realidade um pouco mais profissional”, contou Cristiane Kajiwara, presidente da CBFA, à Máquina do Esporte.
Incentivo
O primeiro grande impacto sentido pela CBFA é a parceria com o Comitê Olímpico do Brasil (COB). Com o flag football garantido em Los Angeles 2028, a entidade passou a receber verbas de incentivo, o que aumentou muito sua capacidade de investimento no esporte.
“Estamos recebendo recursos para executar nossas ações. Todos os treinamentos das seleções, as viagens para competições internacionais, têm sido pagos com recurso do COB”, disse Kajiwara.
Na lista dos filiados do COB desde 25 de abril, a CBFA receberá R$ 3,5 milhões no primeiro ano de ciclo olímpico, assim como as outras novas modalidades. O valor, apesar de ser menos de um quarto do que outras entidades receberão, quase triplica o faturamento anual da organização.
“Todo orçamento é muito planejado e discutido à quatro mãos, com CBFA e COB. O primeiro grande objetivo é trabalhar o treinamento dos atletas, pensando no alto rendimento, nas classificações e competições principais”, explicou Cristiane.
“Também faz parte de tudo isso fomentar o esporte no país, nos campeonatos e na construção das categorias de base. Os investimentos de cada centro de custo já estão definidos”, completou.
A aproximação com o COB também garante à CBFA suporte para gestão organizacional, algo que tem sido um dos focos da entidade nesse momento de evolução do esporte e chegada de capital.
“Estamos trazendo profissionais que já estão no mercado há mais tempo, principalmente na área de comunicação e marketing, bem como na parte financeira e administrativa”, detalhou a presidente.
“Sabemos que aumenta a visibilidade, mas também a responsabilidade e outras coisas. Paralelamente ao trabalho esportivo, temos que nos organizar para nos adequarmos às normas mais modernas de gestão”, ponderou.
Hierarquia
É comum que esportes com regras parecidas tenham tratamentos distintos do público e das próprias entidades reguladoras. O futsal, por exemplo, já foi tratado como porta de entrada para o futebol de campo. No vôlei, por outro lado, essa hierarquização não está tão presente entre as modalidades de quadra e areia.
Como reguladora do futebol americano e do flag football no Brasil, também cabe à CBFA definir a relação entre as modalidades. A intenção, então, é utilizar as facilidades oferecidas por cada uma para fins distintos, mas com a mesma importância.
O flag football possui uma barreira de entrada menor, por depender de menos equipamentos e ser considerado menos agressivo. Portanto, oferece condições melhores para a entrada nos esportes de bola oval.
O futebol americano tradicional, por outro lado, carrega consigo a popularidade criada pela NFL e que tem atraído o público brasileiro cada vez mais nos últimos meses.
“São complementares, mas a verba que vem hoje do Comitê Olímpico só pode ser utilizada pelo flag. Ainda assim, sabemos que o futebol americano oferece elementos de plasticidade e comercialidade maiores”, ressaltou a presidente da CBFA.
Além disso, o intercâmbio de atletas entre as modalidades fortalece a evolução de ambas e potencializa a força das seleções brasileiras.
“Dentro da seleção, temos muitos atletas que jogam ambos. Antes, ainda era muito separado, mas hoje em dia já existe essa mescla”, contou.
Influência
A influência da NFL é inevitável, mas, no entendimento da CBFA, não deve pautar o desenvolvimento do futebol americano no Brasil. A intenção da entidade é seguir as boas práticas da liga, porém adaptar a linguagem para o público brasileiro.
Nesse sentido, o aumento do contato do futebol americano com um público mais amplo é como um “oceano azul” para a entidade desenvolver o esporte com suas próprias características de comunicação.
“Primeiro, o objetivo é criar uma comunicação em que as pessoas possam entender o que é o esporte. Ter mais conhecimento sobre as regras, mas principalmente sobre como ele funciona no Brasil”, explicou Dayyán Morandi, diretor de marketing da CBFA, à Máquina do Esporte.
