A Arábia Saudita não quer mais ser tão dependente do petróleo. Para diversificar as fontes de receita, vem investindo em outros setores da economia e, já há algum tempo, colocou o esporte como protagonista na lista de prioridades. Na visão do país, aliás, o esporte é apontado como um “pilar fundamental”.
Essa estratégia já vem sendo trabalhada há alguns anos (coincidentemente ou não, desde que ficou provado o envolvimento do príncipe saudita Mohammed bin Salman no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018, os sauditas “abraçaram” o esporte) e está rendendo frutos. Apesar de muitas críticas, a Arábia Saudita passou a fazer parte do calendário da Fórmula 1 em 2021, sediará os Jogos Mundiais de Esportes de Combate em 2023 e também já foi escolhida para ser anfitriã dos Jogos Asiáticos de 2034.
Além disso, ainda está na disputa para receber a Copa Asiática de Futebol de 2027 e sediou a decisão do título mundial de boxe da categoria pesos-pesados, entre o ucraniano Oleksandr Usyk e o britânico Anthony Joshua, neste final de semana. Para fechar, o Investimento Público do Estado (PIF) investiu pesado no golfe e na compra do Newcastle, clube que disputa a Premier League, principal liga nacional de futebol do mundo. No futebol, inclusive, já recebeu as Supercopas da Itália e da Espanha.
Em conversa com a mídia em Jidá, o príncipe Abdulaziz bin Turki Al-Faisal, que é Ministro do Esporte do país, deixou claro que tudo isso pode, sim, servir como experiências precursoras de uma futura candidatura olímpica.
“Nosso foco principal agora são os Jogos Asiáticos de 2034. Estamos abertos para discutir com o COI [Comitê Olímpico Internacional] sobre isso [Jogos Olímpicos] para o futuro. Acho que a Arábia Saudita mostrou que podemos sediar esses eventos. Definitivamente, a Olimpíada seria um objetivo final para nós”, afirmou.
A declaração foi feita apenas um dia após mais uma crítica severa de violação dos direitos humanos contra o reino. A Organização das Nações Unidas (ONU) expressou indignação com a sentença de 34 anos de prisão proferida à estudante de doutorado Salma al-Shebab por conta de uma série de tuítes e retuítes sobre política e questões de direitos humanos na Arábia Saudita.
Nos últimos tempos, o país também foi fortemente criticado por várias ofensas aos direitos humanos cometidas pelo Estado, incluindo a guerra no Iêmen, o próprio assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, a opressão de mulheres e grupos LGBTQIAP+, bem como a suposta tortura e desaparecimento de ativistas.
Por conta disso tudo, a Arábia Saudita é acusada de “lavagem esportiva”, ou seja, de usar o esporte para “distrair” o mundo do que seriam “incontáveis” violações de direitos humanos. O Ministro do Esporte, no entanto, discordou na conversa com a mídia.
“Estamos progredindo, estamos caminhando para uma sociedade melhor, estamos caminhando para uma melhor qualidade de vida, um país melhor para o futuro. E os fatos mostram que sediar esses eventos beneficia nosso povo, beneficia essas mudanças que estão acontecendo e beneficia a vida na Arábia Saudita”, declarou.
Vale destacar que as próximas três edições de Jogos Olímpicos já têm sedes definidas: Paris 2024, Los Angeles 2028 e Brisbane 2032. A próxima edição ainda em aberto é 2036, exatamente dois anos após os sauditas receberem os Jogos Asiáticos.