Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 se encerraram no domingo (11) e a esgrima brasileira não conseguiu conquistar medalhas. Pior: sua única aposta, a italiana naturalizada brasileira Nathalie Moellhausen, campeã mundial em 2019, não deve disputar Los Angeles 2028. Mesmo assim, a Confederação Brasileira de Esgrima (CBE) faz um balanço positivo do ciclo.
Principal esperança do Brasil em Paris 2024, Nathalie descobriu um tumor benigno às vésperas dos Jogos. Ela necessitava passar por uma cirurgia. Apesar disso e longe de suas condições plenas, a esgrimista decidiu competir, mas terminou derrotada em sua estreia na espada.
“Este ciclo olímpico, em particular, foi marcado positivamente pelo elevado avanço da governança em nossa entidade, redundando no amadurecimento da gestão com reflexo em nossos colaboradores, diretoria e prestadores de serviços”, disse Ricardo Machado, presidente da CBE, em entrevista à Máquina do Esporte.
“O desempenho esportivo da esgrima brasileira neste último ciclo olímpico foi exitoso, haja vista que mantivemos nossa supremacia na América do Sul e, ainda, obtivemos excelentes resultados nos Jogos Pan-Americanos [de Santiago 2023], em particular a inédita medalha de ouro para a nossa equipe de espada feminina”, seguiu.
No florete, Mariana Pistoia caiu logo na primeira fase. Entre os homens, Guilherme Toldo foi eliminado também em sua estreia.
“Ampliamos o quantitativo de atletas classificados aos Jogos de Paris, pois para Tóquio 2020 classificaram-se dois atletas, sendo que, para Paris, foram três classificados: Nathalie Moellhausen [espada feminina], Guilherme Toldo [florete masculino] e Mariana Pistoia [florete feminino]”, destaca Machado.
Patrocinadores
A CBE contou com cinco patrocinadores no último ciclo olímpico. Espaço Laser, Skintec, Versani & Sandrini, Strix e Olikk. Considerando todos os pagamentos, a entidade recebe mais de R$ 200 mil por ano com os acordos.
“A CBE possui parceria com três empresas que nos apoiam para o fim específico de custeio dos nossos uniformes oficiais. São elas: Espaço Laser, Skintec e Versani & Sandrini. Juntas, elas aportam cerca de 40 mil anuais. Em contrapartida, os seus nomes estão estampados nesses uniformes”, explicou o presidente da CBE.
“Além disso, há outras três empresas apoiadoras que, juntas, totalizam o valor de 180 mil reais anuais de patrocínio. São elas: Strix, Olikk e Espaço Laser. Portanto, somados os recursos privados obtidos através de apoios patrocinados, chegamos um valor de R$ 220 mil a R$ 240 mil anuais”, seguiu.
Financiamento
Os valores de patrocínio não são os únicos recebidos pela CBE. A entidade também conta com um repasse do Comitê Olímpico do Brasil (COB) possibilitado pela Lei Piva, que repassa 2% da arrecadação bruta das loterias da Caixa Federal ao COB e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
No último ciclo olímpico, que foi mais curto por conta do adiamento de Tóquio 2020, a Confederação Brasileira de Esgrima recebeu R$ 14,1 milhões em repasses. O valor representa 2,4% do total distribuído pelo COB às confederações olímpicas, montante que chega a quase R$ 600 milhões.
“Os recursos oriundos da denominada ‘lei das loterias’ [Lei Piva] são determinantes para a nossa subsistência, uma vez que, em razão desta lei, conseguimos nos planejar ano a ano para enfrentarmos cada um dos ciclos olímpicos”
Ricardo Machado, presidente da CBE
O valor do repasse varia de acordo com critérios estabelecidos pelo COB, que leva em conta a popularidade, necessidade e desempenho de cada esporte. A CBE recebeu R$ 4,4 milhões em 2022, R$ 4,4 milhões em 2023 e R$ 5,2 milhões em 2024.
“Como nossos resultados esportivos internacionais vêm melhorando ao longo dos anos, o orçamento anual da CBE via lei das loterias também foi sendo paulatinamente ampliado, já que há estreita relação entre resultados esportivos e distribuição de recursos baseado em critérios meritocráticos”, analisou.
A CBE possui outras fontes de recursos financeiros, mas, de acordo com o presidente da entidade, os valores não são suficientes para cobrir as necessidades da esgrima brasileira.
“Possuímos também algum recurso privado advindo das inscrições de atletas em competições nacionais e mensalidades dos clubes e academias. Mas, esta pequena quantia de dinheiro presta-se apenas para complementar algumas despesas não cobertas pela lei das loterias”, afirma Machado.
“Essas duas fontes de recursos [Lei Piva e recursos privados de arrecadação], são insuficientes para todos os projetos que possuímos voltados à expansão e maior qualificação do nosso esporte. Por conta disso, estamos em permanente busca de novas fontes de receita, particularmente receitas privadas”, afirmou.
O governo federal também apoia os esportes brasileiros através do Bolsa Atleta, que paga quantias mensais aos esportistas inscritos no programa. Os valores variam de acordo com alguns critérios. Todos os atletas da esgrima que defenderam o Brasil em Paris 2024 (Nathalie Moellhausen, Guilherme Toldo e Mariana Pistoia) são bolsistas.
Futuro
Para Los Angeles 2028, a CBE tem como objetivo aumentar o número de praticantes do esporte no Brasil.
“A medalha olímpica não é uma missão impossível, mas, como meta de gestão, precisamos propiciar o aumento do número de praticantes de esgrima no Brasil. E isso leva tempo e investimentos”, diz Machado.
A esperança da entidade para a próxima edição dos Jogos Olímpicos está depositada sobre os novos talentos. A ambição não é pouca para quem não deve mais ter sua única aposta competindo daqui quatro anos: conquistar o primeiro pódio olímpico da esgrima brasileira.
“A CBE vem formando novos técnicos, apoiando com equipamentos de esgrima os novos clubes e academias, dentre outras ações de fomento. Por outro lado, há um seleto grupo de jovens atletas que vem se destacando e acreditamos no potencial deles para estarem em Los Angeles 2028. O planejamento para tanto está desenhado. Agora, seguiremos em busca de mais recursos para tornar o nosso sonho de pódio olímpico uma realidade”, concluiu o presidente da CBE.