O que está por trás da hegemonia mineira no vôlei nacional?

O que está por trás da hegemonia mineira no vôlei

Sada Cruzeiro foi octacampeão nacional em 2023, após vencer o Itambé Minas na decisão - Reprodução / Twitter (@sadacruzeiro)

Pelo segundo ano consecutivo, as Superligas Masculina e Feminina de Vôlei chegaram às finais apenas com times de Minas Gerais. No masculino, o Sada Cruzeiro se sagrou campeão em cima do Itambé Minas no último domingo (30), enquanto a final feminina está marcada para as 10h do próximo domingo (7), em Uberlândia (MG), entre Gerdau Minas e Dentil Praia Clube.

A decisão masculina foi a segunda consecutiva entre Cruzeiro e Minas, ambos de Belo Horizonte (MG), e teve transmissão ao vivo pela Globo, Sportv 2, Canal Vôlei Brasil e Kwai. Com a vitória, o Cruzeiro foi campeão da Superliga pela oitava vez. 

Já na Superliga Feminina, o domínio mineiro é ainda mais longevo: esta é a quarta temporada seguida com os mesmos dois times na final. O Praia Clube é de Uberlândia e tenta seu segundo título, enquanto o Gerdau Minas é de Belo Horizonte e possui um recorde, sendo a única equipe a disputar a taça por 27 vezes, tentando seu hexacampeonato em 2023.  

Mas o que justifica, afinal, a predominância mineira no vôlei brasileiro? 

Organizada pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), a Superliga possui tabelas com 12 times. Nem no masculino nem no feminino o estado de Minas Gerais forma maioria. 

A tabela feminina conta com os paulistas Osasco, Bauru, Pinheiros, Barueri e Energis 8; os cariocas Flamengo e Fluminense; além do Brasília (DF); Maringá (PR); e Abel Moda Vôlei, de Brusque (SC). Isto é, além dos finalistas mineiros, são cinco times paulistas, dois cariocas, um de Brasília, um paranaense e um catarinense.

Já na competição masculina, Minas Gerais é representada por quatro times. Além dos finalistas Cruzeiro e Itambé Minas, há também o Araguari e o América (de Montes Claros). Somam-se a eles cinco paulistas (Guarulhos, Vôlei Renata, Farma Conde, Sesi e Suzano), além do Blumenau (SC), Brasília (DF) e Rede Cuca, de Fortaleza (CE). 

Logo, o número de clubes mineiros presentes na primeira divisão das ligas não é suficiente para explicar a “hegemonia do pão de queijo”. 

Investimento público

O governo federal tem contemplado a Federação Mineira de Vôlei (FMV) por meio de projetos com o uso da Lei de Incentivo ao Esporte (LIE). O mais recente mostra que a entidade está autorizada a captar recursos federais que totalizam R$ 223.816,53. O valor será destinado à organização de campeonatos regionais para categorias de base, feminino e masculino. O período para captação expira em agosto. 

Outro projeto aprovado consiste na captação de R$ 653.589,63 para realização da Copa Escolar FMV. De acordo com a entidade, o projeto consiste em “fomentar a prática do voleibol em nível escolar, a fim de contribuir para a prática esportiva regular de crianças e adolescentes e consequentemente angariar mais adeptos para a modalidade”. O período para captação vai até novembro. 

Ambos os projetos, porém, tiveram a contemplação anunciada em 2020 e 2021, respectivamente, quando o Esporte não tinha uma pasta exclusiva no Governo Federal, mas sim uma secretaria anexada ao Ministério da Cidadania. Procurada para se manifestar se os valores já foram obtidos e aplicados nas iniciativas propostas, a FMV não se pronunciou. 

Além disso, a federação também executou o Mundial de Clubes 2021, com a estrutura do piso oficial de voleibol, que oferece estruturação para campeonatos e eventos via LIE.

Patrocínios másteres locais

No vôlei, é comum que empresas invistam em contratos que envolvem o nome comercial dos times. Os clubes de Minas Gerais são frequentemente patrocinados por conglomerados, principalmente locais, que investem não só na visibilidade das camisas, mas também no “nome próprio” dos times, o que acaba elevando o valor dos contratos.  

O time do Cruzeiro, por exemplo, é oficialmente Sada Cruzeiro, desde que passou a ser patrocinado pelo Grupo Sada, uma empresa de transporte e logística com sede em Contagem (MG), em 2006. Já o rival Minas Tênis Clube tornou-se Itambé Minas há quatro anos. A cooperativa de laticínios tem sede em Belo Horizonte.

Sem esse tipo de patrocínio, os times de Araguari e Montes Claros terminaram esta temporada na parte inferior da tabela, em 9º e 10º lugar, respectivamente. 

No circuito feminino, o Praia Clube agora é chamado de Dentil Praia Clube. A empresa de produtos dentários é uma subsidiária do Grupo Arcom, que tem sede em Uberlândia, sede do Praia Clube.

Já o time feminino do Minas conta com o apoio da Gerdau Minas. Fundada no Rio Grande do Sul e sediada em São Paulo, a produtora de aço possui braço em Minas Gerais desde 1988, com a aquisição da Usina Barão de Cocais. A empresa, que começou a produzir minério de ferro no estado em 2009, iniciou operações na Usina de Ouro Branco em 2013. O anúncio do patrocínio ao time de Belo Horizonte ocorreu em 2022.

Sair da versão mobile