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Após abocanhar o Pan 2031, Assunção mira final da Libertadores e reforça estratégia para atrair grandes eventos

Capital do Paraguai quer aproveitar turbulência política no Peru e proximidade com presidente da Conmebol para garantir também a decisão continental

Vista geral de Assunção, capital do Paraguai - Reprodução / Instagram (@muniasu)

O Paraguai foi tomado por um apetite insaciável por grandes eventos, especialmente no esporte. Na semana passada, Assunção, a capital do país, foi escolhida como sede dos Jogos Pan-Americanos e dos Jogos Parapan-Americanos de 2031, desbancando a candidatura conjunta (e antes tida como favorita) de Rio de Janeiro e Niterói.

Esta não foi a primeira tentativa da “Mãe das Cidades” (apelido que se deve ao fato de que dali partiram as expedições espanholas que conquistaram boa parte da América do Sul, no século 16) tentou receber os eventos.

Recentemente, Assunção chegou a concorrer pelo direito de organizar o Pan e o Parapan de 2027, mas acabou sendo derrotada por Lima. Agora, não apenas foi escolhida como sede dos eventos esportivos continentais, como ainda terá a chance de se vingar da cidade rival.

A final em jogo único da Copa Libertadores 2025 está agendada para ocorrer na capital peruana, no Estádio Monumental, em 29 de novembro.

O problema é que o Peru vive uma grave crise política, que culminou com a cassação do mandato da presidente Dina Boluarte, que deixa o cargo com 93% desaprovação popular.

De maneira unânime, o Congresso Nacional considerou que a mandatária estaria acometida de “incapacidade moral permanente” para lidar com a violência e a corrupção que assolam o país.

A destituição de Boluarte é uma tentativa de pacificar o Peru, que tem eleições presidenciais previstas para ocorrer em abril do ano que vem.

Nas últimas décadas, vale lembrar, a política peruana tem sido marcada pela forte polarização, situação que é agravada pela ação do crime organizado.

No último dia 9, quatro músicos da banda de cúmbia Agua Marina, uma das mais populares do país, foram baleados enquanto realizavam um show na capital. O ataque é atribuído a grupos criminosos que praticam extorsão contra organizadores de eventos na cidade.

Assunção de olho na oportunidade

O presidente do Congresso, José Jerí, assumiu a chefia do Executivo prometendo endurecer o jogo no combate à violência.

O novo mandatário corre contra o relógio, ainda mais porque a ação dos grupos criminosos afeta justamente o setor de eventos.

A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), que organiza a Copa Libertadores, já cogitou retirar a decisão de Lima, transferindo-a para Assunção.

Pesa em favor da capital paraguaia não apenas o forte investimento que a cidade tem feito em sua infraestrutura esportiva e de hospitalidade, mas também o fato de que lá está sediada a Conmebol, entidade que, por sinal, é presidida por um paraguaio, Alejandro Domínguez, que já comandou a federação local de futebol.

Por enquanto, a entidade máxima do futebol sul-americano observa os movimentos do Peru. Caso a agitação e o caos permaneçam, Assunção estará pronta para ser ungida como substituta.

História trágica

Desde que o Paraguai se tornou independente, em 1811, sua história se desenvolveu de uma maneira peculiar, em comparação ao restante da América do Sul.

Enquanto as nações vizinhas adotaram o modelo agroexportador, fornecendo matérias-primas à Inglaterra, em troca de produtos industrializados, o país optou por um padrão mais autossuficiente e com forte presença estatal na economia.

A partir de 1864, porém, essa autonomia econômica ruiu, em meio à guerra travada pelo Paraguai contra a Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai.

Os efeitos do conflito foram desastrosos para a nação. Algumas estimativas, como a do historiador Steven Pinker, indicam que 70% da população paraguaia dizimada nessa guerra, que resultou ainda em grandes perdas territoriais em favor de Brasil e Argentina, além do crescente isolamento econômico do país.

A história paraguaia ganharia novos contornos trágicos no século 20, com conflitos internos e sobretudo por conta da Guerra do Chaco, travada contra a Bolívia e que tinha como o objetivo garantir o controle sobre a maior parte de uma ampla região de planície, que também está presente na Argentina e no Brasil (onde recebe o nome de Pantanal).

Além das perdas humanas, o passado turbulento acabou por comprometer o desenvolvimento econômico do Paraguai, situação que é agravada pelo fato de o país não possuir saída para o oceano.

Em tempos recentes, porém, a nação tem feito esforços para modernizar e diversificar sua economia, que ainda é dependente do agronegócio.

Investir no turismo

O Paraguai soube aproveitar o “boom” das commodities, impulsionada pela forte expansão chinesa das últimas décadas, para alcançar índices de crescimento econômico expressivos, que superam a média da América do Sul.

Os governos do país têm adotado políticas fiscais agressivas, buscando atrair as operações de empresas sediadas nas nações vizinhas, como Lupo, Buddemeyer, Guararapes e outras 226 companhias brasileiras que instalaram fábricas no território paraguaio, nos últimos anos.

O projeto de diversificação econômica também passa pelo fortalecimento do turismo. Nesse sentido, o Paraguai aposta em sua riqueza cultural, marcada pela forte presença indígena (especialmente guarani), nas belezas naturais e na biodiversidade, como forma de atrair visitantes.

Mas as ações nessa área procuram ir além. O Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável do Turismo, válido para o período de 2023 a 2030, tenta consolidar o Paraguai como um destino de peso para grandes eventos culturais, empresariais e esportivos.

Uma das grandes apostas recentes foi a realização dos Jogos Pan-Americanos Júnior, em agosto deste ano. O evento recebeu mais de 4 mil atletas de 41 países.

Agora, o Paraguai se vê diante de um novo desafio, que é a instalação da infraestrutura esportiva e de hospitalidade para o Pan e o Parapan de 2031.

O projeto prevê a construção de um novo estádio para atletismo, além de uma moderna arena com capacidade para 10 mil espectadores.

A ideia é permitir que tais estruturas sirvam para atrair novos eventos internacionais, nos anos seguintes. Sem contar que as próprias obras, em si, ajudarão a aquecer o setor da construção civil, que tem sido um dos principais responsáveis pelo crescimento da economia do Paraguai, nas últimas décadas.