Nas redes sociais, a estratégia passa por atrair influenciadores, celebridades e pessoas de grande visibilidade na mídia para participarem do processo de expansão e desenvolvimento da modalidade no mercado brasileiro.
“Não pretendemos ‘americanizar’ a comunicação em torno do futebol americano no Brasil. Queremos ‘abrasileirar’ a modalidade, mas seguindo os passos de consumo da audiência”, enfatizou o executivo.
Entre as características que interessam ser importadas, está a relação de consumo estabelecida pela NFL nos Estados Unidos, em que há uma forte tradição de ter os jogos como possibilidade para geração de experiências que transcendem as disputas dentro de campo.
“No Brasil, o fã de futebol americano também segue essa tendência. Precisamos começar a trazer esse comportamento para dentro do futebol americano brasileiro, para os nossos times”, afirmou Dayyán.
“Devemos ter mais experiências, eventos e grandes jogos para começar a mostrar para o brasileiro que o evento aqui também é muito interessante, que é uma grande experiência”, acrescentou.
Visibilidade
Na semana passada, o futebol americano marcou um “touchdown” importante no mercado brasileiro, após o Grupo Globo chegar a um acordo para transmitir partidas da NFL.
Com um contrato de dois anos, alguns jogos da liga norte-americana serão transmitidos na GeTV, de forma gratuita pela internet, e no Sportv, entre os canais por assinatura. Para a CBFA, trata-se de outra grande oportunidade.
“A entrada de um novo player é muito benéfica, porque vai facilitar a comunicação com o público. Teremos uma conexão ainda maior, já que passamos a ter mais informação”, avaliou Dayyán Morandi.
“Podemos aumentar o volume de informação que é disponibilizada para o fã de futebol americano no Brasil em relação à seleção e aos campeonatos nacionais”, prosseguiu.
O movimento, aliado com o segundo jogo da NFL no Brasil, criou um cenário de visibilidade que será aproveitado pela CBFA, de forma imediata, com a realização de um fórum.
“A ideia é reunir especialistas que possam contribuir para o desenvolvimento das modalidades e distribuir esse conhecimento para ampliar a qualidade do que já é feito aqui, hoje, no Brasil”, explicou o diretor de marketing.
Interesse
Atualmente, a CBFA tem entre seus parceiros a Oakley e a Zurich Seguros. Ambos apostam no futebol americano como uma forma de se conectar com a juventude.
A Zurich, além de estar presente em ativos de mídia e comunicação da CBFA, também utiliza o esporte como ferramenta para transformação social. A seguradora apoia projetos sociais da entidade para incentivar o desenvolvimento das modalidades.
“O que mais atrai as marcas é o fato de termos as comunidades bem definidas. Então, você cria um relacionamento direto, consegue trabalhar ativações e criar envolvimento com uma comunidade que está altamente conectada àquela modalidade”, pontuou o executivo.
Com a Oakley, a parceria permite à marca ativações em diversas iniciativas da CBFA. Na próxima segunda-feira (8), por exemplo, a empresa estará no lançamento do uniforme das seleções brasileiras de flag e futebol americano.
“É um movimento muito grande, em que as equipes se conectam, os fãs da modalidade se conectam e só o fato dela estar presente ali já cria uma relação direta com toda essa base”, afirmou.
Ainda assim, o grande desafio segue sendo alcançar novas parcerias que se alinhem com os ideais de desenvolvimento pensados pela CBFA, para evoluir a experiência gerada pelo futebol americano e o flag football.
“Precisamos de apoiadores para as transmissões, patrocinadores que queiram investir, trazer uma grande experiência para o público. Com isso, poderemos começar a dar um outro nível, levar o esporte para um outro patamar aqui no Brasil”, concluiu Dayyán Morandi.