A Confederação Brasileira de Surfe (CBSurf) integrou o seleto grupo de seis entidades olímpicas nacionais que voltou dos Jogos de Paris 2024 com mais de uma medalha olímpica na mala. As outras foram as confederações de atletismo, ginástica, judô, skate e vôlei.
Mas o percurso até as ondas de Teahupoo, no Taiti, e o pódio olímpico foi cheio de marés altas e baixas até a classificação, pela segunda vez seguida, de uma equipe completa, com três atletas no feminino e três no masculino.
“O processo de classificação dos atletas que disputaram as Olimpíadas foi concorrido e longo, no qual as vagas são adquiridas através do Circuito Mundial de Surfe, do ISA Surfing Games e dos Jogos Pan-Americanos”, relata Rodrigo Bareja, gerente de comunicação da CBSurf, em entrevista à Máquina do Esporte.
No Taiti, Gabriel Medina teve a frustração de não atingir a final, mas a alegria de conquistar o bronze olímpico, medalha que escapou de sua prancha em Tóquio 2020. Já no feminino, o Brasil obteve uma medalha inédita, com a prata de Tatiana Weston-Webb.
“Foi um ótimo resultado para o país, fruto de um trabalho de preparação realizado pela CBSurf em conjunto com o COB [Comitê Olímpico do Brasil], com a seleção olímpica desde a definição da equipe”, relata Bareja.
Investimento
Com novo ciclo de conquistas, a CBSurf se candidata a ganhar quantias ainda mais polpudas do COB via repasse da Lei Piva, que destina parte da arrecadação das loterias da Caixa Federal ao esporte olímpico e paralímpico do Brasil.
No curto ciclo de três anos até Paris 2024, a entidade recebeu repasse de R$ 20.819.462,30, que ajudaram na preparação da equipe.
Novata entre as confederações olímpicas –o surfe esteve presente pela segunda vez no programa dos Jogos—, a CBSurf ficou com 3,5% do total disponibilizado pelo comitê a todas as modalidades.
“A Lei Piva representou um marco para o esporte nacional, ao proporcionar um avanço na captação de recursos destinados ao desenvolvimento desportivo brasileiro”, lembra Berja.
“É fundamental na preparação dos atletas no que diz respeito ao custeio em torneios, treinamentos, capacitação, premiação e fomento do esporte como um todo”, acrescenta.
Brazilian Storm
Os bons resultados do surfe brasileiro em Jogos Olímpicos são reflexo do domínio nacional no circuito mundial. É a Brazilian Storm, apelido dado por causa do grande número de surfistas brasileiros se destacando na modalidade.
“O Brasil vem em uma crescente de resultados no cenário do surfe internacional, com sete títulos mundiais nos últimos dez anos: campeão mundial por equipes do ISA Games em 2023, tendo um campeão mundial na categoria sub-18 masculina e três medalhas em duas Olimpiadas”
Rodrigo Bareja, gerente de comunicação da CBSurf
Mas o trabalho também começa no país, para a descoberta de novos talentos para a modalidade. O litoral brasileiro, repleto de praias, favorece o fomento à modalidade. No entanto, é preciso detectar e desenvolver esses atletas.
“Temos um novo Circuito Brasileiro que já é considerado o maior circuito nacional de surfe do mundo, com a maior premiação ofertada [R$ 400 mil por etapa]”, conta Bareja.
Com boas possibilidades de revelar novos nomes, as possibilidades de novos pódios para a próxima edição dos Jogos devem continuar altas.
“Isso, claramente, nos dá uma enorme expectativas para as Olimpíadas de Los Angeles 2028, para conseguirmos mais medalhas”, diz o gerente da CBSurf.
Renovação
Em 2023, a CBSurf desenvolveu, em conjunto com o COB, o Programa de Treinamento Seleção Brasileira Júnior.
“São três encontros de uma semana, em três lugares diferentes do Brasil, com treinamento físico, análise de surfe, acompanhamento de fisioterapeuta e psicólogo, avaliações médicas e de alto rendimento, com simulação de julgamento de baterias”, conta Bareja.
Além dessa iniciativa, a CBSurf desenvolve o Programa Talento Feminino, voltado especificamente para as mulheres, categoria em que o Brasil ainda necessita de maior desenvolvimento em relação ao domínio masculino na WSL.
“Esses programas já estão acontecendo e gerando muitos resultados para as carreiras dos atletas e para as competições. Até Los Angeles 2028 a ideia é, além de fortalecer essas iniciativas, desenvolver outras para que o Brasil continue sendo o país do surfe”, brinca o dirigente.