O Brasil fechouu participação nas Olimpíadas de Paris 2024 com sua pior campanha desde os Jogos de Londres 2012. Ao todo, a delegação nacional subiu 20 vezes ao pódio (3 ouros, 7 pratas e 10 bronzes), terminando em 20º lugar no quadro geral de medalhas. Foi também sua pior posição desde 2012, quando levou 3 ouros, 5 pratas e 9 bronzes e ficou com a 22ª colocação.
No Rio 2016, ocasião em que pela primeira vez sediou os Jogos de Verão, o Time Brasil obteve 7 ouros, 6 pratas e 6 bronzes, ficando em 13º lugar. Já em Tóquio 2020, a delegação chegou ao recorde de 21 medalhas, sendo 7 ouros, 6 pratas e 8 ouros, terminando na 12ª posição, a melhor do Time Brasil na história.
Se no Rio 2016 a ambição do Comitê Olímpico do Brasil (COB) era atingir o top 10 no quadro geral de medalhas, em Paris 2024, o país lutou para se manter entre as 20 principais nações olímpicas. O discurso da entidade, porém, foi de olhar o copo meio cheio.
“Conseguimos quebrar recordes, principalmente quanto ao esporte feminino. Isso nos deixa bastante satisfeitos”, destacou Rogério Sampaio, chefe da Missão Paris 2024 e diretor-geral do COB.
Mulheres
De fato, as boas notícias do Time Brasil na capital francesa foram dadas, em geral, pelas mulheres. Pela primeira vez na história, elas superaram os homens em ouros e total de medalhas. Também bateram o recorde de pódios anterior, que havia sido obtido em Tóquio 2020.
O esporte feminino nacional foi responsável por 3 ouros, 4 pratas e 5 bronzes (60% das medalhas do Brasil). Já os homens ficaram com 0 ouro, 3 pratas e 4 bronzes (35%). Houve também um bronze na disputa de equipes mistas do judô, sendo que a luta decisiva foi vencida por uma mulher, Rafaela Silva, da categoria até 57 kg.
“Há dois ciclos olímpicos, após ser identificada uma oportunidade de crescimento do esporte feminino, o COB começou a investir especificamente nas mulheres”, contou Mariana Mello, subchefe da Missão Paris 2024 e gerente de Planejamento e Desempenho Esportivo do COB.
“Não só atletas, mas também para tentar aumentar o número de treinadoras e gestoras. O que vimos aqui em Paris no esporte, também reflete o que está acontecendo na sociedade: a mulher cada vez mais se fortalecendo”, acrescentou.
Destaques
O grande destaque em Paris foi Rebeca Andrade, que somou mais 1 ouro (solo), 2 pratas (salto e individual geral) e 1 bronze (equipes) à sua colocação de medalhas olímpicas. Com isso, tornou-se a maior medalhista olímpica da história do Brasil, superando o velejador Robert Scheidt, que se despediu das Olimpíadas em Tóquio 2020.
Outra estrela que brilhou em Paris foi Rayssa Leal. Aos 16 anos, idade em que a maior parte dos atletas ainda nem estreou nos Jogos, a maranhense conquistou sua segunda medalha olímpica, o bronze no skate street. Em Tóquio 2020 ela havia ganhado a prata com apenas 13 anos.
Duda e Ana Patrícia voltaram a colocar o Brasil no alto do pódio olímpico do vôlei de praia feminino após 28 anos. Desde Jaqueline/Sandra, na estreia da modalidade nos Jogos, em Atlanta 1996, que o país não conquistava o ouro na competição.
Beatriz Souza superou as expectativas e conquistou o ouro no judô (categoria acima de 78 kg). De quebra, ainda integrou a equipe mista, que ganhou a medalha de bronze.
Tatiana Weston-Webb foi outra que surpreendeu, chegando à final do surfe feminino e conquistando a primeira medalha da modalidade para as brasileiras. A surfista atualmente está em sétimo lugar na WSL, o circuito mundial de surfe, e estaria do Finals, etapa que decide o campeão da temporada.
