Em tempos recentes, a expressão “Milagre Chinês” tem sido usada para descrever o exponencial crescimento econômico obtido pela China, que hoje caminha para se tornar a maior potência comercial do planeta.
Mas no último fim de semana, enquanto muitos por aqui celebravam o feriadão de Páscoa que emendou com o Dia de Tiradentes, o brasileiro Hugo Calderano alcançou seu próprio “milagre chinês”, ao se tornar o primeiro atleta das Américas a conquistar o título da Copa do Mundo de Tênis de Mesa em simples.
A competição foi promovida pela Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF) em Macau, na China. Para se sagrar campeão, o brasileiro derrotou o número 1 do mundo, o chinês Lin Shidong, por 4 sets a 1.
Nas semifinais, ele já havia vencido o também chinês Wang Chuqin, segundo colocado do ranking. Essa vitória, assim como outras ao longo da competição, foi de virada, fato que ajuda a acrescentar uma aura mística ao título.
Em que pesem o esforço, a superação e o suor, a vitória do brasileiro não se trata propriamente de um “milagre”, no sentido sobrenatural da palavra. É, sim, fruto de um trabalho de longo prazo, iniciado quando o atleta ainda era adolescente.
Em entrevista concedida à Máquina do Esporte no ano passado, o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Alaor Azevedo, comentou sobre o investimento feito pela entidade no atleta, um quantia que ultrapassava a marca de R$ 6 milhões.
“Investimos mais de R$ 6,4 milhões em doze anos somente no Hugo Calderano, com bolsas, participações em eventos internacionais e investimento em profissionais de equipe multidisciplinar”, lembrou.
“Nesta conta, não estão os recursos obtidos pelo atleta com o Bolsa Atleta e o Bolsa Pódio Federal. Isso mostra o quanto é importante o aporte do Governo Federal em uma política esportiva de apoio”, acrescentou.
Fenômeno precoce
Desde a infância, Calderano já dava sinais de que poderia alcançar grandes feitos no esporte. Em 2009, aos 13 anos de idade, recebeu o Prêmio Brasil Olímpico de melhor atleta escolar.
À época, foi incluído no Programa Bolsa Atleta, do Governo Federal, apoio que Calderano recebe até os dias atuais.
Em 2011, ficaria conhecido nacionalmente ao derrotar Hugo Hoyama, até então a maior referência da modalidade no país e detentor de dez medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos, além de possuir duas participações em Olimpíadas.
Nos Jogos Olímpicos de 2016, Calderano chegou às oitavas de final, mas foi eliminado. Ainda assim, igualou a melhor marca de um brasileiro na competição, que era justamente de Hoyama.
Em Tóquio 2020, ele já figurava entre os dez melhores do ranking mundial. Alcançou as quartas de final, mas não avançou para a fase decisiva.
De 2021 em diante, sua carreira deu um salto. Naquele ano, ele venceu o WTT Star Contender de Doha, maior título conquistado por um brasileiro no tênis de mesa até então.
Nos Jogos de Paris 2024, ele já ocupava a sexta posição no ranking da ITTF, sendo selecionado como cabeça de chave. Terminou a disputa na quarta colocação, alcançando a semifinal de maneira histórica.
Com a conquista da Copa do Mundo em Macau, Calderano assumiu a terceira posição no ranking mundial. O posto pertencia ao japonês Tomokazu Harimoto, derrotado pelo brasileiro nas quartas final da competição.
Calderano dispara nas redes
No Brasil, é comum que as atenções do grande público estejam voltadas para clubes e jogadores de futebol, que acumulam dezenas e até centenas de milhões (no caso de Neymar, por exemplo) de seguidores nas redes sociais.
Mas atletas de outras modalidades têm conseguido furar a bolha e reunir um bom número de fãs nas plataformas digitais. Hugo Calderano é um desses exemplos, com um crescimento expressivo e que pode representar boas perspectivas para o tênis de mesa brasileiro.
Em Paris 2024, mesmo não conquistando medalha, o atleta obteve um aumento de 104% em suas redes, que atingiram um total de 498 mil seguidores.
Essa tendência de alta, aliás, foi percebida em todos os atletas do país que se destacaram nos Jogos. A judoca Beatriz Souza viu suas redes saltarem de pouco mais de 11 mil fãs para 3,3 milhões, um aumento impressionante de 30.000%.
Calderano também tem visto suas redes dispararem nos últimos tempos. Hoje, seu perfil oficial no Instagram já soma, sozinho, 1,2 milhão de seguidores.
Com a conquista da Copa do Mundo pelo brasileiro, a tendência é de que as atenções do público se voltem ainda mais para o tênis de mesa.
Esse fenômeno foi percebido no ano passado com a ginástica artística, após as conquistas de Rebeca Andrade e do bronze por equipes inédito do time feminino. Academias registraram um aumento significativo na procura por aulas da modalidade.
Poucos dias após o encerramento dos Jogos de Paris, o projeto mantido pela Prefeitura de Guarulhos (SP), que revelou a ginasta, viu suas 425 vagas se esgotarem em menos de 48 horas.
Patrocínios e parcerias
O tênis de mesa é um esporte muito popular nos países asiáticos. Por essa razão, é comum encontrar marcas orientais na lista de patrocinadores do brasileiro Hugo Calderano.
Uma delas é a fabricante de acessórios para tênis de mesa Xiom. A empresa está sediada na Coreia do Sul. Quem acessar o site da marca nesta semana deparará com uma foto de Calderano em destaque e um texto celebrando sua conquista.
Outro patrocinador do atleta é o Bank of Communications (Bocom) BBM, da China. E as parcerias internacionais não param por aí.
Atualmente, Calderano atua como atleta profissional do clube Liebherr Ochsenhausen, da Alemanha. Um de seus patrocínios é justamente do grupo alemão Würth Industry.
Entre os apoios brasileiros, além do Bolsa Atleta, Hugo Calderano também possui parceria com a Eurofarma. Ele faz parte do time de atletas olímpicos da farmacêutica.
Outras marcas que estão ao lado do brasileiro são a fabricante de mesas Cornilleau e a Spinsight, que desenvolve soluções de treinamento digital para jogadores da modalidade.