O rapper norte-americano Kanye West conseguiu, neste ano, a proeza de ter sua conta banida do X (antigo Twitter, cujo próprio dono atual, Elon Musk, foi acusado de fazer uma saudação nazista durante um discurso proferido na cerimônia de posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump).
Ele teve de desativar seu perfil na rede por conta das fortes reações surgidas após a publicação de uma série de posts atacando judeus e fazendo declarações de amor a Adolf Hitler (morto em 1945 e responsável pelo genocídio de milhões de pessoas nas décadas de 1930 e 1940). Mas West, que prefere ser chamado de Ye, resolveu se afundar ainda mais nesse lodaçal ideológico que criou para si.
O músico veiculou uma propaganda de 15 segundos durante o intervalo do Super Bowl LIX, realizado no último domingo (9) e que teve o Philadelphia Eagles como vencedor, ao derrotar o Kansas City Chiefs por 40 a 22. O jogo registrou a maior audiência da história da TV nos Estados Unidos, com picos de 135 milhões de espectadores.
No anúncio, o rapper aparece em um consultório odontológico e convida os espectadores a acessarem o site de sua loja oficial Yeezy. Usuários que acessaram a página depararam com um único produto à venda na plataforma: uma camiseta branca, que trazia uma suástica estampada.
O caso ocasionou comoção em todo o mundo, gerando reação imediata das diversas partes envolvidas. A Shopify, plataforma de comércio eletrônico onde a Yeezy estava hospedada, decidiu retirar o e-commerce do cantor do ar. Isso depois do anúncio da camiseta com a suástica permanecer quase dois dias no ar.
Nesta terça-feira (11), a National Football League (NFL), organizadora do evento, divulgou uma nota em que condenou veementemente o antissemitismo. A organização alega que não teve participação na aprovação ou na transmissão do anúncio.
Todos agora dizem ter sido enganados
A Usim, agência de publicidade que cuidou da veiculação do anúncio, afirmou que havia revisado o conteúdo e não encontrou nada de problemático na peça. Executivos de Fox e Nextar, emissoras que veicularam regionalmente a propaganda, alegam que chegaram a acessar o site da Yeezy e encontraram apenas peças comuns à venda.
A narrativa adotada por todas as partes envolvidas é de que teriam sido enganados por West. Mas como o rapper conseguiu ludibriar grandes corporações e anunciar um produto associado ao genocídio de milhões de seres humanos?
De acordo com o The Wall Street Journal, o site da Yeezi trazia originalmente apenas produtos inofensivos licenciados por West. A situação permaneceu dessa forma até por volta das 21h30, pelo fuso horário do leste dos Estados Unidos, quando o e-commerce foi limpo. A partir de então, apenas a camiseta com símbolo nazista podia ser vista na plataforma.
O comercial foi enviado às emissoras pela Usim na última quinta-feira (6). Além da estratégia de alterar os conteúdos do site imediatamente após a exibição do anúncio, Kanye West aproveitou-se das normas mais frouxas para propagandas, adotadas nas transmissões regionais do evento.
De um modo geral, os anúncios de 30 segundos exibidos nacionalmente no intervalo do Super Bowl, que neste ano custaram em torno de US$ 8 milhões (R$ 46,12 milhões), tendem a passar por um controle rígido feito por NFL e Fox, que podem ou não aprovar a veiculação do conteúdo.
Já as propagandas exibidas pelas afiliadas, com 15 segundos de duração e custo médio de US$ 1 milhão (R$ 5,77 milhões), possuem um controle menos rígido, já que são negociadas pelos comandos locais das estações.
O anúncio de 15 segundos da Yeezy, que promoveu a camiseta com a suástica, foi exibido nas afiliadas da Fox em Los Angeles, Filadélfia e Atlanta, assim como em uma estação da emissora pertencente à Nexstar, em St. Louis, no estado do Missouri.
Polêmica com a Adidas
Em 2022, conforme noticiou a Máquina do Esporte, a fabricante alemã de roupas esportivas Adidas decidiu romper a parceria comercial com Kanye West por conta de declarações antissemitas e teorias conspiratórias compartilhadas pelo músico nas redes sociais.
Quando a polêmica estourou, a Adidas inicialmente anunciou que o acordo de distribuição da linha Yeezy, fruto de uma parceria com West (que já adotava o nome artístico de Ye), estaria sob revisão. Dias depois, porém, a empresa resolveu dar um basta ao relacionamento.
“A Adidas não tolera antissemitismo e qualquer outro tipo de discurso de ódio. Os recentes comentários e ações de Ye foram inaceitáveis, odiosos e perigosos, e violam os valores de diversidade e inclusão da empresa, respeito mútuo e justiça”, afirmou a companhia, em nota oficial, à época.
A empresa anunciou também que, após uma revisão completa do caso, “tomou a decisão de encerrar a parceria com Ye imediatamente, acabar com a produção de itens da marca Yeezy e parar todos os pagamentos para Ye e suas empresas. A Adidas vai parar o negócio da Adidas Yeezy com efeito imediato”.
À época, a marca alemã reconheceu que, no curto prazo, o encerramento da parceria poderia ocasionar um impacto negativo de até € 250 milhões em seu lucro líquido.