Confirmado pela presidente Dilma Roussef como novo ministro do Esporte, Ricardo Leyser, 45, do PCdoB, afirma que a pasta está imune à crise política, pelo fato de ter sido adotada uma “opção técnica”. Ele assume no lugar de George Hilton, que deixou o ministério após o PRB, seu partido, deixar a base governista.
Integrante da pasta desde a sua criação, em 2003, Leyser já foi secretário nacional de Esporte Educacional e secretário-executivo do ministério. Desde novembro, era secretário nacional de Alto Rendimento. Sua nomeação deve sair nesta quinta-feira no Diário Oficial. Veja abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva à Máquina do Esporte.
Máquina do Esporte – Como surgiu o convite para ocupar o ministério?
Ricardo Leyser – Eu já tinha sido convidado pela presidente. Conversamos ontem sobre isso. É uma honra, mas lamento perder um companheiro de trabalho [o ex-ministro George Hilton], que estava bem integrado ao ministério.
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MDE – O sr. assume o cargo em um momento de turbulência política. Teme que possa ter uma gestão curta por conta da possibilidade de impeachment?
RL – O que a presidente fez neste momento foi uma opção técnica, o que me deixa um pouco fora do debate político que vivemos neste momento no Brasil. Montarei uma equipe técnica para a preparação dos Jogos Olímpicos. A conquista dos Jogos Olímpicos não é um projeto deste governo. É de uma nação. As candidaturas brasileiras estiveram a cargo de vários partidos e dirigentes. Desde Paulo Octavio [responsável pela candidatura de Brasília-2000, durante o governo Collor], passando pelo prefeito Cesar Maia [candidatura do Rio aos Jogos de 2012] passando pela parceria do presidente Lula com o Sérgio Cabral.
MDE – Os novos secretários já foram definidos?
RL – Vou tomar posse e pedir uma avaliação das áreas. Estava muito focado na entrega das Olimpíadas. A gente vai trazer quadros técnicos, independentemente de filiação partidária.
MDE – Como está a preparação para a Olimpíada do Rio?
RL – É o momento de pressão máxima. Houve mudança de perspectiva porque 90% das obras estão finalizadas. Uma ou outra questão precisa ser resolvida: Velódromo, obras em Deodoro. A partir de agora, deixamos de lidar com os grandes problemas e passamos a tratar, juntamente com a Casa Civil, de milhares de pequenos problemas.
MDE – Como o governo vai lidar com o problema do zika?
RL – Acho que o governo brasileiro se saiu muito bem nesta questão, usando transparência. Houve uma comunicação muito boa com o exterior. Houve uma reação grande no início, mas agora pelo que se percebe em conversas com as federações internacionais e o COI, isso já está controlado. Medidas já foram tomadas. Não é uma crise, como ameaçou.
MDE – E a questão da segurança, especialmente após os atentados em Paris e Bruxelas?
RL – É uma questão crítica. A gente tem visto uma mudança de lógica nesses atentados, o que obviamente preocupa. O Brasil não tem tradição de lidar com esse problema. É uma ameaça real que o país precisa se acostumar a lidar. É uma preocupação muito forte da Polícia Federal e Abin, com a cooperação dos órgãos internacionais de inteligência até o último dia dos Jogos. Desde o Pan a gente tem a tradição de trabalhar com as forças internacionais. O Brasil não é alvo do terrorismo. Mas houve uma transformação no terrorismo. Esses atentados em Paris e na Bélgica não estavam vinculados a nenhum grande evento e aconteceram. Obviamente isso aumenta o risco de acontecer algo aqui.
MDE – A cinco meses dos Jogos, como está a expectativa de cumprir a meta de colocar o Brasil no top 10 do quadro de medalhas?
RL – Foi uma proposta do Ministério do Esporte que passássemos a trabalhar com metas. Consideramos que como estamos entre as dez principais economias do planeta, poderíamos ser top 10 na Olimpíada. Há dois requisitos. Precisamos nos preparar bem. E outra questão é que mesmo assim, os outros países podem ter se preparado melhor. O Tiago Pereira é um excelente nadador mas ele é da mesma geração do Michael Phelps, um fenômeno que não temos toda hora.
MDE – Qual é o legado que o sr. espera dos Jogos do Rio para o Brasil?
RL – Teremos uma infraestrutura esportiva renovada e a elevação do nível técnico da maioria das modalidades, o que é um legado. Na avaliação do ministério é possível continuar trabalhando nesta toada para 2020. Na Olimpíada de Tóquio chegaremos depois de um ciclo de seis, sete anos de trabalho mais consistente. Com nossa infraestrutura poderemos sediar Mundiais de natação, atletismo, Jogos Pan-Americanos, Sul-Americanos. Podemos aproveitar essa estrutura para gerar renda ao povo. A realização dos Jogos também pode trazer um legado para o turismo e a economia.