No esporte, nem sempre negócios são feitos diretamente entre A e B. Há empresas e pessoas que intermedeiam negociações e ganham comissões sobre os valores fechados, há empresas que assumem toda uma área dentro de uma entidade e ficam com os lucros dela, entre tantas outras participações de terceiros. Na Fifa, com a Copa do Mundo, é a mesma história.
Primeiro, comissões. Entre 2011 e 2013, os três primeiros anos do ciclo brasileiro, foram pagos R$ 133,9 milhões, ou US$ 57,2 milhões, a empresas que intermediaram negociações. Nos balanços financeiros, o órgão explica que algumas regiões do mundo, como Ásia e África, são mais inacessíveis, portanto exigem a cooperação de agências. Em quatro anos de Copa na África do Sul, de 2007 a 2010, o valor chegou a R$ 218,5 milhões, ou US$ 131,2 milhões.
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As porcentagens sobre o valor total variam. Em 2013, entre vendas de direitos de transmissão, a Fifa repassou US$ 26,7 milhões para intermediários, valor equivalente a 4% de toda a verba arrecadada com TVs. Em 2010, quando as comissões bateram US$ 59,2 milhões, a proporção era de 8% sobre toda a receita oriunda de canais de televisão.
As comissões também são pagas a empresas que intermedeiam negociações de patrocínio. Em 2013, US$ 4,1 milhões foram descontados das receitas para este fim, 1% do total gerado com marketing. Com licenciamentos, idem, mas esta é uma área mais modesta. US$ 500 mil foram pagos, iguais a 2% do faturamento deste departamento.
De todo modo, se há uma empresa campeã no quesito “ganhar dinheiro com a Copa”, esta empresa é a Match. É o braço de hospitalidade dela quem administra a recepção de turistas e torcedores, espaços VIP e corporativos, pacotes de turismo e serviços especiais dentro dos estádios, como alimentação em camarotes etc. A companhia assumiu toda a área de hospitalidade da Fifa depois da Copa da Alemanha, em 2007, sem licitação alguma. A Match concordou em pagar US$ 120 milhões pelo ciclo sul-africano, e a Fifa topou. O acordo seguiu para a Copa brasileira e foi renovado, em novembro de 2011, para alcançar também as edições da Rússia, em 2018, e do Qatar, em 2022. Até lá, é a Match quem manda.
A impressão é que a Fifa tem perdido dinheiro na relação com a Match. Primeiro porque o acordo com a empresa rende a metade do dinheiro do que gerou o contrato com a antecessora dela, a International Sports & Entertainment (iSe). A iSe se comprometeu em 2003 a pagar uma cota mínima 270 milhões de francos suíços, moeda corrente na Fifa naquela época, para assumir este serviço. Descontados 10 milhões de francos suíços que foram repassados para o comitê organizador alemão, deram em torno de US$ 210 milhões na conta bancária da Fifa.
A Match, com US$ 120 milhões pelos quatro anos de África do Sul e com os US$ 120 millhões pelos quatro anos de Brasil, passou a depositar praticamente a metade do dinheiro da antecessora. A hospitalidade foi a única receita que caiu da Alemanha para as edições seguintes.
O outro dado que sugere um contrato desmedido para o lado da Fifa é a receita que a Match já teve com o Brasil. O último anúncio da empresa, em 12 de junho de 2012, dizia que R$ 538 milhões (US$ 262 milhões) tinham sido arrecadados até aquela data, dois anos antes do início da Copa e alguns meses depois do lançamento, em novembro de 2011. Este valor já correspondia ao dobro do que a Match pagou para a Fifa, e de lá para cá deve ter aumentado com a proximidade do evento.
Há, inclusive, uma acusação contra Joseph Blatter, atual presidente da Fifa, que circulou na imprensa estrangeira em 2010. As suspeitas de que havia algo errado na parceria surgiram quando se soube que Philippe Blatter, sobrinho do chefão, era um dos donos da Infront Sports & Media. Esta empresa tem participação minoritária no controle da Match Hospitality. A Fifa se defendeu e disse que não tinha nada a ver: o sobrinho de Blatter era apenas um dos sócios da Infront, e a participação da empresa na Match não era suficiente para haver conflito de interesses.