A venda subsidiada de ingressos para a Copa do Mundo é mais um esc”ndalo que abala a organização do Mundial da África do Sul. Nas últimas semanas, o governo sul-africano havia dito que cerca de R 55 milhões (R$ 13 mi) haviam sido investidos por empresas estatais para a compra de bilhetes da Copa que estavam encalhados.
No último domingo, porém, uma reportagem do jornal “Sunday Times” revelou que o montante investido pelas estatais foi de R 110 milhões, ou o dobro do que havia sido reportado. A cifra causou revolta nos sul-africanos, que consideram “egoísmo” dos altos executivos dessas empresas gastarem dinheiro com ingressos.
O maior problema é que a revelação do gasto maior com os bilhetes surge no momento em que diversas empresas estatais apresentam balanços financeiros deficitários. O caso mais emblemático é o da Eskom, distribuidora de energia, que investiu cerca de R$ 3 milhões na compra de ingressos e, nesta segunda-feira, tem um dia decisivo com seus trabalhadores para tentar evitar uma greve geral.
“A verdade é que nenhum empregado da Eskom recebeu um mísero ingresso para a Copa. Apenas executivos e seus familiares. Esse dinheiro poderia ser usado para dar mais benefícios aos trabalhadores”, afirmou ao “Sunday Times” Lesiba Seshoka, porta-voz da União Nacional de Mineradores.
A recordista em investimento na compra de ingressos para a Copa foi a companhia aérea South African Airways (SAA), que pagou R$ 6 milhões por 1749 bilhetes dos jogos. A empresa, que em dezembro de 2008 recebeu mais de R$ 400 milhões do governo sul-africano para não ir à falência, destinou a maior parte dos ingressos para operadoras de turismo (1633), enquanto que 20 bilhetes foram para pessoas que trabalharam na operação de marketing da empresa na Copa, outros 68 foram dados a equipes de venda e executivos e 28 para crianças portadoras de necessidades especiais.
“Além disso usamos os ingressos em camarotes para valorizar nossa marca com operadoras de turismo e, assim, aumentar nossas vendas”, disse o porta-voz da empresa, Fani Zulu.
A compra de bilhetes que estavam encalhados para a competição foi uma exigência da Fifa para o Comitê Organizador Local, numa tentativa de evitar prejuízo com a comercialização de bilhetes e, também, para não ter estádios vazios durante a competição. A conta, porém, foi repassada para as empresas estatais, que bancam boa parte da Copa na África.
Apesar disso, a Fifa colocou ingressos à venda para a final do campeonato, no próximo dia 11. A entidade abriu espaço para a comercialização individual de ingressos em camarotes, algo que nunca tinha acontecido antes. Esses espaços, a princípio, serviriam apenas para vendas corporativas.