Em ano de Jogos Olímpicos, que serão disputados em Paris, na França, costuma ser grande a expectativa em torno do desempenho a ser alcançado pelos atletas brasileiros. Considerando-se as últimas edições do evento, o país tem registrado uma evolução constante no quadro de medalhas, tendo obtido sua melhor participação em Tóquio 2020, cuja edição foi disputada em 2021 por conta da pandemia de Covid-19, com 21 pódios no total.
Essa evolução é resultado direto do maior investimento nas modalidades presentes nos Jogos. O que pouca gente sabe, no entanto, é que é uma mulher a “dona da chave do cofre”, de onde saem os recursos que fazem essa engrenagem funcionar.
Formada em Direito, Isabele Duran atua há 24 anos na área esportiva. Ela ingressou no Comitê Olímpico do Brasil (COB) em 2018, para atuar no setor de controle financeiro. No ano seguinte, alcançou o cargo de diretora. Atualmente, comanda a diretoria administrativa e financeira da entidade.
Isabele coordena toda a descentralização das verbas das loterias para as confederações esportivas, bem como analisa a aplicação desse dinheiro pelo COB. Além disso, controla o sistema interligado ao Governo Federal que impede repasses em caso de descumprimento do disposto na Lei Pelé. Não bastasse tudo isso, ainda é responsável por cuidar da área administrativa do COB, o que inclui desde a manutenção da sede administrativa até recursos humanos (RH), tecnologia da informação (TI) e o controle das compras de suprimentos.
“É uma responsabilidade grande. Já ocorreu, não de pessoas aqui do COB, mas sim de fora, perguntarem: ‘Como assim? Uma mulher cuidando do dinheiro do COB?’. É um valor alto. Mas não estou sozinha nessa missão”
Isabele Duran, diretora administrativa e financeira do COB
A presença de Isabele em um cargo relevante está longe de ser uma exceção dentro do COB. Na verdade, em tempos recentes, a entidade tem conseguido avançar nas políticas internas de representatividade e inclusão.
“Hoje, temos 324 colaboradores, sendo 180 mulheres e 144 homens. Nos cargos de liderança, desde diretoria até coordenação, são 31 homens e 33 mulheres. Na minha diretoria, tenho 131 colaboradores, dos quais 77 são mulheres e 54 homens. Então, não me sinto só, pois tenho muitas mulheres caminhando ao meu lado”, afirmou a executiva, em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte.
Desafios
A diretora reconhece, porém, que a inclusão e o aumento da representatividade feminina continuam a ser grandes desafios dentro do universo esportivo.
“É importante ressaltar que essa é uma questão histórica da sociedade brasileira. Não é difícil para as mulheres apenas no esporte, mas fora dele também. No ambiente esportivo, é claro, existem alguns agravantes, como o fato de termos sido, por muito tempo, impedidas de participar ou mesmo de assistir às competições”, salientou.
Na visão de Isabele, a inclusão feminina é um processo que não se dará em detrimento dos homens.
“O que queremos é a integração, aprender com eles e também ensinar, pois temos características distintas, mas que se complementam”, afirmou.
O COB conta com uma área que atua especificamente na elaboração de políticas para mulheres no esporte. Recentemente, essa comissão liberou o resultado do edital de fomento para a participação feminina em diversas modalidades.
O combate ao assédio e ao abuso sexual é outra preocupação da entidade, que criou o Programa Esporte Seguro, com cursos relacionados ao tema, por meio do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), departamento educacional do COB.
Durante eventos maiores, como Jogos Olímpicos ou Pan-Americanos, são disponibilizados canais de denúncia específicos para as atletas.
Por fim, o setor de compliance do COB é outro instrumento que pode atuar em casos de assédio, não apenas os que porventura ocorrerem na entidade, como também as eventuais queixas envolvendo federações e confederações.
Aliando vida pessoal e profissional
Isabele Duran é casada e tem um filho, Matheus, atualmente com 16 anos. Os compromissos profissionais no COB, cuja sede está localizada no Rio de Janeiro (RJ), obrigam-na a passar boa parte do tempo longe da família, que reside em Vila Velha (ES).
“A saudade é imensa, mas posso dizer que sou abençoada por Deus. Tenho meus pais lá, ajudando em tudo. Meu marido é supercompanheiro e um pai muito presente. E meu filho é maravilhoso. Minha rede de apoio é muito forte”, enfatizou.
Ao comentar sobre suas perspectivas para o futuro, a dirigente espera poder olhar para o lado e encontrar mais mulheres ocupando posições-chaves dentro e fora do mundo esportivo.
“Meu recado para as mulheres é que elas não desistam. Quando me formei em Direito, por exemplo, nem imaginava que algum dia trabalharia no COB, neste cargo. Mas hoje estou aqui. Então, sejam perseverantes”, finalizou.