Não é de hoje que a organização da Maratona do Rio cita o sonho de transformar a prova, que já é o maior festival de corrida de rua da América Latina há alguns anos, em uma Major, grupo que, atualmente, engloba as seis maiores maratonas do mundo (Boston, Nova York, Chicago, Tóquio, Londres e Berlim). O que sempre pareceu um sonho muito distante pode ter se aproximado ao menos um pouco após a edição de 2023, que foi realizada neste último fim de semana pelas ruas da capital fluminense.
Dois fatores foram essenciais para isso. O primeiro deles foi a transmissão pela TV. Neste ano, de forma inédita, a ESPN (TV fechada) e o Star+ (streaming) exibiram a prova principal, a Maratona, ao vivo, partir das 5h de domingo (11). Todas as principais maratonas do mundo são transmitidas para o mundo inteiro, e esse era um buraco na Maratona do Rio.
O segundo fator é a presença da Adidas. Além de ter sido essencial para viabilizar a transmissão ao vivo, a empresa alemã possui um status global no universo esportivo que chama atenção de atletas e patrocinadores, sem contar o fato de já ser a marca esportiva oficial de duas das seis Majors (Boston e Berlim), com as quais, inclusive, já há uma troca de experiências com os organizadores da Maratona do Rio que é intermediada pela empresa.
Vale lembrar que a estreia da Adidas na prova carioca foi em 2022, mas, com o contrato assinado poucas semanas antes do evento, a marca não conseguiu fazer tudo que queria no primeiro ano.
“Quando a gente, como marca, começou a procurar qual corrida a gente iria patrocinar, a gente queria que fosse a maior corrida do Brasil justamente para, com o tempo, ter uma corrida muito importante, ter uma Major no Brasil. A gente entendeu que a Maratona do Rio era a prova, o festival, que tinha esse potencial. Achamos isso [tornar a prova carioca uma Major] possível, sim. Sabemos que o caminho não é curto, não é fácil, mas vemos esse potencial, sim. A Adidas ajuda a prova, mas também a prova foi escolhida a dedo para ajudar a Adidas a alcançar esse objetivo”, contou Bárbara Ikari, gerente sênior para running da Adidas Brasil.
Além destes dois pontos considerados diferenciais, ainda há outras questões importantes. Em 2023, foram quase 40 mil corredores, se somadas todas as distâncias oferecidas (5km, 10km, 21km e 42km), o que fez com que o número de equipes e assessorias presentes aumentasse, assim como os patrocinadores, com a entrada, por exemplo, da Granado.
A outra consequência direta disso é a movimentação da economia da cidade do Rio de Janeiro durante todo o feriado de Corpus Christi, que serve como data para a Maratona do Rio já há algum tempo. Os números oficiais serão confirmados em breve, quando sair o resultado de uma pesquisa feita pelos organizadores, mas a expectativa é de que algo próximo a R$ 200 milhões tenham sido injetados no Rio de Janeiro por conta do evento, que conta com quase 70% de inscritos de fora da capital fluminense.
“Todos os órgãos da cidade estão comprometidos com a prova. Para este ano, a prefeitura entendeu a importância de deixar a região do Aterro [do Flamengo, local de largada de três das quatro distâncias e chegada de todas elas] fechada para o trânsito desde a madrugada de sexta para sábado até a tarde do domingo. Ou seja, a cidade está entendendo cada vez mais a importância do evento. Basta andar por aí para ver que a cidade está respirando a Maratona, com hotéis lotados, shoppings vendendo bastante, carros de aplicativo com tarifa dinâmica, táxis cheios, restaurantes cheios, metrô de graça para quem apresentar o número de peito, e isso tudo é muito bom”, destacou João Traven, diretor da Spiridon, organizadora da prova ao lado da Dream Factory, e sócio-fundador da Maratona do Rio.
Mas então, com tudo isso, o que falta para que o Rio de Janeiro consiga ter a sua Maratona se transformando em uma Major? O próprio Traven respondeu de bate-pronto.
“A prova, hoje, está em um nível muito bom, está na WA [World Athletics, órgão que comanda o atletismo mundial], crescendo cada vez mais, seguindo todas as regras, vários atletas internacionais. Também temos uma grande marca esportiva por trás. Então, a diferença para uma Major, hoje, é a premiação, até porque nossa moeda não ajuda muito. Se a gente tiver um grande banco por trás para patrocínio, para a premiação, a gente acredita que estará muito perto”, explicou o executivo.
Para se ter uma ideia, a premiação distribuída na edição de 2023 da Maratona do Rio foi a maior de sua história e também a maior do país. Ao todo, foram R$ 310 mil, com valores iguais para os homens e para as mulheres. No entanto, o valor está longe de ser o suficiente para que o sonho de se tornar uma Major vire realidade. Para 2024, a esperança é que esse número aumente ainda mais e, assim, novos passos sejam dados em busca do objetivo principal, que é visto como possível no médio prazo.