Governo Federal revê estratégia de patrocínios das estatais ao esporte

Rayssa Leal e Filipe Mota

Skatistas Rayssa Leal e Filipe Mota são patrocinados pelo Banco do Brasil - Reprodução / Instagram (@bancodobrasil)

A mudança de gestão no Governo Federal teve impactos na política para as empresas estatais. Várias delas, que estavam na mira do plano de privatização do ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, foram retiradas da lista pela equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Casos de Petrobras e Correios, por exemplo.

Neste novo momento, é possível observar mudanças nas estratégias das estatais para o esporte. A tendência atual é de retomada de patrocínios na área. As empresas públicas ou de economia mista do Governo Federal sempre tiveram fortes investimentos nesse setor, seja patrocinando entidades ou atletas individuais, seja apoiando eventos ao redor do país.

Em alguns casos, os contratos acabavam por despertar certa polêmica, como nos patrocínios da Caixa a clubes profissionais de futebol. Além da queixa dos torcedores dos times que não eram contemplados por tais investimentos, havia também a crítica em relação ao fato de o banco público destinar dinheiro a uma modalidade que já concentrava a maior fatia do bolo das receitas publicitárias no esporte brasileiro. E não faltavam questionamentos em relação ao retorno real que tais patrocínios traziam ao banco.

Em dezembro de 2018, pouco antes de assumir o cargo para o qual acabara de ser eleito, o então deputado federal Jair Bolsonaro postou no Twitter (hoje X) uma crítica aos gastos da Caixa em patrocínios.

“Tomamos conhecimento de que a Caixa gastou cerca de R$ 2,5 bilhões em publicidade e patrocínio neste último ano. Um absurdo!”, afirmou, à época, o futuro presidente, prometendo rever todos os contratos.

A partir de 2019, a Caixa optou por não renovar acordos com clubes de futebol. Por volta daquela época, descobriu-se que o banco estatal havia destinado, na verdade, R$ 727 milhões a 35 equipes, entre 2012 e 2018. No último ano em que o patrocínio vigorou, os gastos da empresa com patrocínios a times havia sido, na realidade, de R$ 194,6 milhões.

Caixa tem retomada nos investimentos

Hoje, porém, o movimento é distinto. Conforme mostrou uma matéria publicada na semana passada pela Máquina do Esporte, a Caixa anunciou a retomada de seus investimentos no esporte. Para este ano, o banco já anunciou a destinação de R$ 68,3 milhões para a área, incluindo a renovação das parcerias com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), assim como o retorno da parceria com a Liga Nacional de Basquete (LNB), com o patrocínio ao Novo Basquete Brasil (NBB).

“A Caixa, hoje, primeiro está renovando acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro, com maiores valores de patrocínio, e está retomando patrocínio para as ligas de basquete feminino [o acordo com a LBF foi anunciado no mês passado] e masculino. Está dentro de um conjunto de ações que o banco vem tomando no sentido de que volte de fato a ter papel relevante no desenvolvimento do país”, afirmou Maria Rita Serrano, presidente da Caixa.

Correios

De todas as estatais brasileiras, os Correios são a que esteve mais perto de ser privatizada no ano passado, sob o argumento de que seria deficitária e que a venda ajudaria no equilíbrio das contas públicas do país. No fim, a ideia não prosperou por falta de votos no Congresso Nacional.

Por mais de três décadas, a empresa foi patrocinadora das Confederações Brasileiras de Desportos Aquáticos (CBDA), Tênis (CBT), Handebol (CBHb), Futsal (CBFS) e Desportos Universitários (CBDU). O fim das parcerias com as três primeiras entidades foi sacramentado em agosto de 2016, pelo governo de Michel Temer, algumas semanas após o término dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

O argumento utilizado pela direção da empresa era de que teria registrado prejuízo de R$ 2,1 bilhões em 2015 e que o cancelamento das parcerias ajudaria a sanear as contas da estatal. No governo seguinte, todos os demais acordos da empresa nos esportes foram encerrados. O orçamento dos Correios para 2023 não reservou recurso algum para patrocínios esportivos.

“Ao assumir a empresa, a atual gestão dos Correios determinou a busca pelo diálogo com as confederações para avaliação de viabilidade de retomada dos patrocínios a partir de 2024, o que atualmente está em andamento”, afirmou a assessoria da estatal, em nota enviada para a reportagem da Máquina do Esporte.

Petrobras

A Petrobras é outra estatal que sempre teve forte atuação no esporte, incluindo o futebol. De 1984 a 2009, por exemplo, a empresa foi patrocinadora máster do Flamengo. Nos últimos anos, o foco estava mais voltado para as modalidades olímpicas.

Procurada, a estatal petrolífera declarou que está “reavaliando a estratégia de patrocínios e investimentos, de forma a refletir o posicionamento de uma empresa atenta às demandas da sociedade e que busca a valorização de seus serviços e suas marcas”.

“A companhia mantém o novo Time Petrobras 2023/2024, composto por 45 atletas de diferentes modalidades olímpicas e paralímpicas. Os critérios de seleção para o time valorizam atletas que já tiveram destaque em competições relevantes de sua modalidade, com um olhar para modalidades que têm maior dificuldade de captação de recursos”, afirmou a nota.

O projeto Time Petrobras foi iniciado em 2015 e já apoiou 44 atletas de 21 modalidades, que conquistaram 91 medalhas em diversas competições, incluindo Jogos Olímpicos, sendo 11 apenas na última edição, realizada em Tóquio, no Japão, em 2021.

“O investimento previsto para este ciclo é de R$ 12,5 milhões, cobrindo o período de competições importantes, como os Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos de Santiago 2023 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024“, informou a Petrobras.

Banco do Brasil

Enquanto as demais estatais federais passam por um momento de revisão das estratégias para o esporte, no Banco do Brasil o foco principal está em amadurecer os patrocínios já existentes, caso da parceria com as equipes brasileiras masculina e feminina de vôlei (de praia e de quadra), que já dura mais de 30 anos.

Acordos mais recentes, firmados em modalidades como e-Sports, em 2018, e skate, em 2021, ajudam a reforçar a presença da instituição junto a um público consumidor mais jovem. O banco também investe em corrida de rua (running) e surfe.

Neste ano, o Banco do Brasil anunciou as contratações dos surfistas Italo Ferreira e Filipe Toledo, bem como dos skatistas Fernando Araújo, Daniela Vitória e Augusto Akio para seu time de esportistas patrocinados.

Outros atletas de renome nas duas modalidades e que também possuem contrato com a instituição financeira são Tatiana Weston-Webb, Rayssa Leal, Filipe Mota e Raicca Ventura, além do canoísta Isaquias Queiroz.

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