Outra campanha memorável foi a da seleção brasileira feminina de futebol, que voltou a uma final olímpica depois de 16 anos. Durante a campanha, as brasileiras derrotaram a França, algoz do Brasil na Copa do Mundo Feminina de 2019, por 1 a 0, nas quartas de final; e a Espanha, atual campeã mundial, por 4 a 2, na semifinal. Na decisão, o Brasil acabou perdendo para os Estados Unidos, seu antigo algoz, por 1 a 0.
Mas houve participação com gosto agridoce. A seleção feminina de vôlei fazia campanha perfeita nas Olimpíadas, sem perder nenhum set, até pegar os Estados Unidos na semifinal. As norte-americanas venceram por 3 sets a 2, estragando o sonho do ouro olímpico. As comandadas de José Roberto Guimarães, porém, ainda conquistaram o bronze, após superar a Turquia, por 3 a 1.
Homens
Nem só de decepções viveram os homens. Isaquias Queiroz conseguiu uma arrancada incrível nos metros finais do C1-1000 m para conquistar a medalha de prata.
Caio Bonfim superou as decepções de Olimpíadas passadas e finalmente conseguiu uma medalha nos Jogos, a prata, na marcha de 20 km. Alison dos Santos, o Piu, apesar de campanha titubeante nas eliminatórias, conquistou um bronze na final dos 400 m com barreiras, subindo pela segunda vez ao pódio olímpico.
Se as ondas não ajudaram Gabriel Medina, favorito ao ouro, a subir no degrau mais alto do pódio, o paulista comemorou muito sua primeira medalha olímpica, o bronze, que havia escapado de seu pescoço em Tóquio 2020.
Quarto lugar
Há campanhas históricas que não renderam medalha. Hugo Calderano, então 6º do ranking mundial, chegou às semifinais no torneio de simples do tênis de mesa. No entanto, o carioca viu a medalha escapar, terminando em quarto lugar.
Foi a mesma posição de Dora Varella, no skate park, após se classificar para a final apenas na oitava posição. O quarto lugar também frustrou os esforços de Ana Sátila, no K1 da canoagem slalom. A canoísta mineira também foi quinta colocada no C1. A quarta posição também tirou Rebeca Andrade do pódio na trave da ginástica artística.
“Pequenos detalhes fazem muita diferença entre uma medalha de ouro, de prata, de bronze, um quarto ou um quinto lugar. Se algumas ondas, alguns ventos e algumas situações não tivessem acontecido, a gente teria ainda mais motivos para comemorar”, lamentou Ney Wilson, diretor de Alto Rendimento do COB.
Decepção
Nos esportes coletivos houve algumas decepções. A principal foi o futebol masculino, que nem se classificou para tentar o tricampeonato olímpico. Em quadra, o vôlei masculino também caiu precocemente, nas quartas de final, após perder para os Estados Unidos por 3 sets a 1, ficando fora do pódio pela segunda vez consecutiva.
Entre as confederações, uma das decepções foram os desportos aquáticos. Mesmo classificado em três esportes (natação, águas abertas e saltos ornamentais), os atletas brasileiros retornam da França zerados. Foi a primeira vez que isso aconteceu em 20 anos.
O melhor resultado foi de Ana Marcela Cunha. Campeã olímpica em Tóquio 2020 nas águas abertas, a nadadora enfrentou uma série de lesões no atual ciclo olímpico. Mesmo se superando, acabou decepcionada com a quarta posição, ficando a 33 segundos de ganhar uma medalha.
É preciso ressaltar que, aos 32 anos, Ana Marcela era a única possibilidade de medalha de toda a delegação de esportes aquáticos. Isso mostra que é urgente um trabalho de renovação da equipe olímpica nacional. Procurada para comentar o assunto, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) não quis se pronunciar.
Já a vela também passou em branco pela primeira vez em 32 anos. Bicampeãs olímpicas, Martine Grael e Kahena Kunze terminaram apenas na oitava posição.
Para a Confederação Brasileira de Vela (CBVela), o Brasil passa por uma renovação, após uma geração vitoriosa, capitaneada por Robert Scheidt e Torben Grael, deixarem de competir.
A Equipe Brasileira de Vela alcançou quatro finais e lutou até o último dia por medalhas, mas o esporte é imprevisível”, lamenta Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da CBVEla, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Enviamos uma equipe que combinava juventude e experiência, apoiando nossos atletas em competições internacionais com investimentos em treinamento, equipamentos, viagens e técnicos”, acrescentou o dirigente.