A eletrizante decisão da Copa do Mundo entre Argentina e França, além de finalmente colocar Lionel Messi entre os três maiores jogadores da história do futebol, consagrou o esporte em sua mais pura arte. O duelo emocionante e completo de reviravoltas que argentinos e franceses protagonizaram é daqueles que ficará nas nossas memórias para sempre.
Das que vivi até hoje, essa foi a maior final de Copa do Mundo que existiu. Até então, a decisão do México 1986, com Argentina e Alemanha, era a decisão mais emocionante de Mundial que eu recordava. A deste domingo (18), no Catar, porém, conseguiu superar totalmente aquela.
O que fizeram Messi, Mbappé e seus companheiros de time foi épico. O futebol em sua mais pura essência. Lances de habilidade, jogadas geniais, variações táticas, imprevisibilidade, emoção. Não faltou absolutamente nada. Até mesmo polêmica com a arbitragem, em um futebol cada vez menos permissivo a isso, teve no 3 a 3 maravilhoso que assistimos.
Como já disse, a partida, no final das contas, foi a celebração da mais pura arte do futebol. E uma espécie de “vingança” da bola contra os maus tratos de seus dirigentes. O espetáculo dentro de campo no Catar foi uma resposta ao absurdo que foi o fato do Mundial ter sido disputado no país do Oriente Médio.
Desde a eleição corrupta de 2010, passando pelo desrespeito aos direitos humanos na construção dos estádios e a repressão a manifestações de torcedores e atletas, o Catar foi o símbolo da ganância e do poder que corrompem a humanidade.
A Fifa e seus dirigentes se venderam para o Catar. Encarnaram a essência do espírito do “topa tudo por dinheiro” que corrompe parte da humanidade desde o princípio. Aceitar realizar o Mundial no país foi um desrespeito à essência do esporte, que é a de um jogo limpo, com regras a serem respeitadas, em que aquele que for melhor tecnicamente vence a disputa.
Desde o começo, não foi isso o que se viu no Catar, o menor país que já abrigou uma Copa. Foi um Mundial que teve de se readaptar totalmente para poder caber dentro da ganância de um ditador e dos dirigentes do futebol.
Desde os primórdios, o esporte flerta perigosamente com o poder e o dinheiro. A corrupção e a ganância estragam a imagem do esporte e afastam consumidores que não se sentem representados em um universo desses. E a escolha do Catar como sede de uma Copa do Mundo foi o ápice de uma Fifa marcada pelo jogo sujo.
O que os jogadores e treinadores protagonizaram neste 18 de dezembro de 2022 foi uma reordenação do jogo. O melhor negócio para o esporte, sempre, é preservar a competição. O 3 a 3 dessa final da Copa do Mundo de 2022 foi uma aula.
Obrigado, Messi, Mbappé e companhia por me fazerem sentir as mesmas emoções do garoto que se apaixonou pelo jogo lá em 1986, vendo Maradona, Matthäus e companhia realizarem uma final de Copa do Mundo eletrizante.
Como diz o mestre Luis Fernando Verissimo, “só o futebol faz eu sentir, aos 80 anos, a mesma coisa de quando eu tinha seis”. Não há túnica catariana ou carne de ouro que pague isso.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte