A novela com final feliz entre Palmeiras e Globo mostrou o quanto o futebol brasileiro não conseguiu se fortalecer para ter o bem mais precioso numa relação com a mídia: o controle da produção de conteúdo.
Agora, tendo acerto com os 20 clubes da Série A na TV aberta, com 19 no pay-per-view e com 13 na TV paga, o Grupo Globo conseguirá fortalecer a transmissão do Brasileirão e entregar ao torcedor o melhor produto possível. Mas para o seu negócio!
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E os clubes? Estes, mais uma vez, vão se contentar em receber a grana da TV, sem entender que poderiam ganhar ainda mais se fossem eles os responsáveis por gerenciar as transmissões, sem delegar esse poder para as emissoras. Sim, os clubes ainda encaram como função do seu parceiro de mídia cuidar da produção do conteúdo que eles próprios geram. Em vez de terem nas emissoras um meio de propagação de conteúdo, os clubes a deixam ser também um provedor de todo esse material.
O grande poder que a TV tem sobre o futebol não é só pela força econômica, mas pela permissão que é dada a ela de ser essencial dentro do negócio. Hoje, sem uma emissora, os clubes não são capazes de propagar o conteúdo que produzem.
O próprio modelo de negócios do PPV é uma síntese dessa falta de visão do futebol brasileiro. Quem detém o modelo de distribuição do sistema de assinatura não é o futebol, mas a emissora que produz e gera as imagens. Com isso, a receita que sobra para os clubes é de apenas 33% daquilo que é faturado dentro do PPV. No final das contas, o produto que gera o maior faturamento do futebol é um mero licenciamento de marca dos clubes, que não têm qualquer controle sobre o produto.
Se quisesse ganhar ainda mais com a mídia e depender menos de uma única empresa, o futebol precisaria entender que ele não pode mais dar para outro aquilo que é o seu maior valor: o conteúdo que ele próprio produz com exclusividade.
De uma maneira grosseira, a forma como o futebol trabalha o PPV equivaleria a entregar a bilheteria dos jogos para uma empresa de eventos e ficar com apenas 1/3 daquilo que é arrecadado dentro de uma partida com o torcedor. Nesse caso, o clube entende que tem capacidade para gerenciar compra e venda de entradas para seu evento, terceirizando apenas os serviços de controle de acesso e meio de pagamento.
O futebol só se tornará menos dependente da TV quando entender que ela é um meio, e não o fim. Até lá, peitar a Globo será uma situação meramente circunstancial.