Quem viu o lançamento do carro da Ferrari para a temporada 2019 da Fórmula 1 no mês passado vai achar esquisito, mas o monoposto não será o mesmo que estreará no Grande Prêmio da Austrália, no próximo dia 17 de março. Por conta da pressão exercida pelo Departamento de Saúde do país da Oceania, a equipe italiana vai retirar a marca da Mission Winnow que estampa as principais áreas do tradicional carro vermelho.
Para quem não se lembra, desde outubro do ano passado, antes do GP do Japão, a Philip Morris, dona da marca Marlboro, que é uma patrocinadora histórica da Ferrari, passou a utilizar uma campanha com a marca Mission Winnow. Desde que começou a proibição a propagandas de tabaco na categoria em 2007, a Philip Morris mantém o patrocínio à Ferrari, mas não podia mais colocar a marca em lugar nenhum. De outubro para cá, a empresa “deu um jeito” de aparecer novamente.
Mission Winnow aparece em diversas partes do carro, como capa do motor dos dois lados, além de asa traseira e asa dianteira (Foto: Reprodução / Twitter (@ScuderiaFerrari))
O objetivo, no entanto, é exatamente o inverso do que sempre foi, pois o foco da multinacional é exclusivamente na promoção de alternativas cientificamente fundamentadas e menos prejudiciais que os cigarros. Essa é a questão que envolve a “Mission Winnow”, que, coincidentemente ou não, tem como logotipo um “M” bem parecido com o da marca Marlboro.
“Estamos empenhados em fazer algo muito dramático: substituir cigarros por produtos livres de fumaça. É a maior mudança em nossa história e a mais acertada para nossos consumidores, nossa empresa, nossos acionistas e a sociedade”, afirmou a Philip Morris, em comunicado à imprensa divulgado em outubro.
“Vamos usar esta plataforma global como uma janela para o novo conceito da Philip Morris de desafiar o preconceito, porque sabemos que há muitas pessoas que podem ter dúvidas sobre nós e nossos motivos. Nossa parceria com a Ferrari nos dá a oportunidade de falar sobre nós mesmos e alcançar um público mais amplo”, acrescentou Andre Calantzopoulous, CEO da multinacional, também há cinco meses atrás.
O problema é que o Departamento de Saúde da Austrália entende que usar a marca Mission Winnow contradiz diretamente as regras da Fórmula 1 de proibição do tabaco. E, por isso, exigiu a retirada da marca dos carros da equipe.
Em declaração dada à imprensa italiana, Louis Camilleri, atual CEO da Ferrari e, coincidentemente, ex-presidente da Philip Morris, confirmou a decisão de remover a marca dos carros. Segundo ele, a equipe preferiu tomar essa atitude pelo fato de a companhia “não ter tempo para encontrar uma solução”.
Camilleri, no entanto, também defendeu a patrocinadora de sua escuderia ao afirmar que a “Winnow não é uma marca e não tem nada a ver com tabaco, mas sim sobre a transição do cigarro tradicional para os produtos eletrônicos”.
A Ferrari também já retirou o Mission Winnow de seu nome oficial em uma lista de entrada atualizada publicada pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Assim, utilizará na Austrália o naming right tradicional: a Scuderia Ferrari. Além dos carros, os capacetes e macacões dos pilotos também perderão o nome e o logotipo da Mission Winnow.
Ainda não se sabe, no entanto, qual será a decisão a ser tomada pela McLaren com relação à mesma questão. No mês passado, a escuderia britânica fez uma parceria com a produtora de tabaco British American Tobacco, cuja campanha “A Better Tomorrow” marcará presença no carro da equipe para a temporada 2019. A McLaren divulgou somente que revelará o que vai fazer com relação ao assunto nos próximos dias.