Uma entressafra. Com grandes times de futebol como Flamengo e São Paulo sem patrocínio máster, e muitos outros sem conseguir vender outros ativos na camisa, os meses de janeiro e fevereiro se repetem como aqueles em que poucos aportes são obtidos pela elite nacional, sobretudo de empresas que não tinham contrato vigente até o fim do ano anterior.
Ao Internacional, por exemplo, resta comercializar os ombros do uniforme, a última cota disponível, pois o Banrisul ocupa a máster, e a Tramontina, as mangas. Mas as negociações andam frias nessa fase do ano. “É como costumam dizer: o Brasil só começa depois do Carnaval”, conta Jorge Avancini, diretor de marketing colorado.
À Máquina do Esporte, outros clubes deram relatos quase idênticos. O Cruzeiro, depois de perder a Netshoes em dezembro passado, visitou todo o mercado à procura de um substituto. Até agora, segundo Róbson Pires, diretor comercial e encarregado pela captação de aportes no clube mineiro, houve negociações com várias empresas, mas o período do ano não ajuda.
Até o momento, poucas foram as equipes que conseguiram desencalhar alguma propriedade. O Palmeiras conseguiu inserir a Kia Motors na cota máster, mas não deixou de ter dificuldades para vender os ombros, local que já vem sendo dito como “quase fechado” há vários meses. O Bahia pôde acertar com a Netshoes, e a Portuguesa, com a Irwin, em um negócio que já era dado como certo desde o fim da temporada passada.
A quantidade de patrocínios de longa duração divulgados entre janeiro e fevereiro não difere muito do ano passado. À época, BMG e Netshoes decidiram patrocinar o Santos, enquanto a Netshoes também assinou acordo com o Atlético-PR, e a TIM completou o ciclo de patrocínios com o São Paulo. No mais, o que se viu foram mais cotas abertas e menos negócios concretizados
“Todo ano tem essa entressafra, em que um time ou outro fica dois meses sem patrocínio, esperando por uma proposta boa, ou pelos intermediários certos”, avisa Leonardo Salles, sócio-diretor da Monday Marketing Esportivo, agência cujo foco está justamente em intermediar patrocínios entre companhias e entidades esportivas.
Em um período com campeonatos pouco interessantes, fica a sensação entre executivos e dirigentes de que os preços dos ativos nunca são consenso. “Às vezes, o valor é feito em cima da pressão feita pelo conselho, de precisar ter um recorde para falar que vendeu melhor que a gestão anterior, e não algo como pegar um estudo da Nielsen, da Informídia, para saber quanto vale a camisa”, aponta Fernando Julianelli, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da XYZ.
Aportes pontuais sobrevivem
Apesar de patrocínios de longo prazo não serem fechados durante janeiro e fevereiro, uma espécie de apoio volta a aparecer. Aportes ocasionais, com exibição de marca em apenas uma partida, costumeiramente com transmissão em rede aberta pela Rede Globo. Os alvos são, normalmente, rivais do Corinthians, como São Paulo, no Campeonato Paulista, ou Deportivo Táchira, na Copa Santander Libertadores.
“Eu vejo, pelas empresas que nos consultam, que elas entendem melhor o que é o negócio”, argumenta Salles, sócio da Monday. “Antes, nós ligávamos para executivos, oferecíamos algo e eles diziam que era caro demais. Hoje, todos já estão percebendo que não é, e o mercado de pontuais está cada vez mais aquecido”.
Se em número de negócios fechados essa modalidade de investimento ainda está menor do que em 2011, a justificativa, segundo executivos de agências, está na quantidade de partidas realmente atrativas já realizadas. Até o momento, ainda não houve a maior parte dos confrontos que costumam atrair grande audiência, como fases decisivas de Estaduais e da Libertadores.
“Por se tratar de patrocínios para apenas um jogo, o patrocinador busca entrar em jogos com boa audiência na TV, fato que ocorrerá à medida que os campeonatos forem se desenvolvendo e os jogos se tornarem mais decisivos”, afirma Valdinei Fujarra, dono da Fujarra Marketing Esportivo, outra agência que está empenhada em intermediar negociações entre setor privado e times de futebol.
A deficiência, nesse caso, é que patrocínios ocasionais limitam muito as chances de ativação do negócio, algo que já é escasso até em parcerias de períodos mais longos. “A partir do momento que o contrato é assinado, nós escutamos de muitas marcas que elas são maltratadas pelo clube que estão patrocinando”, revela Julianelli, da XYZ.
“Não sei se existe uma pesquisa que mostre isso, mas é absurdo haver patrocínios tão curtos, quando no mundo há parcerias de mais de 20 anos, e isso é culpa da falta de entrega”, avalia o vice-presidente da companhia. “O patrocinador busca uma ativação 360º em volta do patrocínio, e nesse ponto há falta de comprometimento dos clubes”.