Chegou ao fim a trajetória da ex-jogadora de vôlei Ana Moser no Ministério do Esporte. Em uma reunião realizada no fim da tarde desta terça-feira (5), entre ela e o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a demissão foi oficializada.
Nas últimas semanas, Ana Moser esteve em meio a um intenso tiroteio por parte de entidades esportivas capitaneadas pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), que estão insatisfeitas com o processo de regulamentação da Lei Geral do Esporte (LGE).
A polêmica, em si, não chegou a ser a grande causa da queda de Ana Moser. A demissão é parte de uma reforma ministerial que o Governo Federal passou a formular, há algumas semanas, buscando garantir o apoio dos partidos do “Centrão”. Lula tenta trazer para sua base o PP e o Republicanos, legendas que elegeram, juntas, em 2022, 89 deputados.
O favorito para assumir a cadeira deixada por Ana Moser é o deputado federal André Fufuca, que tem sua base eleitoral no Maranhão e é líder do PP, mesmo partido do presidente da Câmara, Arthur Lira.
Apostas
Inicialmente, quem seria “sacrificado” por Lula para atrair o “Centrão” era o ex-governador do Piauí Wellington Dias, filiado ao PT e titular do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável por diversos programas do Governo Federal, incluindo o Bolsa Família.
Mas a iminência da regulamentação das apostas esportivas no Brasil, que deverá ser votada na próxima semana, serviu para mudar os rumos da reforma ministerial. Isso porque a pasta de Ana Moser passaria a ser responsável pela Secretaria Nacional responsável por regular o setor, que poderá movimentar R$ 12 bilhões neste ano no país, de acordo com estimativas do Ministério da Fazenda.
Segundo a CNN, a mudança da Secretaria Nacional de Prêmios e Apostas para a jurisdição da pasta do Esporte enfrenta oposição por parte do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas a tendência é de que seja sacramentada.
Críticas
Apesar de poder ajudar a selar seu “casamento” com o PP, a decisão de Lula de “fritar” Ana Moser tem rendido desgaste ao chefe do Executivo, junto a setores que estiveram próximos a ele na disputa contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Entre os grupos que saíram em defesa da agora ex-ministra, o que vinha se posicionando de maneira mais contundente nas últimas semanas era justamente a Atletas Pelo Brasil, fundada pela própria Ana Moser. No início de julho, a organização já criticava as mudanças cogitadas para a pasta.
Em uma nota divulgada na tarde desta terça-feira (5), antes da demissão de Ana Moser ser oficializada, a Comissão de Atletas do COB, o Movimento Esporte Pela Democracia e a Atletas pelo Brasil criticaram as possíveis mudanças na pasta. No final de junho, um grupo de mais de 80 atletas, ex-atletas e personalidades ligadas ao esporte já havia divulgado uma carta aberta manifestando apoio à ex-jogadora de vôlei.
“Ainda durante a campanha presidencial em 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro com representantes da área, disse que era necessária uma ‘revolução’ na política pública de esporte, uma que ajudasse a ‘construir uma boa política de esporte para este país, da infância até a terceira idade’. (…) Lamentamos que, menos de um ano depois, em nome de uma pretensa governabilidade, o governo do presidente Lula possa vir a romper com seu discurso e promessas e, colocando o Ministério do Esporte na mesa de negociações políticas, aniquile toda e qualquer possibilidade de que a política de esporte que o Brasil precisa seja efetivamente implementada. O esporte não é moeda de troca. Nos sentimos envergonhados e desprestigiados, vendo que o esporte no Brasil continua sendo encarado como algo menor.“
Nota da Atletas pelo Brasil, do Movimento Esporte Pela Democracia e da Comissão de Atletas do COB