Desde o estouro do escândalo de corrupção na Fifa, em maio do ano passado, as previsões para a lacuna no poder até o início de uma nova gestão eram as piores possíveis. Faltando exatamente um mês e 20 dias para o pleito, já dá para afirmar que a entidade sobreviveu à intempérie graças, principalmente, ao trabalho do Comitê de Ética nos últimos meses.
François Carrard liderou um processo de limpeza que deu sobrevida ao organismo que rege o futebol mundial. Ao tirar os medalhões do caminho, o francês mostrou que era possível manter o esporte nos trilhos, apesar da infestação de corrupção em todas as esferas do poder na Fifa.
Nem Joseph Blatter, nem Michel Platini, nem muito menos Jérôme Valcke, prestes a ver oficializada sua suspensão de longos nove anos do futebol, conseguiram se livrar de sanções rígidas. Foi um chute no traseiro da arrogância do ex-secretário-geral da Fifa e também nos céticos em relação ao futuro do esporte com o mínimo de lisura.
Se é inocência acreditar que a corrupção está definitivamente extirpada do futebol, é má vontade não dar o crédito ao trabalho realizado nos últimos meses pelo comitê de Carrard e Cornel Borbély.
Esse, com certeza, será o principal desafio do novo presidente da Fifa, a ser eleito no dia 26 de fevereiro: manter a coerência com o propósito de renovação sem deixar que essa fagulha responsável por acender o sinal vermelho contra quase um século de sujeira varrida para debaixo do tapete. A política precisa continuar no tom de tolerância zero.