Uma marca suíça de relógios de luxo acabou se beneficiando, sem querer, de um caso de corrupção no futebol. Tudo começou quando a Fifa ordenou a seus dirigentes que devolvessem o relógio da Parmigiani Fleurier, avaliado em US$ 26,4 mil, dado pela CBF de presente a alguns dirigentes da federação antes da última Copa do Mundo. Segundo a Fifa, o valor do presente era acima do permitido pelas regras da entidade.
O incidente deu à Parmigiani, relojoaria criada em 1976, uma propaganda gratuita inesperada. “O escândalo da Fifa teve um impacto excelente na percepção da nossa marca”, festejou Emilie Jacquot, da empresa suíça, em entrevista à agência Bloomberg.
Segundo a empresa, o fato de ter seu relógio escolhido como regalo para os dirigentes da Fifa, associando-o com o “alto luxo”, foi um impulso e tanto para as vendas. A empresa não sabia qual seria o uso do relógio quando recebeu a encomenda da CBF. A companhia trabalha com a confederação desde 2011, e possui uma coleção usando o futebol brasileiro como tema. A entidade comprou cada relógio por US$ 8.750, segundo o painel da Fifa que investigou o assunto.
Segundo Jacquot, o incidente só trouxe ganhos à marca. O número de visitantes do site da Parmigiani “cresceu e permanece mais elevado do que antes”. “A coleção da CBF é ainda mais apreciada do que antes. Ou, pelo menos, recebemos um monte de perguntas sobre ela”, diverte-se.
A Fifa, sediada em Zurique, adotou regras mais rígidas depois de enfrentar denúncias na última eleição à presidência da entidade. O candidato da oposição teria tentado subornar eleitores.
Dar ou receber presentes de valor alto é proibido pelo Conselho de Ética da federação. Por isso, os relógios deveriam ter sido rejeitados pelos destinatários. A Fifa disse que não iria punir quem devolvesse o presente até o dia 24. O material será doado a uma entidade comprometida com projetos de responsabilidade social no Brasil.
Um dos 65 dirigentes presenteados com o mimo, Michel D’Hooghe, membro do Comitê Executivo da Fifa, definiu o adereço como um “presente venenoso”.
“Descobri o relógio em um saco que foi colocado no nosso quarto. Só abri uma semana depois. Vi que havia um relógio com pulseira de plástico da marca Parmigiani. Para mim, Parmigiani é um queijo que você coloca no macarrão. Pensei que era uma espécie de Swatch”, afirmou o belga, referindo-se a uma marca de relógios mais barata.
Patrick Nally, que intermediou o primeiro acordo entre Fifa e Coca-Cola na década de 1970, disse que o incidente foi grave. “Eles [Parmegiani] devem estar rindo dessa situação. Mas duvido que se preocupem com altas vendas porque o relógio é muito caro”, afirmou o britânico.