Tornar a Arena Corinthians em uma espécie de shopping nunca foi um desejo escondido da atual diretoria do time. Quando o estádio foi planejado, o diretor de marketing do clube, Luís Paulo Rosenberg, sempre usou o termo para dizer o quando o estádio poderia render. A ideia da agremiação está, na verdade, ligada ao que acontece em boa parte do mundo em que o esporte é mais bem desenvolvido, na Europa e, especialmente, nos Estados Unidos.
Em Boston, há um perfeito exemplo para o Corinthians. O Gillette Stadium, casa do New England Patriots, fica em Foxborough, uma cidade de 16 mil habitantes, mais longe do centro de Boston do que Itaquera fica da Praça da Sé. Para o acesso ao estádio, não há nem mesmo metrô ou trem.
Em uma localização ruim, o grupo que gere o Patriots e o Gillette Stadium, o Kraft Group, teve a ideia de construir um centro de comércio e entretenimento ao redor da arena. Chamado de Patriot Place, o local custou US$ 350 milhões, mais do que a própria arena, e hoje reúne as mais diversas lojas e restaurantes. Hoje, há vida ativa no entorno do local.
A Arena Corinthians está em uma posição mais privilegiada. Primeiro porque Itaquera tem bom acesso e, somente no bairro, 200 mil habitantes. E, segundo, porque o estádio já foi construído com essa ideia em mente. Em comparação ao Gillette Stadium, o estádio corintiano é significantemente mais sofisticado. O plano do clube se torna mais fácil.
Evidentemente, assim como acontece nos grandes estádios pelo mundo, não será isso que irá pagar a conta. O chamado matchday, com a movimentação de milhares de pessoas, sempre fica com a maior parte da receita. Mas ter um estádio vivo é fundamental para a valorização do espaço. De certa forma, ele tira um pouco da responsabilidade de um calendário cheio, com vendas em períodos sem jogos.
Para o Kraft Group, isso é fundamental. O Patriots joga poucas vezes ao ano, e o New England Revolution, de futebol, tem média de público muito inferior. Com o Patriot Place, no entanto, a arena se tornou uma referência para moradores.
Itaquera, como a maior parte de São Paulo, tem carência de bons instrumentos. Com uma boa academia, um restaurante, uma faculdade e quadras abertas, a Arena Corinthians passa a ser relevante para o bairro. E isso é fundamental para a sua sustentabilidade. É um sinal claro de amadurecimento do mercado brasileiro