Em busca de maior arrecadação, os grandes clubes do Brasil fazem altas apostas no programa de sócio-torcedor. Uma pequena equipe do Espírito Santo lançou uma ideia inusitada: a possibilidade de o público se associar a ela, tornando-se um sócio-diretor.
Integrante da Série B do Campeonato Capixaba, o Doze FC lançou a ideia em que todos os torcedores que se associarem ao clube terão voz na diretoria e a possibilidade de demitir ou indicar o novo treinador.
“Minha inspiração foi o videogame. Ficava horas jogando Elifoot, e sempre imaginei que seria muito bom gerenciar um time de verdade. Foi assim que começou a surgir o ‘Elifoot da vida real’. Outro fator motivador é o fato de os clubes brasileiros darem pouca importância aos seus torcedores, que são muito mal tratados na verdade. Queremos mudar isso”, afirmou Israel Levi, CEO e idealizador do Doze FC.
Após duas rodadas do campeonato, o clube está na segunda posição, com uma vitória e um empate. O objetivo para 2015 é subir para a elite do Estado. Para isso, a equipe aposta em uma comissão técnica badalada. Especialmente para vascaínos saudosos. O técnico é o ex-atacante Sorato, autor do gol do título do Brasileirão de 1989. Seu auxiliar é o ex-goleiro Carlos Germano.
“O que me atraiu no clube foi o projeto de longo prazo, com dois anos de contrato”, afirmou Sorato à Máquina do Esporte. “Nosso objetivo é conquistarmos uma das duas vagas para subir para a primeira divisão”, acrescentou o treinador, cuja parceria com Carlos Germano vem ainda da época em que ambos atuavam pelo juvenil do Vasco.
Os dois foram escolhidos pelos sócios-diretores em uma lista que continha outros nomes. Sorato já dirigiu o Tigres, da primeira divisão do Estadual do Rio, e estava no comando do sub-20 do Vasco. Germano, por sua vez, era o preparador de goleiros do clube de São Januário até aceitar o convite do Doze FC. O elenco também conta com jogadores experientes, como o zagueiro Irineu, que jogou no Flamengo, e o volante Jonílson, com passagens por Botafogo, Cruzeiro, Vasco e Atlético-MG.
Levi, idealizador do modelo de gestão que ele chama de crowdmanaging, acredita que não há limites de meta a ser atingida. “Precisamos apenas nos manter fiéis aos princípios científicos que embasam este projeto. A própria multidão é quem vai definir os rumos do clube. O objetivo principal do Doze Futebol Clube é defender a tese de que um grupo é sempre mais esperto que o mais esperto do grupo. Queremos o torcedor no poder, e esse é o motivo de existirmos”, afirma o dirigente.
Por enquanto, o clube ainda está no vermelho, sem a participação de patrocinadores e com número insuficiente de sócios-diretores para manter financeiramente a equipe. “Para alcançarmos o equilíbrio financeiro, precisamos de 3.000 sócios. Nosso sistema de gerenciamento online precisou ser criado totalmente do zero, por não haver nada semelhante no mercado. Por isso, neste primeiro momento, não estamos preocupados com a quantidade de sócios, e sim com a qualidade daquilo que estamos nos propondo a oferecer”, conta Levi.
Por conta do novo modelo de gestão, o dirigente acredita que a MP de refinanciamento de dívida dos clubes de futebol ainda foi uma iniciativa tímida do governo federal em relação às contrapartidas exigidas dos times.
“A CBF e o governo federal poderiam ir muito mais além, proibindo de participar dos campeonatos quem não estiver em dia com as obrigações fiscais, tributárias e trabalhistas. Os clubes que não são empresas, precisam ser cobrados como se fossem. Se não houver rigidez dos órgãos fiscalizadores, as dívidas vão continuar. É por isso que somos uma empresa S/A, porque queremos fazer um trabalho sério e profissional”, diz o dirigente.