Um dos efeitos adversos do fim do Clube do 13, até 2011 responsável por negociar coletivamente direitos de transmissão dos principais clubes brasileiros, foi que menos times passaram a receber mais dinheiro. Corinthians e Flamengo, particularmente, que puderam exigir mais da Globo por terem torcidas mais numerosas. Foi uma mudança no cenário que motivou preocupações sobre uma possível “espanholização” do futebol brasileiro – na Espanha, Real Madrid e Barcelona ganham várias vezes mais do que adversários. Nesta terça-feira (13), Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, defendeu que essa possibilidade é remota. A Globo, disse ele, não deixaria haver desequilíbrio financeiro entre as equipes.
“O Campeonato Brasileiro é inigualável, com 12 times que podem cair e 12 que podem ser campeões. Isso não tem em nenhum lugar do mundo. A Globo não vai querer acabar com isso, com o melhor do produto dela”, disse o presidente atleticano em um seminário sobre gestão esportiva realizado em São Paulo pela Trevisan.
Ele, Kalil, foi um dos principais defensores do Clube dos 13 em 2011, quando o Corinthians, liderado pelo então presidente Andrés Sanchez, começou com a “rebelião” na entidade. O presidente do Atlético-MG voltou a falar sobre o assunto e se exasperou em certo momento. Ele levantou a voz para dizer que seus colegas presidentes “não têm capacidade” para se unir e pensar no Campeonato Brasileiro como um conjunto. A dependência ao dinheiro da Globo, atacou Kalil, existe justamente porque o Clube dos 13 foi implodido três anos atrás. A entidade era o embrião de uma liga, mas a desarticulação atual entre as equipes não permite que ela possa surgir.
Opinião contrária
Fernando Carvalho, ex-presidente do Internacional e participante do seminário desta terça em São Paulo, contrariou o mandatário atleticano. Ele diz ser inevitável o processo de “espanholização” do futebol brasileiro. “O Corinthians parece, para quem vê de fora, organizado. Agora, com estádio, vai aumentar ainda mais os seus recursos e vai aumentar o seu quadro de sócios. Eu acho que a ‘espanholização’ vai, sim, acontecer”, opinou.
Quem está certo?
Houve, de fato, uma concentração da verba que paga a Globo pelos direitos de transmissão logo no ano seguinte à derrocada do Clube dos 13. Mas as diferenças entre os clubes voltaram a equilibrar nos anos seguintes. A Máquina do Esporte levantou quanto ganharam de TV os clubes que hoje integram a primeira divisão do Campeonato Brasileiro nas últimas cinco temporadas. Foram considerados os valores de 17 clubes: Flamengo, Corinthans, Palmeiras, São Paulo, Atlético-MG, Vasco, Cruzeiro, Fluminense, Grêmio, Internacional, Botafogo, Santos, Vitória, Coritiba, Atlético-PR, Goiás e Figueirense. Os outros três – Bahia, Criciúma e Sport – não detalharam em balanços financeiros quanto receberam da Globo.
Imagine a soma das receitas com TV dos 17 clubes em questão como um enorme bolo de chocolate. Em 2009, ele rendeu R$ 409 milhões, um valor que foi dividido entre todos os presentes. Em 2013, R$ 949 milhões. O bolo fermentou 132% em cinco anos, portanto, um dos efeitos das renegociações individuais de contratos feitas em 2011.
Em 2009, o Flamengo ficou com uma fatia de 11% do bolo, e o Corinthians, 7%. Outros grandes clubes, como Palmeiras, São Paulo e o próprio Atlético-MG de Kalil, variaram entre 7% e 9%.
Dois anos depois, em 2011, implodido o Clube dos 13, o Corinthians ficou à frente, com um pedaço de 15%, e o Flamengo abocanhou 13%. Kalil foi um dos últimos a assinar com a Globo, e o Atlético-MG levou 5%.
Hoje, após mais dois anos, a conta equilibrou. Em 2013, o Flamengo teve uma fatia de 12%, o Corinthians levou 11%, e os demais grandes clubes aumentaram os tamanhos de seus pedaços para algo entre 6% e 8%. O Atlético-MG é um dos que ficou com 8%. O Internacional, xodó de Fernando Carvalho, caiu de 9% em 2009 para 6% em 2013.