Quando pensamos em corridas de rua, a primeira ideia que pode vir à mente é a de um ambiente de competição em que cada participante, especialmente os de elite, disputa a vitória com afinco a cada passada.
Nos últimos nove anos, porém, o Instituto Olga Kos de Inclusão e Cultura tem ajudado a romper com o senso comum. A partir de 2015, a entidade passou a realizar a Corrida e Caminhada Inclusão a Toda Prova, que está em sua 9ª edição. A prova deste ano foi realizada no último domingo (3), data em que é celebrado o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. A largada e a chegada ocorreram no Parque Ibirapuera, em São Paulo (SP).
A escolha do dia não foi aleatória. A prova tem justamente o objetivo de permitir a participação de pessoas com deficiência motora ou intelectual, mas buscando atrair outros participantes, de modo a construir a inclusão a partir da diversidade.
Wolf Kos, presidente do instituto, explicou que o conceito da prova surgiu a partir da percepção da exclusão que as pessoas com deficiência sofrem no dia a dia.
“As pessoas, de um modo geral, não costumam ter contato com as deficiências. E, por isso, muitas vezes não sabem lidar com alguém que apresenta essa condição”, afirmou.
A ideia de uma corrida e caminhada que não oferece qualquer premiação em dinheiro consiste, portanto, em fazer com que os participantes, com e sem deficiências, possam conviver no mesmo espaço e cooperar.
“Quando as pessoas participam da prova, elas abraçam uma causa e ficam mais receptivas à inclusão. Na corrida, o que vemos são muitos participantes se ajudando e aproveitando o convívio que aquele momento proporciona”, disse Kos.
Crescimento
Esse atrativo oferecido pela Inclusão a Toda Prova pode parecer singelo demais, ainda mais em uma sociedade baseada na competição acirrada (seja entre indivíduos, seja entre organizações ou países). Por incrível que possa parecer (ou não, já que nossa espécie só prosperou neste mundo porque aprendeu, milhares de anos atrás, a importância da ajuda mútua), a oferta de cooperação foi aos poucos cativando os “competidores”.
“Nossa primeira edição teve poucos participantes”, admitiu Kos, ao recordar-se da prova realizada em 2015.
Por “poucos”, entenda-se algo na casa de 5 mil pessoas. O número absoluto talvez aparente não merecer tal qualificação, a menos que analisemos o crescimento da prova ao longo dos anos.
Em 2023, a Inclusão a Toda Prova reuniu mais de 20 mil participantes. Destes, 15,2 mil pagaram pelas inscrições. Outros 1,8 mil vieram de programas e oficinas realizadas pelo Instituto Olga Kos. E não podem ser esquecidos, ainda, convidados e pessoas que resolveram correr, mesmo não estando inscritas.
A projeção do total de corredores baseia-se em algumas informações concretas, como quantidade de água distribuída no decorrer do trajeto e até mesmo a aglomeração de pessoas em locais estratégicos, como a largada. As opções de percurso foram de 6,1km e 10km.
“Nossa largada demorou mais de 27 minutos”, contou Wolf Kos.
De acordo com ele, apesar da prova ter caído no gosto das pessoas e do desejo da entidade de expandir a prova, a corrida realizada na capital paulista não poderá ser ampliada.
“Não adianta eu querer levar 40 mil corredores ao Ibirapuera. Além de não haver espaço, não seria seguro”, ponderou.
Assim, com base nessa questão material, o Instituto Olga Kos optou por limitar as inscrições na prova paulistana.
A Inclusão a Toda Prova, no entanto, crescerá de outra forma em 2024, expandindo-se para outras capitais e cidades importantes do país. Em 21 de março (quando é celebrado o Dia Mundial da Síndrome de Down), o instituto realizará corridas de rua em São Paulo e no Rio de Janeiro.
“Quando abrimos as inscrições para a corrida de março, em São Paulo, em apenas 48 horas já estávamos com 2 mil participantes”, comemorou Kos.
Em dezembro, serão realizadas edições da Inclusão a Toda Prova em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
“Também estudamos levar para outras cidades do interior paulista, como Campinas, mas ainda estamos alinhando com o governo estadual”, revelou Kos.
Na primeira prova, os patrocinadores principais eram Bradesco e Bradesco Seguros. Atualmente, juntaram-se à relação de parceiros empresas como Goldman Sachs, NTT Data, Credit Agricole, Alma Viva, BRQ, Ourinvest, Sartco-ADM, Foroni e Power Safe.
“Esta é uma causa muito importante, ainda mais nesta época, em que as empresas estão cada vez mais preocupadas com diversidade e inclusão”, finalizou Kos.